26.6.06

Futebol e Touros

O jogo de ontem assemelhou-se a uma corrida de Miuras ou Vitorinos: o interesse não foi a arte pela arte, o interesse estava na batalha “de morte” entre os oponentes, ambos desejosos de ferir. Estas ganadarias são famosas pela sua ferocidade, pelo seu perigo, por dificultarem em muito a tarefa dos toureiros. São touros imponentes e de génio, que não permitem erros, logo respondendo com investidas para colher, para ferir, para matar. As corridas com estas ganadarias estão sempre esgotadas, por público ávido de seriedade nos touros, de combates mais iguais. Poucas vezes a arte é perfeita, pois os touros não o permitem, mas o domínio do toureiro sobre o touro toma predominância sobre os alardes. São corridas de emoção a que só alguns toureiros comparecem, pois o medo muito pode.
Ontem, lembrei-me destes touros durante o jogo, que não foi uma obra de arte, mas foi emotivo, sério, duro, com muito interesse. Portugal enfrentou ontem um Miura de génio, bravo e pouco nobre, com investidas ordinárias e perigosas. Portugal sobreviveu e conseguiu uma faena plena de emoção e entrega, de coragem. Qual toureiro corajoso enfrentou de peito feito o animal, dando-lhe a lide possível depois de colhidas graves (a lesão de Ronaldo), de erros imperdoáveis (expulsão de Costinha) e da incompreensão do director de corrida (expulsão de Deco). Após a colhida foi difícil procurar a arte, pura e espectacular, mas foram cingidas as verónicas e sérios e verdadeiros os passes naturais. Houve verdade e esforço, e, a espaços, pormenores de arte pura conseguidos em momentos de maior domínio. Com o aproximar do final, touro e toureiro perderam força, e já eram mais soltos os movimentos, já as defesas estavam mais abertas, e mais perto estiveram ambos de ferir o oponente. Foi uma batalha de morte em que Portugal venceu, como vencem os toureiros – os grandes – que conseguem triunfar apesar dos touros não colaborarem.

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