26.11.08

Postal de Buenos Aires

(Ainda de Buenos Aires)
Quando me lembro do "Quarto com vista sobre a cidade" sempre me vem à memória a acolhedora pensão, como tantas outras referidas em obras do século XIX e XX. A dona, geralmente viúva, transformava a casa que tinha dificuldade em manter numa casa de hóspedes. Mantinha assim o pessoal e o seu nível de vida, conhecia novas pessoas, algumas interessantes, e, claro, abdicava de alguma intimidade.
Sempre as imagino em casas de classe média, por vezes alta, com mobiliário sólido e confortável, cortinas quentes e densas, quartos de casa de família. A sala era ponto de encontro inevitável de hóspedes, reunidos pela manhã para o pequeno almoço, por vezes para o chá das cinco, quase sempre para o jantar. Eram tempos em que os hotéis eram poucos e caros, os restaurantes quase inexistentes e os viajantes se dividiam entre aventureiros e aristocratas, alguns deles falidos. Também era época dos "grands tours" de jovens solteiros que saíam a conhecer o mundo e, quem sabe, arranjar um bom partido para casar.
Quando cheguei à minha casa em Buenos Aires senti como se tudo isto se me apresentasse em versão moderna. Não trouxesse o número correcto da porta e nunca encontraria o sítio, uma discreta, porém bonita, casa sem nada que a distinguisse das demais em seu redor excepto uma curiosa lanterna ao lado da porta. Sou acolhido pelo Fernando - que sei de antemão ser o marido da Lizandra, a dona da casa - em hora tardia, mas a tempo de ver o corredor de acesso aos quartos e ao fundo uma deliciosa varanda em madeira sobre um pátio.
A decoração remete de imediato para as antigas pensões. Casa de princípio do século, chão de madeira corrida, portas de madeira com vidrinhos, adereços de época. No meio a personalização actual que nos lembra estarmos no século XXI, com obras de arte contemporânea, nomeadamente o grande quadro da sala de jantar e o biombo de vidro que divide esta da sala de estar. Quatro degraus acima da casa de jantar uma pequena cozinha de apoio com um simpático bar de conveniência que irei utilizar amiúde, afinal tinha cerveja e vinho, companhias ideiais para o relax antes de jantar.
A primeira palavra de acolhimento foi que esta era para ser a minha casa, e nada mais correcto poderia ser dito sobre como me senti.

Sem comentários: