A anunciada confissão de José Esteves pouco adianta sobre o caso Camarate. Há muitos anos que é definitiva a sensação de que tudo foi feito para que nada fosse descoberto. Teoria de conspiração? Não o creio, são demasiados os indícios de obstrução para que sejam apenas uma coincidência usada para reclamar justiça. Portugal não é um país justo e, infelizmente, o problema não vem de hoje, vem de há mais de vinte anos. As inúmeras comissões de inquérito terão sido um part-time para deputados com pouco para fazer. Os responsáveis serão uma vez mais um grupo de desconhecidos e, como diz o povo, a culpa morre solteira. Fica a óbvia revolta por viver num país assim, em que a impunidade alastra dos criminosos de facto até aos criminosos por conivência que nos governaram e governam.
29.11.06
28.11.06
Colecções
A colecção de Manuel de Brito (o falecido dono da Galeria 111) vai estar exposta ao público no Palácio Anjos em Algés. A família, herdeira da colecção, cedeu a mesma ao município de Oeiras por um período renovável de onze anos. O projecto e as obras de adaptação do palácio foram da responsabilidade de autarquia. Será impressão minha ou detecto alguma (saudável) diferença em relação à colecção Berardo?
24.11.06
Dia Imaginário
Arrasto-me até ao armário onde desencanto uma mantinha de lã. Corro à cozinha onde a água está quase a ferver, e deixo-a cair suavemente para dentro de um bule, previamente escaldado, sobre um infusor com chá verde. Transporto com cuidado o tabuleiro até uma pequena mesa ao lado do confortável sofá. Ponho a tocar Sinatra, com a orquestra de Tommy Dorsey, e sento-me resolutamente, sem intenções de me levantar, com um livro de Waugh ao lado. À frente o fogo consome a lenha na lareira. Chega Charles e pergunta o que quero para o lanche e o jantar, sendo a minha resposta vaga e desinteressada. Hoje, o que interessa mesmo é aproveitar o temporal para me recolher na minha cápsula, Charles sabe como a tornar cómoda até ao limite do insuportável.
23.11.06
Tarde Em Itapuã
Para não esquecer a música muito cá de casa, aqui vai Vinicius de Moraes em concerto com Miucha, Tom Jobim e Toquinho. Apesar de estar a ser filmado para a televisão, a ideia de uma informal noite entre amigos está presente na garrafa de Whisky que se vai esvaziando ao ritmo da Bossa Nova. Além de um grande poeta, que bela companhia para uma noite de copos seria Vinicius.
22.11.06
CCB
Entra a Colecção Berardo, após infame e ruinoso contrato assinado pelo Estado, e sai a Festa da Música por falta de verba. Será mesmo necessário comentar?
21.11.06
Coisas Divertidas
Apesar de ser “intelectualmente incorrecto”, confesso que ontem fui assistir a um concerto do José Cid no Casino de Lisboa. Mais incorrecto ainda será dizer que foi um óptimo concerto e que me diverti como em muito poucos concertos que me lembre. Para além da qualidade de algumas músicas – sim, não é erro, acho que são mesmo boas e não falo, como é óbvio, do “Macaco gosta de banana” nem das “Favas com chouriço” – é sempre divertido estar num concerto em que o público – que atravessava gerações e classes sociais – conhecia e cantava todas as músicas, como se as mesmas fizessem – e se calhar até fazem – parte das suas vidas. Eu gostei e diverti-me, e ponto.
The Departed – Entre Inimigos
Por estas bandas gostou-se muito do último Scorsese, The Departed – Entre Inimigos, confirmando que há realizadores que não sabem fazer maus filmes e que, de uma maneira geral, teimam em os fazer excelentes. Tudo aquilo em que Scorsese é mestre está presente neste filme: argumento sólido, realização sublime, montagem sem erros, música que é parte integrante das imagens (belíssima versão de “Confortably Numb” cantada por Roger Waters e Van Morrison.). Essencial ao brilhante resultado final é também o trabalho dos actores que, neste caso, está ao nível da realização: Leonardo Di Caprio está magnífico e poderoso, com uma contenção sempre pronta a explodir que lembra em muito o James Dean de “Fúria de Viver”; Jack Nicholson constrói mais um momento vintage, em que não cede, como por vezes já o fez, ao overacting e domina o filme do princípio ao fim; Mark Whalberg é perfeito num pequeno, mas delicioso e importante, papel secundário; e no meio de tantos homens surge Vera Farmiga, com uma serenidade que escorre dos seus olhos cor de água e inunda todo o filme, representando alguma normalidade no meio de tanto desequilíbrio e violência. A sua personagem é uma réstia de bom senso num mundo alucinado e é elemento chave para a compreensão de toda a densidade emocional que Scorsese apresenta, sem ceder, como é seu hábito, a moralismos fáceis.
Agradecimentos
Ao Pedro Sette Câmara que fez, n’ “O Indivíduo”, o primeiro link internacional, via Brasil, para este blog.
20.11.06
Lisboa
As comadres zangaram-se em Lisboa e a coligação foi desfeita. Os motivos foram os melhores, ou seja, desavenças em nomeações para uns tachos quaisquer. Será preciso qualificar esta gente? Carmona – ou bastião da moralidade, como se apresentou nas eleições –parece que afinal é apenas uma marioneta do aparelho do PSD que, estando fora do governo, parece ter dificuldade em colocar os seus “boys”. Nada que espante muito, o que espantará mais são as mensagens já passadas de que a câmara ficará ingovernável e que, salvo consigam pescar o socialista descontente, poderemos ter eleições antecipadas! Ao que parece as minorias são um incómodo para esta gente e o simples facto de terem de governar sem poder absoluto é algo de indigno e impensável. Resumindo, ou teremos um “queijo limiano” por parte do socialista que, compreensivelmente, se incompatibilizou com Carrilho, ou as eleições poderão ser uma realidade. Seria uma animação, nestes aborrecidos tempos que o país atravessa, mas também seria uma irresponsabilidade enorme para a governação da cidade de Lisboa, que pararia durante algum tempo como que fechando para balanço.
16.11.06
Isto promete!
A julgar pelos excelentes vídeos promocionais, e pelo elenco, este parece ser um “filme” recomendável. Esperemos pela estreia que, ao que parece, será dia 25 de Novembro.
15.11.06
O disparate do Marquês
O famoso túnel que Santana Lopes sonhou para Lisboa tornou-se mais um exemplo perfeito das obras públicas em Portugal. Após adjudicação directa, as obras começaram em Agosto de 2003, com um prazo de 61 semanas para a sua conclusão. Estamos em Novembro de 2007, e nem os sete meses de atraso devido à providência cautelar interposta por José Sá Fernandes justificam que a data prevista para o fim da obra seja de Março de 2007. Fim este que é parcial, uma vez que a saída para a António Augusto de Aguiar ainda vai ficar à espera da conclusão de obras de reparação de fissuras na linha amarela do Metro, no local em os túneis distam imensos cinco centímetros.
Durante todo este atraso ganhou Lisboa um magnífico estaleiro e um trânsito ainda mais caótico na zona do Marquês. Da derrapagem orçamental nem vale a pena falar, são os incontáveis milhões que vão alimentando a construção civil deste país à custa dos contribuintes. Tudo isto se passa e a impunidade continua. Enfim, é o país que temos.
Durante todo este atraso ganhou Lisboa um magnífico estaleiro e um trânsito ainda mais caótico na zona do Marquês. Da derrapagem orçamental nem vale a pena falar, são os incontáveis milhões que vão alimentando a construção civil deste país à custa dos contribuintes. Tudo isto se passa e a impunidade continua. Enfim, é o país que temos.
13.11.06
Democracias
Ontem, dei por mim a dizer bem do secretário-geral do PS. Estranho, especialmente tendo em conta que o fiz a propósito de o mesmo confirmar que, independentemente de o referendo ser vinculativo, a despenalização do aborto só acorrerá se o “Sim” ganhar. A decisão é tão óbvia e do mais puro bom senso que nem devia ser motivo de regozijo. Afinal, para que serviria este referendo se assim não fosse? A partir do momento em que foi feito o primeiro referendo, é democraticamente óbvio que a lei só pode ser alterada após aprovação por outro referendo. Claro que a arquitecta Helena Roseta, num desvario estalinista, acha o contrário, mostrando que os paladinos da esquerda mais dura continuam com uma visão da democracia no mínimo estranha.
8.11.06
Coisas do Tempo
O Outono chuvoso levou nas águas a cor de areia estival do template. Voltamos assim ao negro original, mais digno da sobriedade da estação.
Versões
Aqui ao lado passamos a ter “Ne me quitte pas” em duas versões bem diferentes: Nina Simone com sua delirante versão já muito falada no Impensável e Ute Lemper no estilo cabaret berlinense.
7.11.06
Esquerdas
Saddam Hussein foi condenado à morte por enforcamento após julgamento segundo as leis iranianas. Entre a defesa dos direitos humanos e a persistente compreensão pela cultura árabe, a esquerda ficou hesitante.
6.11.06
A Havaneza
Ao longo da vida há sítios por onde passamos que se tornam parte integrante de nós. A mercearia onde comprávamos rebuçados em criança, o quiosque onde íamos ao jornal com os nossos pais, o café onde lanchávamos com as nossas avós. Todos teremos memórias de sítios essenciais, sejam de memórias de infância, sejam de momentos mais recentes. Este fim-de-semana chegaram notícias tristes da Figueira: a Casa Havaneza estava de porta fechada. Um papel dizia que reabriria, mas após os boatos de Agosto, acerca da mudança de dono, são poucas as esperanças de que tudo fique na mesma.
A Havaneza era uma livraria à antiga, onde podíamos comprar jornais e revistas, canetas e cigarros, postais e, claro, livros. A definição “comércio tradicional” não se poderia aplicar de melhor forma. Não falamos de uma loja que valia só pelos seus produtos, mas de uma instituição cuja importância se estendia a quem nos acolhia por detrás do balcão. Há lojas onde vamos com o propósito já definido de comprar algo, mas outras há onde vamos, simplesmente vamos, para ver o que há, para estar. As idas à Havaneza não tinham de ter um fim ou uma lógica, por vezes eram passagens para ver as novidades na montra sempre em mudança, outras, entradas para ver as revistas que tinham saído ou se tinha chegado o livro que tínhamos perguntado se havia e que estava a caminho. Como esquecer as capas de papel pardo com o nome gravado que cobriam os livros para poder levar para a praia sem estragar. Como esquecer os belíssimos marcadores de livros com fotografias antigas da Figueira, ou a edição de postais com essas e outras fotografias doutros tempos desta praia. Como esquecer a sua esquina e as suas montras, as janelas azuis, a placa encarnada de latão, o letreiro comemorativo dos cem anos de casa.
Pode a Havaneza reabrir, mas será decerto outra Havaneza, em que a senhora D. Helena não estará por trás do balcão com a sua simpatia difícil de conquistar, esperando a passagem de amigos, clientes antigos, ou novos clientes cujo interesse a fizesse levantar e dar dois dedos de conversa. A Havaneza não era uma loja fácil, onde éramos acolhidos por empregados ignorantes e falsamente simpáticos que nos bajulam desnecessariamente, na Havaneza os clientes eram bem tratados, mas com um educado distanciamento só vencido pela repetição, pelo interesse. A Havaneza era desorganizada e pouco prática, mas esse era também o seu charme, e também o motivo porque encontrávamos sempre um livro interessante que não procurávamos.
A Casa Havanesa era património da Figueira, ou ao menos deveria ser. A “minha“ Figueira é, era, indissociável da Havaneza, como o era de mais alguns sítios que tristemente já desapareceram. Talvez seja excesso de conservadorismo, talvez seja um ataque de nostalgia num escuro dia de Outono, o certo é que a Figueira que me fez feliz já só existe na praia e nas pessoas. Tudo em redor foi sacrificado a um pretenso progresso.
Como disse um amigo, com os seus pequenos exageros, parece que se foi alguém de família. Não diria tanto, mas por certo que se foi algo de meu.
A Havaneza era uma livraria à antiga, onde podíamos comprar jornais e revistas, canetas e cigarros, postais e, claro, livros. A definição “comércio tradicional” não se poderia aplicar de melhor forma. Não falamos de uma loja que valia só pelos seus produtos, mas de uma instituição cuja importância se estendia a quem nos acolhia por detrás do balcão. Há lojas onde vamos com o propósito já definido de comprar algo, mas outras há onde vamos, simplesmente vamos, para ver o que há, para estar. As idas à Havaneza não tinham de ter um fim ou uma lógica, por vezes eram passagens para ver as novidades na montra sempre em mudança, outras, entradas para ver as revistas que tinham saído ou se tinha chegado o livro que tínhamos perguntado se havia e que estava a caminho. Como esquecer as capas de papel pardo com o nome gravado que cobriam os livros para poder levar para a praia sem estragar. Como esquecer os belíssimos marcadores de livros com fotografias antigas da Figueira, ou a edição de postais com essas e outras fotografias doutros tempos desta praia. Como esquecer a sua esquina e as suas montras, as janelas azuis, a placa encarnada de latão, o letreiro comemorativo dos cem anos de casa.
Pode a Havaneza reabrir, mas será decerto outra Havaneza, em que a senhora D. Helena não estará por trás do balcão com a sua simpatia difícil de conquistar, esperando a passagem de amigos, clientes antigos, ou novos clientes cujo interesse a fizesse levantar e dar dois dedos de conversa. A Havaneza não era uma loja fácil, onde éramos acolhidos por empregados ignorantes e falsamente simpáticos que nos bajulam desnecessariamente, na Havaneza os clientes eram bem tratados, mas com um educado distanciamento só vencido pela repetição, pelo interesse. A Havaneza era desorganizada e pouco prática, mas esse era também o seu charme, e também o motivo porque encontrávamos sempre um livro interessante que não procurávamos.
A Casa Havanesa era património da Figueira, ou ao menos deveria ser. A “minha“ Figueira é, era, indissociável da Havaneza, como o era de mais alguns sítios que tristemente já desapareceram. Talvez seja excesso de conservadorismo, talvez seja um ataque de nostalgia num escuro dia de Outono, o certo é que a Figueira que me fez feliz já só existe na praia e nas pessoas. Tudo em redor foi sacrificado a um pretenso progresso.
Como disse um amigo, com os seus pequenos exageros, parece que se foi alguém de família. Não diria tanto, mas por certo que se foi algo de meu.
3.11.06
Coisas que irritam
Abrir um blogue e ser automaticamente fulminado por música, obrigando-nos a dar um desagradável salto da cadeira.
2.11.06
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