1.4.08

Voltar

O mundo onde gosto de me encontrar é recheado de imutabilidades, por isso nem sempre voltar, apesar do meu gosto pela volta, é coroado por esse encontrar tudo na mesma, como nos dias ali passados ou no tempo da despedida. As coisas mudam, algo que teimosamente não gosto de admitir.
Este fim-de-semana voltei a um dos sítios onde fui feliz, tentando contrariar o já estafado aforismo e buscando momentos bem passados e memórias cada vez mais antigas. Procurei, como sempre, os meus sítios, os meus cantos, os meus becos, uma Salamanca como a deixei – inalterada e estática. Infelizmente o mundo não é livro escrito e publicado e não se compadece com estas nostalgias. Por isso deparei com um bar onde passei muitas e boas noites transformado num restaurante modernaço e o único sítio com café decente com o nome mudado e o café lá servido desafiando a própria definição de café, de tão intragável.
Faltariam sempre as pessoas, as minhas pessoas, mas os sítios físicos sempre foram ajudas à lembrança, permitindo-nos reviver o espaço e imaginar quem noutros dias o povoou. Voltar nem sempre é perfeito, nem para um nostálgico incurável como sou, sempre olhando o passado com um carinho que nem eu por vezes compreendo. Faltou-me muita coisa neste regresso, mas resta sempre muito, demasiado para caber num escrito, resta a alma de uma cidade que é algo muito difícil de destruir. Foi bom voltar, como é sempre bom voltar. Vinicius dizia que a mulher gosta de voltar, talvez não seja só a mulher, decerto que não é só a mulher.

Sem comentários: