29.7.04
Estreias
28.7.04
Fogos III
Os campos sujos, rastilho de quase todos os fogos, e o errado planeamento florestal, cada vez mais assente no milagroso eucalipto, em muito contribuem para o desastre. Os proprietários são também responsáveis, assim como já se fazem obras coercivas por decisão das câmaras, o mesmo deviam fazer no que à limpeza dos campos e à realização de aceiros diz respeito. Os proprietários choram dizendo que não têm dinheiro para limpar o mato, mas são os primeiros a correr ao subsídio mesmo que com a falta de limpeza tenham ajudado a arruinar os vizinhos. Não conseguem por mesquinhez compreender que a limpeza custa X, mas se um fogo passar terão prejuízos de 100X, continuando numa mentalidade retrógrada que tanto tem ajudado a arruinar a exploração do espaço rural português.
Os bombeiros, os pobres bombeiros que sempre servem de bode expiatório, seja por demorarem a chegar, seja não saberem combater os fogos, seja por estarem descoordenados, seja por falta de meios. Os bombeiros são talvez a profissão que mais admiro, em especial os voluntários que estão ali a dar a vida – sim, quantos morrem a cada ano que passa – não pelo dinheiro, não por uma carreira, não por promoção social, apenas para nos ajudar, para ajudar um país que não os ajuda, que continua a preferir comprar F16 a comprar mais Cannadair, que prefere metralhadoras, apesar de obsoletas, a mangueiras, que prefere carros topo de gama todos os anos para os directores gerais e em que não há dinheiro para auto-tanques (não, não é uma divagação demagoga de esquerda, é a realidade). Todo o dinheiro seria pouco para pagar um corpo de bombeiros a sério em que, mais do que a (enorme) boa vontade dos bombeiros, os meios fossem pelo menos em metade da qualidade das pessoas. Claro que erram, mas quantas vezes por uma desorganização dos comandos que têm nas mãos ás dezenas de corporações. Continua a ser ridículo que os militares não patrulhem as florestas, não digo apagar os fogos pois isso requer conhecimento e excede as suas competências, mas fazer patrulhas por esse país ajudando a detectar prontamente fogos em vez de brincarem aos tiros nos quartéis fingindo que matam inimigos imaginários com G3 ferrugentas e boas para o caixote do lixo.
Portugal enquanto não tomar os incêndios como a sua guerra e se perder em jogos florais de submarinos e ordenamento selvagem será irremediavelmente um país do terceiro mundo. Fogos sempre houve e continuarão a haver, haja calor e criminosos acendedores, o que podemos e devemos por obrigação moral é fazer com que sejam detectados e apagados de pronto, minorando assim a devastação que por vezes se dá por atrasos de minutos.
27.7.04
Fogos II
No ano passado estava numa quinta cercada por três frentes, que os caprichos dos ventos afastaram, mas que vistas do alto de uma encosta faziam o inferno de Dante parecer uma canção para embalar crianças. Tudo isto enquanto impotentes apenas podíamos retirar as botijas de gás, regar a envolvente da casa e esperar, esperar numa angústia de quem pode de um momento para o outro perder o que uma vida construiu. E aqui todos os valores se misturam, o económico mas também o afectivo das pequenas coisas cercadas pela fome voraz de um fogo com origem sabe-se lá onde.
Foram muitas as histórias de amigos que, no malfadado incêndio na Chamusca que no verão passado em escassas horas cercou a vila, tudo perderam. Também me lembro de quem apenas salvou a casa destruindo um anexo com um tractor – impedindo assim o fogo de alastrar – ajudado por ter uma piscina, mas que viu a casa ficar como que suspensa no campo negro, todo ele consumido, desde as hortas aos arbustos junto à casa.
Chorar de nada vale quando no dia seguinte o que há é que reconstruir, procurar as ajudas que sempre surgem, mobilizar a família e os amigos e olhar de frente, quando um peso nos puxa a cabeça para baixo querendo desanimar e entregar tudo ao inferno que venceu, como quase sempre vence quando usa destes argumentos.
26.7.04
Fogos I
Conversa entre bloggers
- Vou, tem de ser, ainda por cima não tenho portátil para levar comigo.
Uns segundos depois desatámos a rir em simultâneo com o ridículo da pergunta.
Fresco
22.7.04
Pré-época
O Benfica comprou, e comprou, e ainda parece que vai comprar. Apenas saiu Tiago e a equipa caminha para a maravilha habitual, até já Luís Filipe Vieira joga à bola. O treinador escolhido foi Trappatoni, um Jackpot com um treinador simpático e vencedor mas que faz equipas chatas, mas chatas. Claro que é candidato a todas as competições em que joga.
O Sporting, até há dois dias era uma pobre equipa, que não comprava jogadores, que deixava fugir os que lhe interessavam para o Porto, que modestamente seria quanto muito candidata ao terceiro lugar. A SAD era já uma cambada de incompetentes que parecia que andavam a dormir. Em dois dias tudo parece ter mudado, a tal SAD adormecida apareceu com três reforços e parece que ainda não acabou. Hugo Viana apareceu a dizer o que Quaresma devia ter sentido: “para Portugal só o Sporting, o resto foi especulação”. Esperemos que continuem a achar esta, uma equipa de coitadinhos, eu por mim vou comprar outra vez o bilhete de época e depois veremos.
21.7.04
Medo
20.7.04
A/C
Mas ontem, ao fazer uma viagem com um calor insuportável, em que tinha de manter, pelo menos um mínimo, das janelas abertas na auto-estrada e em que o ruído do vento se cruzava com a telefonia em altos berros para que algo fosse audível, aí tive alguma vontade de me auto-martirizar por não ter um carro com ar condicionado. Mas pensei um pouco e imaginei-me com o nariz a pingar, a respirar um ar horroroso, a fumar e deixar o carro numa nuvem espessa. Enfim, se calhar o sofrimento seria igual, mas sinto-me melhor a sofrer sem essa inovação, no meu carro já respeitável de idade (para os padrões actuais, pois para os do meu tempo de criança é ainda uma novidade) do que a utilizar modernices que resolvem uns problemas mas que não nos deixam necessariamente melhores.
Governo
Claro que teria de falar do novo governo numas curtas notas:
Pontos positivos
ESPERANÇA - No primeiro-ministro pela sua dinâmica e coragem, que me levam a acreditar em algumas reformas importantes.
INDEPENDÊNCIA - O elevado número de pessoas com carreiras feitas na sociedade civil. (que obviamente a oposição usou para atacar a sua falta de prática política, se fosse ao contrário seria obviamente um governo carreirista)
QUALIDADE - A qualidade de boa parte dos nomes (surpreendendo que achava que seria um governo de yes-men).
FINANÇAS - Bagão Félix pela sua seriedade, competência e preocupação social.
CULTURA - Maria João Bustorff que, pelo seu trabalho numa importante fundação, pode dar mais esperança ao património português (e talvez menos a filmes feitos para o umbigo e que ninguém vê)
Pontos negativos
MEDO - O primeiro-ministro pela sua inconsequência e irresponsabilidade que me levam a ter algum medo da sua actuação.
PERIGO - A delirante nomeação de Nobre Guedes para o ambiente.
DEPRESSÃO - Com a divisão entre Ordenamento do Território e Planeamento será de esperar o pior para este país já desordenado.
ESCURO - José Luís Arnaud nas Cidades, depois da recolha de fundos nas construtoras para o partido, agora a distribuição de fundos para as Câmaras (onde tanto ganham as construtoras).
CONFUSÃO - A incompreensível mudança de nomes nas pastas, que vai levar meses até que tudo esteja organizado, uma irresponsabilidade de quem apenas tem 2 anos para governar.
CAPITAL - O Trabalho no Ministério da Economia, numa medida de ultra-liberalismo com que não posso concordar.
16.7.04
15.7.04
Curtas
A escolha de Bagão Félix para Ministro das Finanças foi veementemente criticada por Carvalho da Silva, óptimo sinal para ter esperança no seu trabalho.
Televisão
14.7.04
PS
P.S. Terá António José Seguro a distinta lata de se candidatar?
13.7.04
Governo
Sobre Santana começa por se falar de grandes nomes como Ernâni Lopes, o messiânico António Borges ou António Lobo Xavier. Esperemos que ninguém comece a chamar o futuro governo de "dream-time", é que os resultados dos últimos anos do Benfica estiveram longe de serem bons.
12.7.04
Decisão
9.7.04
Preocupado
Centrão
8.7.04
A importância de se chamar Europa
No Euro o país saiu à rua, inundando-se de bandeiras portuguesas entre as quais o único azul descortinável era o de algumas bandeiras monárquicas que surgiram de braço dado com o encarnado e verde. Bandeiras da Europa nem sinal, nem umas fugazes estrelinhas surgiram senão em alinhamentos oficiais de bandeiras.
Durão achou a Europa mais importante, os portugueses não. Talvez o Euro tenha sido padrasto para os europeístas, demonstrando que ainda existimos como país. Assim o foi para Durão, após o fumo inicial que cobriu a sua saída com uma suposta aura de orgulho nacional, agora todos começamos a estar certos do egoísmo da decisão, apenas tomada por vaidades e interesses pessoais.
Ainda há quem argumente com o que Portugal irá ganhar com o novo cargo de Durão, para eles uma pergunta, ganhou algo a Itália nos últimos anos por Romano Prodi ser o Presidente da Comissão Europeia? Que Europa será a nossa em que os cargos de decisão não são neutrais em relação aos países? Durão tem a obrigação de ser o que nós exigimos que sejam os outros comissários: isento. Não acreditar nisto – e eu não digo que acredite – é não acreditar no funcionamento da Europa – que eu de facto não acredito.
Como português, acuso Durão de falta de patriotismo e de não olhar o interesse nacional, apenas desculpável se, atacado por uma crise de humildade, achasse que o seu trabalho estava a ser mau e que o melhor era ser substituído – ou seja remodelado. Claro que não acredito nesta versão até pelos emproados discursos que se seguiram.
Posso até pensar que para o país será melhor que ele vá para Bruxelas, não pelo que poderá fazer lá, mas pelo que não irá fazer cá. Talvez ganhemos um melhor governo, mas, em abstracto, a fuga foi anti-patriótica demonstrando que já há quem ponha a Europa à frente de Portugal e isso é muito, mas muito, perigoso.
7.7.04
De besta a bestial
Hoje, que Santana como primeiro-ministro é uma possibilidade, o que dizem estas pessoas? Que o presidente não pode chamar um novo governo sem eleições porque se porá em causa a política económica do governo. Com Santana virá o fim da contenção, contra a qual gritaram durante meses a fio, e aumentará o investimento público.
Extraordinário como alguém passa de besta a bestial sem mudar uma linha na postura e pelos mesmos motivos.
P.S. Será que ainda se lembram do famoso choque fiscal que fazia parte do programa de Governo?
De bestial a besta
6.7.04
5.7.04
Pátria
Está na rua porquê? O que é que ganhámos?
Ganhámos uma pátria.
Passe o exagero, porque pátria já temos há muito tempo, o Euro devolveu aos portugueses esse conceito de patriotismo que parecia estar apenas no país aqui ao lado.
A absurda, e abundante, confusão entre patriotismo e nacionalismo pode ser agora destrinçada, podemos todos dizer de mão no peito que somos patriotas sem que logo venham os guardiões da liberdade de dedo apontado acusando-nos de fascismo.
Obrigado
A Scolari por ter feito uma equipa de um conjunto de jogadores.
Aos organizadores do Euro por transformarem um país desorganizado no responsável pelo melhor Euro de sempre com uma impecável festa de quase um mês.
Aos portugueses por me terem feito de novo acreditar que podemos continuar um país apesar da Europa.
Selecção
Quem jogou foram os jogadores de Portugal, sejam de que clube forem jogaram por Portugal, não jogaram por Mourinho, Pinto da Costa, Dias da Cunha ou Vieira. Por isso se uniu o país. Por isso apenas uma minoria de fanáticos pensa assim. Por isso foi bom este europeu.
Política
1.7.04
Democracia relativa
Os laranjas que se indignam com Santana não farão parte da lista em congresso aprovada na qual ele ficou número 2 de Durão?
Consequências
Uma preguiça desmesurada com um tentáculo gigante que me tenta puxar para a praia.
Uma segura noção de que os portugueses estão possuídos por um vírus de patriotismo inimaginável, e a muitos difícil de engolir.
Uma certeza que Figo é um dos melhores do mundo por muito que haja quem teime em não concordar.
Um agradecimento a Scolari que realmente só pode ter muita sorte ao ganhar tanta vez.
Um enorme gozo em poder entrar na festa louca em que este país se entrou.
Um total esquecimento, até há uns minutos, de que não temos primeiro-ministro e governo.