13.11.03

Ódios de estimação: Mariza

Há algo de irracional nos nosso ódios de estimação. Não é fácil de explicar o porquê de alguém nos irritar ao limite da urticária. A cara, a voz, os tiques, qualquer coisa serve para que algo, ou alguém, por nós seja odiado visceralmente.
Hoje apetece-me falar de Mariza - a nova "diva" do fado - a propósito de notícias do seu recente concerto no CCB. Não é só a voz que está aqui em causa e muito menos a pessoa, que não conheço (esta frase é demasiado politicamente correcta, mas vou deixar estar). Pode parecer estranho num cantor, mas não é só pela qualidade vocal da senhora que ela me faz urticária.
Ouço o seu primeiro disco e, para além de uma boa técnica vocal, o que chama a atenção é uma desmedida intenção de colar a sua voz e modo de cantar ao de Amália. Os fados escolhidos todos os cantou a Amália. Os maneirismos são os mesmos e a sua personalidade musical quase nula. O segundo disco é francamente melhor, ao ser de interpretação mais livre. No entanto, não me entusiasma muito.
Para além da voz - que ainda me permite ouvi-la em disco - claramente era incapaz de assistir a um concerto seu. A visão daquele "look" de girafa cibernética é mais do que o tolerável para conseguir ouvir alguém cantar. É evidente que o seu visual mais não é que uma boa campanha de marketing, original (muitíssimo original mesmo) e capaz de chamar a atenção de qualquer pessoa aqui ou no estrangeiro. O penteado louro em estradinhas arranjadas qual doce de ovos mas de aspecto incomestível. O pescoço, já de si fino, ainda mais acentuado e ridículo devido aos adereços. Os fatos espantosos, fazendo hesitar entre um gigantesco papel de rebuçado amarrotado e um repolho alongado. Gostava de conhecer a inspiração do suposto costureiro para fazer algo tão positivamente feio. Se eu tivesse a ideia de criar um visual com o intuito de ser o pior possível, ele não andaria longe disto.
Voltando à voz concordo com José Miguel Tavares em artigo no DN de ontem: "Mas se Mariza já é uma grande artista, ela continua a não ser uma grande fadista". Fado não é só afinação e potência na voz, é alma, a alma de um povo. Pode Mariza ser das grandes cantoras que temos. Não gosto, mas admito. Agora o grande fado não passa por aqui. Felizmente que vai passando por outros vozes, menos exuberantes na forma mas francamente mais importantes no conteúdo.

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