4.11.03

Estações de Comboio

Vou esperar um amigo a Santa Apolónia. Passou algum tempo desde que me rendi à escravatura do carro. Pouco tenho usado o comboio e das últimas vezes já o fiz na bela pós-modernidade do Oriente.
Para variar o comboio atrasa. Melhor assim. Aproveito para uns minutos de melancólica observação. Lembro os tempos de estudante em que aos fins de semana este espaço ocupava uma parte importante da minha vida. Tempos de ida a casa para junto da família após uma "dura" semana de aulas.
Há um misticismo estranho nas gares. As paredes cansadas pelo tempo, o chão desgastado pelas passagens velozes dos atrasados. As velhas de negro, com caras sulcadas, sempre transportando cestas de verga cheias sabe-se lá de quê. Os estudantes de grandes mochilas, ora animados e ansiosos, ora pensativos. Senhoras, com o ar despreocupado de quem não guia nem quer guiar, comprando revistas de decoração. O apito estridente de uma locomotiva a sair. O inconfundível cheiro que inunda o ar. Os "agarrados" e vagabundos mendigando moedas e cigarros, ou buscando vítimas fáceis para furtos breves.
As chegadas apressadas em busca de táxi ou de um abraço de acolhimento.
Com grande pena minha nunca fiz Inter Rail. Não por um fascínio de percorrer quilómetros de mochila ás costas mas sim pelo inata sensação de liberdade e desprendimento. Sentir por dias e dias o ambiente de gares imponentes ou miseráveis. Repousar em bancos de madeira para fugir ao frio do exterior. Usar este meio de transporte de lirismo só superado pelos veleiros.

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