Não mais musa, não mais, que a Lira tenho
destemperada e a voz enrouquecida,
e não do canto, mas de ver que venho
cantar a gente surda e endurecida.
O favor com que mais se acende o engenho
não no dá a Pátria, não que está metida
no gosto da cobiça e na rudeza
duma austera, apagada e vil tristeza.
E não sei por que influxo de destino
não tem um ledo orgulho e geral gosto,
que os ânimos levanta de contino
a ter para vós, o Rei, que por posto,
olhai que sois (e vede as outras gentes)
Senhor só de vassalos excelentes…
Fazei, Senhor, que nunca, os admirados
alemães, galos, ítalos e ingleses,
possam dizer que são para mandados,
mais que para mandar, os Portugueses.
Mas eu que falo, humilde, baixo e rudo,
de vós não conhecido nem sonhado?
Da boca dos pequenos sei, contudo,
que o louvor sai às vezes acabado.
Luís Vaz de Camões, “Os Lusíadas”, Canto X
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