30.5.08

Desabafo snob

O berço não se escolhe e a educação não se encomenda. Após ver o debate de ontem na Assembleia e o que disseram Pinto de Sousa, Louça ou Alberto Martins, fica a demonstração cabal desta teoria. O brejeiro de Alfama tem graça e genuinidade, mas ver estalar o verniz a gente que se tem em tão alta conta mostra que por baixo de camadas do dito surge sempre a unha, e dessas nem todas servem para tocar guitarra.

28.5.08

Telejornal (pouco) imaginário - excerto

O primeiro a acordar foi Petit, que de imediato se dirigiu à casa de banho para a sua higiene matinal. (…) Quaresma despertou com mau feitio e de imediato insultou Simão por este o haver acordado. (…) Bruno Alves desceu um pouco cabisbaixo, algo preocupado com ligeiros problemas intestinais revelados na primeira ida à retrete do dia. (…)
O pequeno-almoço consiste, hoje, em sumo natural de laranja do oeste, leite meio-gordo “Mimosa”, chá “Lipton” rótulo amarelo, merendas frescas, pão de centeio, pão de sementes com Ómega 3, croissants, manteiga sem sal “Primor”, compotas “Casa de Mateus” – morango, framboesa e pêssego –, queijo flamengo “Terra Nostra”, queijinhos frescos, requeijão e cereais muesli. Está também à disposição dos jogadores uma zona de buffet quente com ovos mexidos, bacon e salsichas.
Da refeição da manhã destaca-se o apetite de Miguel Veloso, de pronto refreado por alguns colegas que lhe lembraram o estado obeso em já esteve durante a presente época. Ricardo, talvez devido aos nervos de poder não ser titular, denota uma estranha falta de apetite. Quaresma foi o último a descer para o pequeno-almoço, entrando sem dirigir a palavra a ninguém. Petit ainda de preparava para se meter com o seu mau feitio quando foi refreado por Moutinho, que lhe lembrou o facto de ontem Quaresma ter atirado com um prato de pães-de-leite para cima de Nani.
A gasolina subiu, uma vez mais, ontem.
Última hora: Hugo Almeida jogou na equipa dos coletes no treino de hoje da selecção.

27.5.08

Série B

Zapping. Canal Hollywood. Um jogador conta cartas e ganha num casino. Uma mulher avança para cantar no palco de uma marisqueira de aspecto vulgar. Parece a voz de Mísia no corpo de uma mui agradável morena que após cantar em português fala em americano fluente. O jogador é inglês. Estamos em New Bradford. A mulher é da Graciosa onde ele esteve aos 18 anos. Descobrimos que há azeite Galo made in Graciosa, aliás o único azeite da ilha. Mísia volta a cantar. A mulher é viúva de pescador e gosta de peixe. Paixão e traição. A filha quer ser jogadora e aprender com o namorado da mãe. Há ainda a mãe do falecido que, apesar dos sessenta anos, acaba apaixonada por um motoqueiro de 200 quilos e barba duvidosa. Pelo meio, nas festas de S. Pedro, dançam uma música portuguesa típica, curiosamente ao estilo samba.
É tão bom ver um filmezinho mau que é quase - muito quase, é certo - bom, um simpático série B com mulheres bonitas, pois além das portuguesas, mãe e filha, aparece ainda a belíssima Theresa Russel num papel secundário.

Perplexidade

Um destes dias ainda irei perceber se é por poupança ou refinado sadismo que a FNAC do Chiado persiste em ter uma temperatura insustentável que nos remete para distantes saunas finlandesas.

Notícia com palavra nova

A sonda Phoenix “amarteou”. A coisa parece muito deserta. Esperemos pelo flautista que chame as criaturas das profundezas do planeta.

26.5.08

Época de acasalamento

(Título roubado a Wodehouse)
O acasalamento de outros vai sendo motivo de festa e, porque não, possível ocasião de outros acasalamentos. Este final de semana abriu a minha época anual com um casamento que ficou aquém neste aspecto: pouca população feminina que não a de homens pendurados nos braços ou a controlada por olhares perscrutadores de copo na mão encostados ao bar. Nem jovens primas desocupadas, nem divorciadas frescas, nem tias “balzaquianas”. Fraca escolha. Os noivos pairavam alegres como devem, animando a pista quando esvaziava e distribuindo cumprimentos e sorrisos não fora alguém pensar que já estavam arrependidos do acto consumado. O dia a seguir comprovou que as bebidas não tinham chegado via Sacavém, o que já não vai sendo má notícia. O fígado sobreviveu a uma sôfrega e gulosa prova de doces de ovos capaz de enjoar amadores de doces à séria. Passou o primeiro de uma temporada preenchida. A ver como serão os outros acasalamentos e que, de preferência, sejam mais potenciadores de acasalamentos ou afins. A bem dos solteiros.

(Des)igualdades

A Europa veio anunciar o óbvio: Portugal é o país com mais desigualdade social da União Europeia, sendo esta até superior aos EUA. A importância da notícia não advém da sua novidade, mas sim de vir da Europa, aparentemente a única voz escutada pelo obediente governo Pinto de Sousa. Num país em que o governador do Banco de Portugal ganha mais do que o seu homónimo do Banco Federal Americano, em que os gestores públicos têm ordenados e reformas obscenas, em que os jovens trabalham na maioria a precários recibos verdes e em que há demasiada gente a viver abaixo da miséria e a passar real fome, é evidente que algo está mal e desigual. Não deveriam ser precisos relatórios europeus para percebermos a gravidade da situação e para agir, mas tendo nós um governo mais preocupado em mandar o fumadores para a rua – excepto os membros do governo –, em permitir o aborto livre, em assinar tratados europeus à revelia do povo ou a perder tempo com (des)acordos ortográficos, talvez seja preciso que venham palavras do exterior para serem escutadas por quem nos (des)governa.

23.5.08

Coisas da televisão

A obsessão das televisões, em particular da TVI, em (per)seguir a selecção nacional está a atingir níveis muito para lá dos limites da sanidade. Pouco falta para estarem jornalistas dentro dos quartos a acompanharem os jogadores à casa de banho de papel higiénico na mão. A quantidade de minutos gastos por telejornal chegaria, ao fim do dia, para projectar o “Le Soulier de Satin” de Manoel de Oliveira na versão integral de cerca de sete horas. Entre ver jogadores de futebol em treino, apoiados por Roberto Leal, e os planos fixos de Oliveira acho a segunda opção esteticamente bem mais interessante apesar de igualmente chata.

A notícia

A noite de copos arrastara-se até à quase manhã. A passagem no quiosque já aberto mostrou os jornais do dia já chegados. Gosto sempre muito de voltar a casa de jornal debaixo do braço, pois permite uma manhã mais arrastada a entrar pela tarde por entre um artigo de opinião mais ou menos interessante. Optei pelo “Público”, sem motivos em particular, e passei os olhos pelo que se passava no mundo. Uma fotografia chamou a minha atenção e li a notícia abaixo. Não era amigo de Torcato Sepúlveda, mas depois de anos em que me habituei a ler os seus escritos, desde os tempos do Indy até à NS, tive o gosto de ter três ou quatro conversas com ele nas intermináveis tertúlias do Snob. Era um jornalista à antiga, dos tempos em que este era feito com frontalidade, independência e boa escrita, homem de convicções firmes e firme na forma de as expor. A sua morte fez-me impressão, a morte faz sempre impressão, mas será diferente entrar de novo no Snob e não encontrar essa figura sem tempo sentada tranquilamente a ler e a fumar um cigarro ou projectando a sua voz potente em discussões viscerais.

21.5.08

Diálogos Imaginários

– Charles, continuo a desesperar com o tempo. Já nem me deves poder ouvir.
– Tenha calma, menino. Compreendo o seu desespero.
– Eu sei, Charles, mas já é demais. Os casacos até já foram postos de parte, mas esta coisa de continuar com camisolas de lã sem as conseguir substituir pelo algodão, isto quase no fim de Maio, é de levar à loucura a alma mais sã.
– Pois é, menino, o tempo resolveu andar a brincar connosco. Quem diria que S. Pedro tinha tanto sentido de humor.

20.5.08

Coisas da música

Lá fora cinza, plúmbeo, o escuro rasgado por ocasionais raios de um sol escondido. Aqui por dentro o som é de Thelonius Monk, na mistura do trompete mágico de Chet Baker com a música dos Gotan Project.

Coisas de filmes

Manoel de Oliveira recebeu ontem uma Palma de Ouro do Festival de Cannes pela sua carreira. O “meu” cinema não passa por Oliveira, mas reconheço a sua qualidade e aceito a sua coerência. Aliás, assim não fosse e a sua obra não seria reconhecido internacionalmente. O problema em Portugal é que quase todos os realizadores pretendem ser um “novo Oliveira” – com toques de modernidade, um perlimpimpim de mais introspecção e uns brilhos baços de neo-neo-realismo – contudo sem o talento de Oliveira. A consequência é que o cinema português se tornou numa total inexistência, pontuado por esparsos e escassos filmes visíveis. O original sempre foi melhor do que a imitação e Oliveira não é, de facto, imitável, até pelas idiossincrasias da sua vida e da sua carreira.

19.5.08

Haja algo

Nestes tempos em que moda intelectual é a de destilar o nojo sobre o futebol, devo dizer que momentos como a vitória de ontem no Jamor me ajudam a encarar melhor a vida num país cada vez menos habitável. As hipocrisias desprezíveis do Sousa, um parlamento que aprova um “aborto ortográfico”, uma economia teimosamente rasteira, um tratado europeu assinado às escondidas do povo, uma oposição irrelevante e sem ideias, e um sem fim de horrores que aqui poderia continuar a desfilar. No meio disto, que nos valha o futebol.

16.5.08

Atrasos

Há bom tempo que o blog da revista Ler já devia estar aqui ao lado nos usuais. Pelo blog e pela revista. O blog até antecedeu o simpático lançamento da revista que está muito bonita, equilibrada e com excelentes conteúdos. A nova direcção de Francisco José Viegas promete que o trabalho terá continuação e que a revista será de compra regular e obrigatória. Com atraso, rectificação feita.

Always look on the bright side of life

A feira do livro aparentemente vai ser uma miragem. A coisa é má e demonstra a demasiada mesquinhez de muita gente, nem me interessa quem. Agradece a minha depauperada bolsa por não ser exposta à anual tentação e à sempre eterna fraqueza humana. Perde a minha cultura, ganha a minha finança.

Imagens

Jogging em Caracas. Ruas fechadas. Segurança reforçada. O derradeiro fumo de tabaco sai dos pulmões de José por entre a inalação do fumo do petróleo queimado pelo povo venezuelano. A saúde volta a ser a imagem de marca do povo da West-Coast, aqui na pessoa do seu saudável primeiro-ministro.

15.5.08

O polícia

O Nunes da ASAE já demonstrou que está a fazer esforços para ser digno de utilizar o epíteto de crápula. Aquela lista de objectivos que primeiro era mentira, depois nunca tinha sido vista, depois afinal existe e era oficiosa, e no final percebemos que era mesmo uma definição de objectivos em função do número de multas, é bom exemplo do funcionamento desta polícia de costumes. Portugal está cada vez mais um local pouco frequentável, governado por gente inenarrável que ainda irá demorar muitos anos até compreender o significado da palavra liberdade.

Pergunta do dia

Onde está o Gremlin anti-fumadores, a.k.a. Francisco George, agora que o primeiro-ministro foi apanhado a fumar? Com medo de falar demais e perder a prebenda?

O fumo do Sousa

O nosso primeiro-ministro já veio ontem falar sobre os seus cigarros, mas o que disse? Pediu desculpas e remeteu a questão para o desconhecimento sobre a legalidade do acto.
Já vi hossanas ao pedido de desculpa, mas, pergunto eu, o que queriam que o homem fizesse? Desmentir a restante comitiva? Dizer que fez muito bem em fumar num espaço fechado depois de proclamar uma lei que o proibia? Sinceramente há desculpas que não são uma acção, são uma obrigação, e esta era uma óbvia obrigação de um primeiro-ministro que propala a saúde fazendo jogging por esse mundo fora e aprovando leis radicais anti-fumo.
Como neste país os valores e a moral são algo de insignificante, a discussão sobre o fumo de Sousa já anda, como não poderia deixar de ser, no campo legal. Jorge Miranda e Vital Moreira já se pronunciaram sobre o assunto e esta vai ser, já se percebeu, a via por onde a comunicação social vai conduzir o problema. Uma vez mais vão atrás do caminho escolhido por Sousa, pois vai ser um caminho complexo, cheio de pareceres e de contraditórios, que vai ignorar a questão mais importante que é moral. Lembra a questão da putativa licenciatura, nunca esclarecida, mas em que a questão foi empurrada para as formalidades legais de mais difícil prova. O grave do acto de Sousa não é saber se infringiu a lei, é simplesmente ter a distinta lata de fazer aprovar uma “moderna” lei fundamentalista que restringe ao máximo o direito dos não fumadores de fumar em espaços públicos e depois achar, e só achar já é muito grave, que pode fumar num avião fretado pelo Estado Português para transportar uma numerosa comitiva de convidados.
Ainda fica aquela frase final sobre o deixar de fumar. Típica do nosso Sousa, esta desprezível tirada de marketing político, para tentar sair por cima de uma situação de onde sai muito mal visto na fotografia, redunda numa canalhice que faz do povo parvo e tenta que o mesmo o veja como um coitadinho.
A postura ética e moral de Sousa volta a estar em causa, mas isso, neste país de imprensa pouco livre – que saudades de “O Independente” que foi a leilão na semana passada – vai passar ao lado da polémica, pois o importante vão ser, como sempre, os legalismos e os formalismos.

14.5.08

Mundo de merda

O regime dos generais continua no poder na Birmânia. Haverá palavras que cheguem para descrever o nojo que tem sido a postura destes criminosos? O mundo assiste impávido e sereno, a bem da diplomacia, enquanto centenas de milhares de pessoas morrem. Sic transit gloria mundi.

Há moralidade, mas só comem alguns

Ao tomar conhecimento dos acontecimentos em redor da viagem de Pinto de Sousa e da comitiva que o acompanha à Venezuela, fiquei muito preocupado com o nosso primeiro-ministro. Depois de fazer aprovar uma radical lei anti-fumo, com a justificação que era intolerável para os não fumadores a presença em ambientes com fumo, Pinto de Sousa e Manuel Pinho brindaram os restantes passageiros do voo com destino a Caracas com o fumo dos seus cigarros. Inveja de fumar num avião? Também, é certo, mas acima de tudo a preocupação com a sanidade mental de um primeiro-ministro na aparência tão preocupado com a saúde dos portugueses – lembro a lei anti-fumo, a obsessão com o jogging e a ASAE – mas que na primeira oportunidade aproveita para atentar contra a saúde da nata dos empresários portugueses e dos seus colegas de governo. Será a técnica do eucalipto a tentar secar, vulgo matar, tudo à sua volta?

13.5.08

Não será demais?

Isto está mesmo tudo demente ou passa por Portugal uma peste pior que a negra. Graças à comunicação social cheguei a essa pérola da pedagogia moderna que é o site, da responsabilidade do Instituto da Droga e Toxicodependência (IDT), “Tu, alinhas?”, dirigido ao público infanto-juvenil.
Aconselho percorrerem o Dicionário de Calão, de onde me atrevo a extrair alguns exemplos, ao estilo “best of”, devidamente comentados (a itálico):

Algodão - Algodão utilizado como filtro na preparação da dose injectável de droga. A partir de um algodão usado pode fazer-se uma “lavagem” e recuperar assim resíduos para uma nova dose (filtro).
O detalhe é essencial, não vão as crianças achar que o algodão só serve para mergulhar em água oxigenada e desinfectar feridas.

Bafinho - Heroína fumada.
Gosto do termo carinhoso, soa bem!

Base - Cocaína pronta para fumar. Mistura de cocaína com bicarbonato de sódio ou amoníaco e água. É aquecida e posteriormente arrefecida. Por filtragem obtém-se cristais, pedrinha branca pronta para snifar na caneca ou na prata com uma nota enrolada.
Fantástico o que uma pessoa aprende. Não sei se isto tem o patrocínio de uma marca de laboratórios para criança, mas lá que está bem descrito, isso está.

Betinho - Aquele que não se droga. Conservador e desinteressante.
Gosto da forma como está dito. Para o IDT o “betinho” é mesmo um marginal.

Bolha - O aquecimento da heroína transforma o pó em líquido cujo fumo será inalado. “Olha a bolha” expressão irónica reveladora do fascínio que o brilho dessa bolha exerce junto dos heroinómanos, sedução e atracção “irresistíveis”.
A subtileza das aspas é suficiente para as crianças perceberem a ironia da palavra “irresistíveis”. Num país em que elas mal sabem ler, acho que já as vejo a cantar “Olha a bola, Manel” enquanto, fascinadas, fazem bolhas irresistíveis de heroína.

Careta - Aquele que não se droga e, por isto é considerado conversador, desprezível e desinteressante.
Outro marginal, assim como o betinho. Não se poderá exterminá-los, a esses seres hediondos.

Curtir - Sentir o prazer da droga. Saborear um acontecimento agradável. Ter prazer. O prazer da droga como um acontecimento agradável.
Sem comentários.

Dar de pino - Sair do local. Sair de casa. Desabrochar.
Isto deve ter o apoio de muitos pais fartos de aturar adolescentes mal educados, irão por certo aplaudir o empenho do estado em os ajudar a ver-se livres deles.

Desbroncar - Sair de casa. Clarificar a cena.
Seria mais interessante ensinar a clarificar manteiga do que a “cena”, além de que parece haver uma obsessão pelas fugas de casa das crianças.

Destilar - Processo de preparação de uma substância para injectar, por via endovenosa, a partir de comprimidos ou supositórios. Processo de preparação de comprimidos ou supositórios para os injectar.
Introdução à Farmácia – parte I

Fazer um leitor - Roubar um leitor de cassetes/CD?s de um automóvel.
Estímulo à economia paralela. Não sei se o ministro Manuel Pinho apreciará esta entrada.

Fazer uma lavagem - Utilizar um algodão já usado, sem juntar mais droga, para aproveitar o que terá ficado retido nele, e injectar esse caldo. Aproveitar algodão já usado num caldo anterior, sem juntar mais droga, para extrair esses restos e injectar novo caldo.
Em tempos de carestia é sempre importante poupar.

Febre de limão - Síndroma febril, passageiro, atribuído pelos toxicodependentes à utilização de limões deteriorados na preparação de um “chuto” de heroína.
Terrível síndroma, por certo devido ao excesso de fertilizantes nos limoeiros. O ministro da agricultura devia tomar uma posição sobre isto.

Garrote - Apertar o braço fazendo sobressair as veias, afim de dar o “chuto”. Cinto para apertar o braço fazendo sobressair as veias para se picar.
E eles coitados, a pensar que o que era suposto chutarem era a bola.

Lavagem - Recuperar restos de heroína no algodão de lavagem e na seringa para injectar novamente.
De novo a preocupação com a poupança. Bravo!

Queca - Ter relações sexuais.
Pois com onze anos está muito bem. Que pena no meu tempo isso não acontecer.

Queimar - Aquecer com o isqueiro a heroína ou cocaína, até fazer a bolha brilhante, cativante e vaporosa cujo fumo será inalado com a ajuda de uma nota enrolada em tubo.
“Olha a bolha, Manel. Olha a bolha, Manel.”

Rush - Nitrato de Amyl.
Farmacopeia II

Shoot - Aspiração nasal de cocaína, heroína, colas ou solventes.
Mães deste país, guardem bem as UHU e as Araldite.

Speed ball - Mistura de uma droga estimulante (cocaína) com uma droga sedativa (heroína), usada por via endovenosa.
Inglês técnico I

Posto isto irei frenético telefonar às minhas irmãs, pois acho essencial que os meus sobrinhos percorram com afincado cuidado este site de modo a ficarem com um Phd em drogas, essencial para a sua vida futura.
O fantástico é que esta gente paga por nós, pois trabalha num instituto público, perde o seu tempo a criar um site que, no fundo, ensina todo o mundo das drogas às crianças, com pormenores elaborados e rebuscados que nem no Casal Ventoso serão do conhecimento de todos.
No fim uma questão: e não se pode espancá-los, já que por certo não serão despedidos?

12.5.08

Coisas dos Trinta

Isto de nos esquecermos que o tempo vai passando cruelmente por nós traz consequências tão graves como um Domingo passado absurdamente na estupidificação do sofá, com a esperança que a imobilidade nos traga a boa disposição que abandonou todo o nosso corpo. As boas noites têm muitas vezes este condão de tentar estragar os dias seguintes, momento em que percebemos que o corpo não acompanha como devia os devaneios do espírito.

9.5.08

Coisas da pintura

O ventanal que está em Lisboa não deixa abrir janelas. Aproveitemos as que foram abertas pela pintura de Juan Gris.


“Janela aberta”, Juan Gris

8.5.08

Coisas

Por vezes perdemo-nos em pensamentos inesperadamente românticos. O melhor mesmo é ouvir a música adequada e esperar com optimismo a continuação do dia, ou da semana, ou do mês.


A música é de Angelo Badalamenti, a letra de David Lynch, a voz de Julie Cruise e o álbum é o fabuloso “Floating into the night”.

“Rockin´back inside your heart”.

Tell your heart that I'm the one
Tell your heart it's me

I want you
Rockin' back inside my heart

Shadow in my house
The man he has brown eyes
She'll never go to Hollywood
Love moves me

I want you
Rockin' back inside my heart

Tell your heart, you make me cry
Tell your heart, don't let me die

I want you
Rockin' back inside my heart

Shadow in my house
The man he has brown eyes
She'll never go to Hollywood
Love moves me

I want you
Rockin' back inside my heart
She'll never go to Hollywood.

Do you remember our picnic lunch?
We both went up to the lake
And then we walked among the pines
The birds sang out a song for us
We had a fire when we came back
And your smile was beautiful
You touched my cheek and you kissed me

7.5.08

Diálogos Imaginários

– Charles, já é demais. Hoje tive de ir buscar outra vez o impermeável.
– Pois é, menino, no ano passado queixava-se que não houve primavera, este ano parece querer o verão antecipado.
– Charles, acho isso uma maldade, só queria dias de sol primaveril a inundar a casa com a alegria da luz.
– O que lhe falta é ler boa poesia, talvez amenize o problema. Whitman pode ser uma boa escolha.
– Talvez tenhas razão, Charles. Como sempre acho que tens razão.

Ideias

Há umas semanas fui desafiado a comparecer a uma sessão de apresentação do novo Movimento Esperança Portugal. Foi com interesse que me desloquei a casa de um simpático casal conhecido para ouvir Rui Marques, o guru de um projecto que se dizia de cidadania e ideias e não de individualidades. O mais consistente que vislumbrei foi um agradável bolo de chocolate acompanhado por chá verde, porque o restante, as ideias e os projectos apresentados, foi um vazio profundo como o mar.
A não campanha de Manuela Ferreira Leite faz-me pensar se, caso perca as directas, o seu destino não será o MEP. A juntar a um movimento sem ideias, nada melhor que a política da ideia única, até porque a respeitabilidade cai sempre bem a um partido em formação.

Aplausos de pé

“Em conferência realizada em Lisboa, Bob Geldof acusou o regime angolano de ser gerido por criminosos.”
Num país em se tolera tudo a José Eduardo dos Santos, um dos grandes criminosos que este mundo gerou, haja alguém que venha chamar os bois pelos nomes.

5.5.08

Laranjas

Pedro Passo Coelho parece estar a fazer um esforço para trazer uma linguagem nova e algumas, imagine-se, ideias, expostas nesta entrevista ao Correio da Manhã. Numa eleição em que concorre contra a candidata da ideia única – a respeitabilidade – os resultados mostrarão em estado está o PSD, pois é triste se chegar ao ponto de que o mais importante valor a apresentar seja este. Os grandes partidos não têm de demonstrar que são respeitáveis, deveria ser inato, estas provas são para os pequenos partidos que delas necessitam para um dia poderem ser grandes, ou pelo menos maiores.

Manifesto

Pela minha pátria, que é a minha língua, é imperioso assinar o manifesto contra o acordo ortográfico.