30.11.08

Postal do Fim do Mundo

No alto do Cerro Marcial tenho a baía de Ushuaia aos meus pés, o canal Beagle em direcção ao Atlântico. Em frente as montanhas ainda nevadas da Isla Navarino. Atrás o gelo. A terra acaba ali, mesmo à minha frente, antes de dar lugar ao gelo. O fim. Ou o princípio. As águas azul cinzento do canal insistem em dizer que sim, que este é o fim do mundo. Já o encontrei, já cá estive, já o vi, já o vivi. A terra tem fim. Sopra vento e chegam nuvens. Permaneço no topo do Cerro Marcial. Não há mais para além do que vejo. Sobe e desde gente talvez pensando o mesmo que eu, cansados da caminhada, persistindo na subida para mais com a vista abarcar. Este é o fim. Ou o princípio.
"Roubo" algumas palavras escritas por Francisco José Viegas, em texto publicado na revista "Volta ao Mundo": "Sei que existe a terra toda, agora que cheguei ao seu limite", "Sei, agora, que a terra existe, a terra toda, poeira e cinza, verde e azul".

28.11.08

Postal da Patagónia

Deixo a Patagónia ou, como Chatwin, sigo para sul com a ideia de uma Patagónia até ao fim da Terra do Fogo, até ao fim do mundo. Mais do que uma região ou terra, a Patagónia é território de mitos fundados na distância e na imensidão. Destino final de aventureiros e viajantes, "aquele" sítio de fuga e de real abstracção. Talvez fosse esta a palavra que me escapava e que buscava, mais do que imensidão, infinito ou vastidão, a Patagónia é abstracção. Por isso Chatwin, o recorrente, criou um "Na Patagónia" cubista feito de fragmentos, de um não diário e uma não história. O abstracto nesta tela de infinito, quadros fractais e textos aparentemente desconexos, apenas ligados pela abstracção e por um pedaço de pele pré-histórica.

Postal

Isto do Sporting ser humilhado em Alvalade não me parece bem. Desabafo à distância, na terra do Messi que infelizamente joga no Barcelona.

Postal da Patagónia

(Ainda de El Chaltén)
Rajadas deixam cortinas de pó nas estradas de cascalho. El Chaltén é fim de mundo, mais um, nesta região toda ela tão no fim de tudo. Sensação de fim. Uma rua pequena com casas dos dois lados. Não passam carros e os que estão parados não parecem capazes de grandes movimentos. Só passam autocarros trazendo e levando gente. O resto são caminhantes de mochila âs costas sem aparente destino, como se o seu destino fosse o fim. O sol brilha, hoje, mas o inverno será aqui duro, insano. Escrevo depois de dois deliciosos waffles com doce de Calafate e um mate. Foram dois por controle que impediu de serem quatro, seis ou oito. Olhando pela janela escuto a música de Joaquin Sabina que me leva a um limbo esntre Salamanca e El Chaltén. Coisas deste mundo global em que na mesa ao lado se fala em alemão.
Outrora destino de aventureiros e viajantes excêntricos, hoje destino dos "novos viajantes" de sapatos Timberland, roupa com gore-tex e luvas polares. Japoneses, americanos, alemães. Mochileiros não demasiado jovens. Local de romagem mítica em busca de santuários nos quais se estabelece uma relação quase religiosa com a natureza, acreditando, ou não, num criador supremo da mesma. Busca de espaço e largura, de si mesmos, de uma dimensão de ar e terra cada vez mais difícil de encontrar.

Postal da Patagónia

(Ainda de El Chaltén)
O vento está deveras patagónico. Rajadas que fazem o bosque falar. Sim, o bosque fala pelos troncos que rangem e pelas folhas que abanam. Usando uma democrática linguagem que deixa a sua compreensão ao critério de cada um independentemente da sua origem. Não estou com isto a entrar numa fase Floribela e a falar com as árvores, nem sequer enlouqueci, mas lá que falava, falava.

Postal da Patagónia

(Ainda de El Chaltén)
Caminhada pela parte norte do Parque dos Glaciares. O trilho é apelidado de fácil, mas o íngreme começo leva-me a praguejar. Vem-me à memória o trilho da Fajã de Santo Cristo, em S. Jorge nos Açores, e o estado de quase exaustão em que o acabei. Apesar da beleza. Felizmente apenas o começo é complicado e o terreno acaba por aplanar. Ainda me cheguei a perguntar o que me tinha dado para fazer trecking. A passagem de um ribeiro onde bebo água anima a continuação, ainda mais quando começo a ver o Fitzroy iluminado por um sol resplandecente. Ver o mítico Fitzroy decoberto não é frequente, as nuvens contumam gostar de jogar às escondidas. A escultura em pedra é magnífica, um pico quase inacessível que já tirou a vida a muitos que tentaram subir. Um dente afiado apontado ao céu. Ao lado um glaciar mostra-se. O cenário é belíssimo em mais uma demonstração do poder estético da natureza. Passo por uma lagoa de água transparente que convida ao descanso. O vento bate e ondula a água. Quando alguns amigos lerem este postal não vão acreditar na sua veracidade. Vão atribuí-lo a devaneios de ficção. Fazer um trecking por opção, numa viagem em que estou entregue ao meu livre arbítrio estará para além da sua compreensão. Ou talvez acreditem, mas duvido. O certo é que é verdade, mesmo que até eu acredite com certa relutância.

Postal da Patagónia

(Ainda de El Calafate)
Olho as cercas e penso nos loucos que aqui compraram terras, neste quase fim de mundo inóspito, nessas personagens de Chatwin, nesses habitantes de casas isoladas como a que avisto. Loucos aventureiros, fugitivos da justiça, de si mesmos ou da sociedade. Escolher viver aqui será ainda hoje uma fuga, há uns anos roçaria a loucura. Pardo verde musgo escuro. Abres-se em frente o lago Viedma. A estrada continua a seu lado. Aparecem pontos amarelos de pequenos arbustos.

Postal da Patagónia

(Ainda de El Calafate)
Percorro um troço da mítica R40, tão escrita e descrita, a caminho de El Chaltén. Pardo pontuado por escassos pequenos arbustos. Quilómetros a sucederem-se sem mais. Propriedades cercadas. Quatro cavalos, à frente o troço de um pequeno rio. Pardo, ao fundo montes nevados, mais perto montes pardos. O céu brinca em azul e branco. Uma rocha.

27.11.08

Postal do fim do mundo

Cheguei ao sul. Ao verdadeiro sul da civilização. Mais a sul só a Antártida, terra do branco, do gelo, do inumano. Não posso ir mais além - a verdade é que podia, mas uma expedição à Antártida ainda não está nos meus planos. Este é o fim ou princípio de tudo. Olho em frente na baía de Ushuaia e vejo a Isla Navarino, terra chilena apenas povoada por uma base militar. Não posso ir mais abaixo, pelo menos por agora não posso. Percebo melhor a dimensão do mundo, percebo melhor Magalhães, Darwin, Chatwin. Todos os que quiseram chegar ao limite, ao fim, ou ao princípio. Este é o verdadeiro sul, o limite austral do homem, da terra humana. Cheguei ao sul e por aqui ficarei mais uns dias, aproveitando o limite do fim, ou do princípio.

26.11.08

Postal da Patagónia

A primeira sensação frente ao glaciar Perito Moreno é de esmagamento. Depois vem a pequenez perante a natureza que traz consigo um setimento de humildade. Chegado da metrópole nada melhor do que por as coisas no seu preciso lugar. No lugar devido do homem perante a imensidão do intocado e puro. Sou atacado por um fremente convulsão fotográfica, doença que se alastra inevitavelmente a todos quantos deambulam pelas passadeiras de madeira integradas na encosta frente à parede de 70 metros. Há a tentação de querer que o momento perdure, que a imagem de algum modo continue na memória. Deambulo no disparo, indiferente perante a circulação de seres com a mesma fascinação feita fenómeno colectivo.
As coisas não ficarão por aqui e ainda irei caminhar de pregos no pés sobre este gelo milenar, fruto de anos incontáveis de acumulação de neves. A quem já esteve no meio da neve, o branco não tem a mesma fascinação, mas ao saber sobre o que caminhamos e ao olhar para os rasgos de azul que surgem por entre o braco a relativização é posta de parte. A irrealidade do cenário é acentuada quando afasto olhar hipnotizado pelo branco e olho em redor. A massa avançando sobre o castanho da Península de Magalhães que sobe em colinas verdejantes. Ao lado montanhas de negro inóspito. O céu espreita azul por entre nuvens brancas e uma neblina que avança sobre o glaciar.

Postal de Buenos Aires

(Ainda de Buenos Aires)
Quando me lembro do "Quarto com vista sobre a cidade" sempre me vem à memória a acolhedora pensão, como tantas outras referidas em obras do século XIX e XX. A dona, geralmente viúva, transformava a casa que tinha dificuldade em manter numa casa de hóspedes. Mantinha assim o pessoal e o seu nível de vida, conhecia novas pessoas, algumas interessantes, e, claro, abdicava de alguma intimidade.
Sempre as imagino em casas de classe média, por vezes alta, com mobiliário sólido e confortável, cortinas quentes e densas, quartos de casa de família. A sala era ponto de encontro inevitável de hóspedes, reunidos pela manhã para o pequeno almoço, por vezes para o chá das cinco, quase sempre para o jantar. Eram tempos em que os hotéis eram poucos e caros, os restaurantes quase inexistentes e os viajantes se dividiam entre aventureiros e aristocratas, alguns deles falidos. Também era época dos "grands tours" de jovens solteiros que saíam a conhecer o mundo e, quem sabe, arranjar um bom partido para casar.
Quando cheguei à minha casa em Buenos Aires senti como se tudo isto se me apresentasse em versão moderna. Não trouxesse o número correcto da porta e nunca encontraria o sítio, uma discreta, porém bonita, casa sem nada que a distinguisse das demais em seu redor excepto uma curiosa lanterna ao lado da porta. Sou acolhido pelo Fernando - que sei de antemão ser o marido da Lizandra, a dona da casa - em hora tardia, mas a tempo de ver o corredor de acesso aos quartos e ao fundo uma deliciosa varanda em madeira sobre um pátio.
A decoração remete de imediato para as antigas pensões. Casa de princípio do século, chão de madeira corrida, portas de madeira com vidrinhos, adereços de época. No meio a personalização actual que nos lembra estarmos no século XXI, com obras de arte contemporânea, nomeadamente o grande quadro da sala de jantar e o biombo de vidro que divide esta da sala de estar. Quatro degraus acima da casa de jantar uma pequena cozinha de apoio com um simpático bar de conveniência que irei utilizar amiúde, afinal tinha cerveja e vinho, companhias ideiais para o relax antes de jantar.
A primeira palavra de acolhimento foi que esta era para ser a minha casa, e nada mais correcto poderia ser dito sobre como me senti.

Postal da Patagónia

Em motoquatro no Lago Argentino.

Postal da Patagónia

Lago Argentino.

Postal da Patagónia

Monte Fitzroy.

Postal da Patagónia

Monte Fitzroy.

Postal da Patagónia

Perito Moreno

Postal da Patagónia

Estrada para El Chaltén. Ao fundo o monte Fitzroy.

Postal da Patagónia

Perito Moreno

Postal da Patagónia


Perito Moreno

Postal da Patagónia

O glaciar Perito Moreno.

24.11.08

Na Patagónia

Agora sim, deixei o cosmopolitismo de Buenos Aires e estou aqui, nesta imensida imensa. Nao escondo alguma espectativa porque daqui a pouco tempo irei estar a caminhar em cima de um glaciar. Sei que os postais andam atrasados e que nao tenho acento til. Tentarei resolver o assunto com a brevidade desejável.

21.11.08

Postal de Buenos Aires

Ainda não vos falei da minha casa em Buenos Aires? Pois não. Só me lembrei porque acabou de sair uma simpática hóspede sino-americana (sempre quis utilizar esta palavra composta), professora universitária de balet moderno. Ontem fumámos uns cigarros em nome da esperança no Obama e a alegrarmo-nos pela senhora Sarah Palin existir desde que não tenha qualquer poder.

Postal de Buenos Aires

Preciso de confessar: já fiz compras. Tentei resistir, tinha prometido só ir no regresso da Patagónia, mas não consegui. Pronto, confessei e já me sinto melhor. Afinal, moralmente é só um pecadilho, o problema chegará com a conta do VISA que teimará em ser imoral.

Postal

Ando a morrer de saudades e acho que vou voltar antes de tempo. Isto de estar só é insustentável e já mudei o voo para segunda-feira.

P.S. Claro que estou a brincar.

Postal de Buenos Aires

(Ando a perder o ritmo)
Como a cultura também é importante, lá fui ao Museu de Bellas Artes e ao MALBA. O primeiro tem uma boa colecção de impressionistas, o segundo é uma decepção enquanto colecção - está mais vocacionado para exposições temporárias -, mas um belissimo edifício moderno e bem enquadrado.
Volto a andar demais. Insisto em não me adaptar à dimensão da cidade. Como sempre há que ver as coisas do lado positivo: ainda bem, pois de outro modo regressaria uma orca. O facto de estar só leva-me a não dispensar comer bem. Aqui confesso, antes que receba hate-mails de alguns amigos, que o faria também caso não estivesse só. Mas assim entendo como uns miminhos e a gula torna-se mais desculpável, assim como os desejos quase incontroláveis de comer "ojo de bife" durante todo o dia.

20.11.08

Postal de Buenos Aires

"Lost in antiques". Este foi o lema da manhã em San Telmo. E também, ver e não comprar. Nada melhor para descomprimir do que um almoço frente à maior catedral de Buenos Aires, "La Bombonera", ou seja, o Estádio do Boca Juniors. Aqui jogou o deus Maradona, de tal forma entronizado pelas gentes de aqui que já tem direito a uma religião em seu nome. E com número crescente de "crentes". Foi também hoje que este deus conseguiu a primeira vitória como putativo treinador da Argentina. Por isso mesmo, e antevendo a vitória, lá me debati com o "Carlitos", dono do "Don Carlos", mesmo em frente à "caixa de bonbons", e a sua cozinha sem ementa que me deixou em estado redondo ao nível de uma bola de bowling. O ideal para deambular pelo "Caminito", a zona "típica" da Boca que mais parece um parque temático sobre uma certa Argentina marinheira e proletária. A densidade de máquinas fotográficas, vendedores ou empregados de lojas e restaurantes é tal, que o espaço que resta para outros é nulo. Até se encontra um pretenso sósia do deus que cobra por tirar fotografias com as pessoas.

Postal de Buenos Aires

O taxista, assim que ouviu Calle Baéz como destino, logo declarou peremptório: "chicas lindas en Las Cañitas". Finalmente um bairro - ou melhor, uma zona dentro de Palermo - com dimensão mensurável. Uma curta rua, Baéz, e três ou quatro perpendiculares, com lojas, restaurantes e bares, tudo com um ecxelente ar. Respira-se bom perfume. Jantar razoável, no La Cavalleriza, e um copo para digestão, no Mute, por entre "chicas lindas" num bar moderno e de bom gosto. No fim do jantar obrigo-me a mim mesmo a escrever cem vezes: não voltarás a pedir entrada, muito menos de queijo, e batatas fritas com a carne". Tentarei cumprir, até porque nestas bandas não há Água das Pedras e eu esqueci-me do Cholagutt.

19.11.08

Postal de Buenos Aires

Primeira incursão na espontaniedade argentina, com um ser enfurecido a parar e sair de uma mota dirigindo-se a outro com aparente vontade de o desfazer em pedaços. Ao lado dois polícias olhavam com ar complacente tentando, sem muito esforço, acalmar a situação. Na esplanada onde tomava café comentava-se que o melhor era chamar alguém, apesar da polícia.
O passeio matinal por Palermo mostrou bem a enorme dimensão deste bairro, onde os dias são tranquilos e as noites longas. Muitos restaurantes, muitas lojas e uma igreja de S. Francisco Xavier. Livrarias onde quero passar o dia, lojas de roupa onde me esforço por não entrar, resturantes onde apetece almoçar às onze da manhã. Resisto, e lá pela uma e meia ataco o primeiro bife chorizo no Minga. Primeiro de Buenos Aires, pois graças aos sempre bons préstimos do "El Último Tango", em Lisboa, este já é um corte de carne bem conhecido.
Recomposto, avaço para o bulício do centro onde hordas de locais e turistas criam tráfego humano nas ruas mais conhecidas e lojas boas alternam com quinquilharia imprestável, dirigida a turistas ingénuos e incautos. Paragem obrigatória na Plaza de Mayo, já sem as "madres de Mayo", consumidas que foram pelo tempo e exaustas da esperança de um dia saber o destino exacto do seus, certamente barbaramente apagados pela ditadura, por uma das muitas ditaduras que trucidaram gente como carne para hamburguer nestas terras da América do Sul.

18.11.08

Postal do Rio de Janeiro

Acolhido por um calor húmido que logo mostra uma nova realidade. Lembra Goa, mas sem aquele cheiro de especiarias tão único. O táxi faz o caminho apresentando-nos os presépios-favela, vestindo os morros com luzes de cor intensa. O mar está ali, por ali, invisível no escuro da noite.
Um dia chega para perder ideias feitas. Nunca me imaginaria a caminhar descontraidamente pelo meio do Rio à luz do dia. Ontem, eram duas da manhã e andava por entre as ruas quase vazias do Leblon numa caminhada serena. Loucura? Talvez, mas também a confiança de estar com neo-cariocas de origem lusitana. Estivesse só e nunca o faria, aterrorizado por relatos, por certo reais, de um Rio a ferro e fogo. Antes, o primeiro momento de sedução carioca por entre botecos do Leblon. Chope, chope, picanha de aperitivo, chope. Conversa a rolar com mesas vizinhas. A Ursula, alemã balzaquiana que acabou na nossa mesa e a trocar número de telefone, após me querer convencer a ficar no Rio e vir com ela para Buenos Aires daqui a uma semana. O portuguesinho odiável com a brasileira simpática, que se dizia nazi e tinha uma camisola do Benfica, rematando as tiradas a um estilo ainda pior do que "quem não é do Benfica não é bom pai de família". O argentino que jogava charme a meninas com idade para serem suas filhas. Habituava-me facilmente a esta vida de boémia descontraída com as palavras correr com chope. Ah! Era Domingo.

15.11.08

14.11.08

Antes das férias

Passagem inevitável pela Golegã. Não dispenso esse mergulho na ancestralidade marialva que durante um ano quase esquecemos que ainda existe. Os bigodes apontados ao céu, o confronto entre capotes alentejanos ou samarras e os mais “modernos” encerados. As senhoras bonitas de pele tisnada pelos ares do campo. O fumo denso e omnipresente das castanhas que transforma qualquer noite estrelada num céu londrino. Os cavalos como senhores plenos, assustando citadinos pouco habituados a vê-los em movimento. Tudo isto é a Golegã, mas nem tudo de isto é bom ou recomendável, por isso os meus regressos não se devem a nada de isto, mas à simples constatação que este continua a ser um ponto de encontro sólido com muitas pessoas que o destino fez que estivessem mais ausentes do dia a dia.

Estado do país

Deixo o país em gemadas e tomatadas. Confesso que prefiro os ovos em doces e os tomates em sopas alentejanas, mas, não fora o desperdício de alimentos em tempos de crise, acharia o protesto muito revigorante. O meu lado anarquista vem conquistando espaço e cada vez mais acho que a luta vai ter de ser feita nas ruas. Sugeria apenas que mudassem para balões de água, que assim não se deita comida à rua e o efeito é quase o mesmo.

13.11.08

Educações

O PS, que tanto pode querer dizer Partido Socialista como Pinto de Sousa, está a desenterrar do magma a herança de Guterres, nomeadamente a sua grande ideia para o país: a paixão pela educação. A julgar pela aclamação geral às políticas de Lurdes Rodrigues e Mariano Gago, reflectidas em recusas de avaliação ou demissão de reitores, a coisa vai pelo bom caminho e coroada de glória com bombardeamentos de ovos. Ao mesmo tempo, os Magalhães são entregues com tal fervor que alguém mal intencionado poderia pensar que estão a servir para mascarar um problema. Assim vai a paixão pela educação lusitana.

País virtual

Neste imaginário país, onde quase já falamos finlandês, há gente mal intencionada que se espanta com o facto de o primeiro-ministro achar normais as negociatas de Manuel Pinho e de Manuel Sebastião. Há mesmo pessoas que olham as coisas por um prisma deturpado, afinal foram negócios claríssimos e de uma transparência a toda a prova.

11.11.08

Estado do blog

Ausente. Causas? Muito trabalho, preparativos para as férias que se aproximam e escassez de tempo. Para me relembrar o pouco tempo que falta para ter tempo, aqui ficam a música de Piazzolla, as palavras de Horácio Ferrer e a voz de Milva, remetendo para um Buenos Aires cada vez mais próximo.

5.11.08

Coisas da bola

Jogo deprimente, futebol deplorável, magnífico resultado. Antes assim, até porque no campeonato vão sendo mais jogos deprimentes, futebol deplorável, resultados péssimos.

Coisas boas Obamização

Obama vai seguramente desiludir a esquerda que, embandeirando em arco, quase o equipara a Morales ou Chavez. O delírio leva-os a esquecer que a esquerda não existe nos EUA e que alguns dos partidos europeus da esquerda democrática seriam lá catalogados de perigosamente extremistas.

SMS

(recebido ontem após o jogo do Sporting)
Até a Barac Obama.

Coisas d’America

No início da campanha tinha por certo que, ganhasse quem ganhasse, o mundo e os EUA ganhariam muito em relação ao que agora têm. A entrada de Sarah Palin abalou essa minha convicção, em especial a partir do momento em que me lembrei que o vice-presidente substitui automaticamente o presidente caso este morra. Não porque deseje qualquer mal a McCain, até porque o tenho como pessoa estimável, mas a mera possibilidade de ter Sarah Palin a presidir aos EUA quase me tirava de imediato o sono. Assim sendo, fico contente com a vitória de Obama. No fundo não tenho nada que ficar contente, eu sou português e ele americano e o que me devia preocupar primeiro era o meu país. Sei no entanto da importância para o mundo dos EUA e prefiro ter aí alguém com bom senso e não uma senhora chegada do Alaska, quase de espingarda nas mãos, com algumas ideias capazes de arrepiar a mim e ao mundo.

Coisas boas da Obamização

A questão racial não é despicienda nestas eleições, a vitória de Obama pode ajudar a enterrar definitivamente um dos mais abomináveis defeitos da espécie humana - o racismo.

Coisas boas da Obamização

A racaille por esse mundo fora vai perder o seu demónio, Bush, e com isso muitas das suas razões de existir.

Coisas boas da Obamização

Soares irá falar muito menos vezes, por manifesta falta de motivo para destilar o seu ódio.

Coisas boas da Obamização

Ocorreu no mesmo dia em que o Sporting foi apurado para os oitavos de final da Liga dos Campeões.

Coisas boas da Obamização

Mostrar a gente pouco educada, como alguns que nos governam, que a boa educação afinal rende votos e que não é necessário insultar nem abundar em soberba para ganhar eleições.

4.11.08

Coisas do país

Neste imaginário país onde quase já falamos finlandês, o Estado é definitivamente uma pessoa de bem. Isto a propósito do debate de ontem sobre o terminal de contentores em Alcântara. Ficou claro que o negócio em causa é transparente e acima de quaisquer suspeitas. Ficou claro que a presença de Jorge Coelho na Mota Engil em nada terá contribuído para a aceleração do processo. Ficou claro que a ampliação do terminal é particularmente necessária neste período de prosperidade económica onde a pressão das necessidades de cargas sobre os portos atingiu níveis históricos. Ficou clara a democraticidade do processo e o importante papel da Câmara Municipal de Lisboa e do Parlamento na resolução do mesmo. Ficou claro que devíamos acabar com os Estudos de Impacto Ambiental pois custam dinheiro, trazem maçadas, e só são feitos depois das obras. Ficou claro que este foi um processo exemplar de como funciona bem a democracia portuguesa.

Para perceber a crise

Ninguém como os ingleses para explicar algo de forma clara, transparente e com algum, muito, sentido de humor. São oito minutos do melhor que há.

3.11.08

Coisas do país

Neste imaginário país onde quase já falamos finlandês, foi inaugurado este fim-de-semana o novo autódromo do Algarve. Vale a pena louvar esta grande obra que será, por certo, um ponto de partida para a recuperação da economia portuguesa. Basta olhar para a actual importância do autódromo do Estoril para perceber as enormes sinergias que farão deste um investimento pioneiro. Foi o primeiro Projecto de Interesse Nacional (PIN), e daqui podemos averiguar do interesse deste mecanismo que permite que as obras não parem e o desenvolvimento e o progresso não se detenham por minudências como RAN’s, REN’s, Estudos de Impacto Ambiental e outros.

Coisas do país

Neste imaginário país onde quase já falamos finlandês, um banco foi nacionalizado. Não, não é um lapso! Não, não voltámos ao PREC! Apenas a consequência de uma gestão danosa e fraudulenta. Dinheiros sujos, gente imunda e o contribuinte a pagar a recolha do lixo. A bem da coesão nacional o melhor é desde já arquivar qualquer processo de averiguação de responsabilidades, poupando-se assim o povo a achar que as culpas vão recair sobre alguém e poupando gente, como Dias Loureiro, a ser incomodada com minudências. Afinal, já que sabemos de antemão que não serão apurados culpados, o melhor é poupar dinheiro em investigar para depois encobrir.

Coisas do país

Neste imaginário país onde quase já falamos finlandês, graças aos préstimos inestimáveis dos responsáveis pela educação já caminhamos para o “chumbo zero”. Aplauda-se o esforço e empenho em acabar com o flagelo do chumbo, esse mal que nos minava a escola e o saber, aproximando-nos assim ainda mais da Europa moderna e desenvolvida. Bravo a Valter Lemos, esse sério e competente secretário de estado que pode hoje gritar “Yes, we can”, com o particular ênfase de quem fez algo que mais ninguém no mundo conseguiu até hoje: reduzir os chumbos a quase zero em apenas um ano. Bravo!