10.2.07

Herman e os Gatos

Herman José reaparece hoje com um programa de humor que vale a pena ver, mais não seja para perceber se o génio está morto ou apenas esteve hibernado. Hoje em dia é moda, e cai bem, dizer mal do Herman e endeusar o Gato Fedorento. Na minha opinião é ridículo ou, no mínimo, injusto. Os últimos anos de pura “rasquice” que foi o “Herman Sic”, em que a escolha dos convidados mais parecia uma audição para um “Carnivále” de quinta categoria e em que os momentos de humor eram, de modo geral, confrangedores, não devem deixar que a memória seja curta. O Herman aburguesou-se, mas basta lembrar alguns dos programas por ele feitos para logo nos deparamos com algum do melhor humor jamais feito em Portugal.
O “Tal Canal” foi um marco, uma lufada de ar fresco num país cinzento, com o “Diário de Marilú”, as crónicas de José Esteves, o “Jaquina Jaquina”, o “Cozinho para o Povo”, o Oliveira Casca, o Carlos Filinto Botelho, o menino Nelinho e a Sra. D. Palmira ou o grande Tony Silva. O “Hermanias” foi um seguidor natural e trouxe o cameraman “mas que é isto, é uma brincadeira ou quê” e o show do inenarrável Serafim Saudade com as suas hilariantes coreografias. Os programas de passagem de ano foram fantásticos e quem não se lembrará de “eu sou José Severino e sou pasteleiro…eu é mais bolos, salgados também, mas é mais bolos…”, do “batem leve, levemente, como quem chama por mim, fui ver era o Ovário…a assunção tema tabu…não, eu queria dizer Octávio, o meu primo Octávio, mas enganaram-se na tipografia”, ou as versões de músicas conhecidas com letras delirantes. O talento do Herman está espelhado na forma como conseguiu tornar o mais chato dos concursos, a Roda da Sorte, num programa do mais louco e desbragado humor. Como esquecer os momentos com Vítor Peter (Oh! Ivone. Oh! Ivone. Oh! Ivone. Good bye my love) ou o programa final, com Herman a disparar, de carabina em punho, estúdio fora, destruindo electrodomésticos e todo o cenário. O Humor de Perdição trouxe as entrevistas históricas a Florbela Espanca “ó filho faz-me qualquer coisa”, a Camões “Uh! Uh! Tens filhas, tens filhas. Traz também. Uh!” e à Rainha Santa Isabel que de tão polémica levou ao fim do programa. O mais sofisticado “Casino Royal” foi talvez o seu trabalho mais incompreendido, mas ainda assim com muitos momentos de grande qualidade. A Herman Enciclopédia, com fases menos felizes, tinha ainda assim personagens fabulosas como o Mike e Melga ou o Diácono Remédios e a sua mãe Rute Remédios.
Os Gatos já fizeram sketches realmente excelentes, mas basta o programa do último Domingo – em o que apenas me arrancaram um leve sorriso – para perceber que o caminho para que possam ser comparados com o Herman é ainda longo. O pior é que os Gatos, além de estarem a esgotar a sua imagem em incessantes anúncios à PT – percebe-se que o dinheiro compra muita coisa e afinal Herman não foi o único a pensar assim –, estão a adquirir tiques de vedetas, em especial o Ricardo Araújo Pereira, para os quais ainda não têm estatuto. Com tudo isto não quero dizer que os Gatos são maus, muito antes pelo contrário, mas acho que só a falta de concorrência que vão tendo por este país os torna umas vedetas incontestáveis e isso só os pode prejudicar, a eles e a nós que podemos perder um grupo que tem de facto, ainda que nem sempre, muita graça.

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