26.11.08

Postal da Patagónia

A primeira sensação frente ao glaciar Perito Moreno é de esmagamento. Depois vem a pequenez perante a natureza que traz consigo um setimento de humildade. Chegado da metrópole nada melhor do que por as coisas no seu preciso lugar. No lugar devido do homem perante a imensidão do intocado e puro. Sou atacado por um fremente convulsão fotográfica, doença que se alastra inevitavelmente a todos quantos deambulam pelas passadeiras de madeira integradas na encosta frente à parede de 70 metros. Há a tentação de querer que o momento perdure, que a imagem de algum modo continue na memória. Deambulo no disparo, indiferente perante a circulação de seres com a mesma fascinação feita fenómeno colectivo.
As coisas não ficarão por aqui e ainda irei caminhar de pregos no pés sobre este gelo milenar, fruto de anos incontáveis de acumulação de neves. A quem já esteve no meio da neve, o branco não tem a mesma fascinação, mas ao saber sobre o que caminhamos e ao olhar para os rasgos de azul que surgem por entre o braco a relativização é posta de parte. A irrealidade do cenário é acentuada quando afasto olhar hipnotizado pelo branco e olho em redor. A massa avançando sobre o castanho da Península de Magalhães que sobe em colinas verdejantes. Ao lado montanhas de negro inóspito. O céu espreita azul por entre nuvens brancas e uma neblina que avança sobre o glaciar.

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