31.1.04

Ai!

Navego pela blogosfera a fazer tempo para o Sporting – Porto no Alvalade XXI. Daqui a três horas espero estar já bem sentado, de cachecol verde a gritar pelo meu clube, ansiando pelo apito inicial. A esperança para este ano mantêm-se, mas depende em muito deste jogo. Hesito entre um Xanax ou um Inderal, é que tudo isto vai ser muito duro para os nervos.
Que ganhe o melhor e que o melhor seja o Sporting.

VPV

Vasco Pulido Valente voltou a escrever no DN. Que bom ter de novo uma dose de pessimismo e lucidez ao fim de semana, particularmente quando ela é tão bem escrita. O difícil acordar de Sábado é assim mais suportável.

29.1.04

Pornografia Emocional

O assunto é recorrente, e ao longo desta semana tornou-se inevitável. Depois de ontem o ter referido por boas razões, hoje o sentimento é contrário. Ontem, esperando já o circo mediático dos privados, acompanhei o Telejornal da RTP1 em busca de informação mais sóbria. Erro crasso. A reportagem do nosso canal privado excedeu, em tudo, os piores receios. No velório no Estádio da Luz o repórter parecia ter encarnado em comentador social, da Caras ou afins, mas em versão macabra. Debitava o nome dos presentes pouco faltando para lhes comentar as roupas, fazia perguntas quase do tipo "como é que se sente neste momento", esqueceu de forma inacreditável que o acontecimento que cobria era um velório, onde deve haver respeito e contenção, e não uma qualquer festa do Jet Oito português. Mas isto não bastou. A equipa de reportagem seguiu até à Hungria para seguir o enterro de Feher, onde manteve o nível, agravado por comentários acerca da expressão da mãe perante o caixão do filho e outras alarvidades do género. O único qualificativo que me lembro para esta ignomínia é mesmo o de pornografia emocional, tudo o que se diga de menos é de uma condescendência inaplicável a este caso.
O nosso canal público tem dado sinais de melhora, mas parece difícil combater algumas mentalidades que ainda não perceberam a diferença entre informar e agredir. Estas peças passaram ás oito da noite, hora em que as crianças estão em frente à televisão com a família. Não tenho filhos, mas seria muito difícil – caso os tivesse – comentar esta invasão brutal da privacidade e intimidade, esta exposição cruel dos sentimentos da família e amigos de alguém a quem o destino pregou uma enorme e trágica partida.

28.1.04

Decência

Os últimos dias foram marcados por uma voragem informativa das nossas televisões, desrespeitando o que deveria ser o pudor natural perante o acontecimento chocante de Domingo passado. Os principais canais passaram com exaustão as "imagens vivas da morte", sem o mínimo respeito pela situação.
No meio desta - infelizmente normal - falta de noção resta-nos um sinal positivo. Segundo o DN de hoje, Ricardo Espírito Santo - realizador da Sport TV que fazia a cobertura do jogo de má memória - teve ao seu dispor imagens francamente mais brutais, de pormenores da cara do jogador, num presumível espelho da morte e das desesperadas tentativas de reanimação. Logo mandou parar com os primeiros planos e suspender o que poderia ser um acto de refinado sadismo. Claro que ao que parece houve estações de televisão a tentar comprar - a todo o preço - estas imagens, a Sport TV, numa posição de enorme dignidade, recusou terminantemente a sua venda.
Felizmente ainda há em Portugal gente decente, incapaz de corromper os seus princípios e de massacrar um país com imagens chocantes que em nada contribuiriam para um melhor entendimento da situação. Felizmente ainda há jornalistas capazes de exercer a sua profissão como tal, e não como um filme de terror das misérias humanas. Felizmente há ainda quem tenha respeito pela intimidade dos outros, e haverá algo mais íntimo do que a morte. Felizmente que o realizador desse jogo era Ricardo Espírito Santo e a televisão que o emitiu a Sport TV. Felizmente que há quem ainda me dê esperança num mundo, e em particular num Portugal, mais civilizado e respeitador do ser humano.

26.1.04

Enviado Especial

Nos tempos cinzentos que correm é com enorme prazer que se pode ler este livro. Após ter lido "Reviver o Passado em Brideshead" e "Declínio e Queda" surgiu-me - em passeio por uma livraria - este "Enviado Especial" de Evelyn Waugh.
Ao comprá-lo não imaginava o grau de diversão que me esperava. Os outros dois livros não são, claramente, livros hilariantes. Este é. Ao fim de algumas páginas dei por mim a ser atingido por imparáveis ataques de riso, ao ponto da minha sanidade mental ser discutida aqui por casa. Os trocadilhos iniciais começaram a abrir perspectivas de um glorioso divertimento. A magnífica descrição de Magna Boot, da deliciosa família Boot na sua vida provinciana e antiquada, com a sua horda de "nanies", mordomos e criados, quase todos inválidos e a viver com eles. A absurda escolha de um impagável "enviado especial" para relatar a eminente guerra na Ismaélia, que escolhe incríveis "gadgets", levando canoas desmontáveis e tacos de golfe para um distante e desconhecido país.
O livro segue depois em ritmo corrosivo, relatando as peripécias - e podem crer que são muitas - de Boot na Ismaélia. A guerra afinal revela-se uma fraude mas assim não o relatam os restantes jornalistas. Gostaria de poder aconselhar este livro a muitos pseudo jornalistas que por aí andam, talvez assim melhor percebessem o ridículo de algumas notícias que divulgam.
No final uma mensagem particularmente actual e politicamente incorrecta. William despreza o dinheiro, as honrarias, a fama, preferindo a sua recatada e monótona vida de província, continuando a escrever bucólicas crónicas sobre agricultura e animais. No mundo de hoje quantos de nós seguiríamos este caminho, quantos de nós negaríamos o sucesso, trocando-o por uma tranquila e anónima vida familiar de província?

Feher

A noite de ontem foi marcada pela morte, por uma tragédia seguida quase em directo. Uma situação impressionante em que a morte súbita nos fez dar graças à vida. Um momento que nos redimimos com a vida que tantas vezes menosprezamos, criticamos, ridicularizamos. Tudo perde o sentido quando nos deparamos com finais assim, repentinos, inesperados.
Todas estas palavras são já muitas. As imagens que vimos - assim como as reflexões que despertaram - foram mais do que suficientes. Paz à sua alma.

23.1.04

PCP

O Secretário-geral do PCP anunciou ontem que o partido estava em crescimento. Parece que em 2003 aderiram 1450 novos camaradas, dos quais 40% com menos de 30 anos (para além de 1017 novos filiados da JCP).
Será que há neste país um surto de loucura que leve gente nova, e supostamente de ideias um pouquinho mais modernas, a aderirem a um fóssil cada vez menos vivo?
O modo como o PCP continua a manter-se, e até a cativar jovens, é algo que me transcende. Os dirigentes actuais primam por uma dinâmica capaz de adormecer o mais hiperactivo - Dra. Odete à parte, mas também ela agora anda mais pelo Parque Mayer.
Portugal é realmente um país estranho.

21.1.04

O tom do Governo

Ainda é cedo para saber se este é um bom ou mau governo. Já teve a sua quota-parte de escândalos, demissões, Ministros fantoche e invisíveis. A remodelação, há muito pedida, vai sendo adiada. Tudo isto contribuiria para a crítica imediata, para o escárnio. Não o consigo fazer mas não sei porquê. Acho que é do tom.
O que gosto neste governo é do tom, da sóbria firmeza que tem mostrado, da vontade de mudar, do diálogo em doses q.b. Já tive de aturar a prepotência, a arrogância e o autismo do nosso "ditador democrático". Já tive de adormecer perante um insistente diálogo, desesperar com a ineficiência e com o imobilismo do nosso "Engenheiro do sorriso perene". Temos agora outro estilo, ou pelo menos vários estilos no mesmo governo mas que se complementam.
Acredito que este não seja um grande governo, tenho aliás vários motivos de crítica, mas o tom agrada-me. Acho que pelo menos é um governo como o deve ser numa normal democracia: dialogante mas firme, tentando o consenso mas agindo, com convicções mas sem paixões.
Tudo isto é verdade, mas irrita-me apenas uma coisa, falta-me o despropósito do cavaquismo para poder ter alvos do meu verberar. Ás vezes faz falta um boneco para bombardear com bolas. Bolas!

20.1.04

Falta tempo, falta paciência. Dias há em que o blog é como uma criança chorona, mal criada, apetece bater. Apetece pôr de castigo com orelhas de burro, massacrar com carolos ou puxar as orelhas. Não apetece escrever.

16.1.04

História de Província

Num jornal de província, H. escrevia semanalmente a sua coluna. Como em qualquer meio pequeno, era por todos conhecido e respeitado. Há alguns anos que escrevia nos jornais, sempre com opiniões frontais, descomprometidas e independentes. Escrevia bem, numa prosa escorreita e irónica, com um estilo muito próprio.
A Câmara Municipal actual, de um partido do lado oposto do seu, era agora o seu alvo favorito. As ligações obscuras à construção civil iam sendo denunciadas, ora claramente, ora de forma subtil para evitar processos. A carga era semanal e a C.M., sem tremer pelo forte apoio popular que tinha, temia a sua coluna.
No mesmo jornal escreviam apoiantes da C.M. com opiniões quase sempre opostas ás de H. Certo dia uma forte polémica foi desencadeada com um seu colega de jornal. Sucederam-se as semanas e a polémica ia em crescendo, atingindo tons viscerais e quase agressivos. Curiosamente outros dois colunistas do mesmo jornal alimentavam uma polémica distinta e um outro era quase insultado periodicamente no correio dos leitores. O jornal era neste momento absolutamente imperdível. Como se pode imaginar, numa pequena cidade as notícia correm depressa e não se falava de outra coisa.
A polémica arrefeceu um pouco e H. foi-se dedicando a outros assuntos. Num artigo subtil alegou ligações pouco claras da C.M. com o pequeno clube de futebol local. Uma semana depois deixou de escrever para o jornal. O director do jornal, ligado de qualquer forma ao clube, dispensou os seus textos.
Portugal é um país realmente curioso. Pode-se verberar contra as instituições (e ainda bem porque, afinal, ainda somos uma democracia), pode-se entrar em polémicas pessoais e mesmo insultar (para isso há a lei e os processos por difamação), agora falar mal do futebol...

15.1.04

Um filme

Na calma noite de ontem optei pela companhia de um clássico: "O Vale era Verde" de John Ford. Escolha muito difícil de superar.
Este é um filme em que perfeição é a palavra-chave. O argumento é extraordinário, não apenas na história, mas particularmente na forma como esta é escrita. Os diálogos são belíssimos. A encenação quase operática, magnificente, realçada por um preto e branco pleno de contrastes. Os actores em perfeita encarnação no espírito da história. Um realismo assombroso sem que se perca a fortíssima, e dificilmente igualável, noção estética.
Os momentos de antologia abundam, desde os confrontos familiares em redor da greve ás cenas que abrem e fecham o filme. Inesquecível o último sermão do reverendo em que põe a nu a cobardia dos fariseus.
Que bom seria que o Cinema fosse mais vezes assim.

Uma exposição

Uma sugestão ainda atempada (até 21 de Janeiro) para uma exposição a não perder: "Francisco Caldeira Cabral e a Primeira Geração de Arquitectos Paisagistas: 1940-1970".
A justa, mas tardia, homenagem ao "Pai" da Arquitectura Paisagista em Portugal, que muitos desconhecem. A sua obra vasta obra inclui o projecto para o Estádio Nacional e muitos espaços urbanos em Lisboa. Tão importante, ou mais, do que a sua obra é o legado que deixou e que permanece até hoje nos Arquitectos Paisagistas portugueses. O curso "nasceu" em Portugal com ele e desta primeira geração faz parte, entre outros, Gonçalo Ribeiro Telles que, nomeadamente pela sua actividade política, se tornou o porta-estandarte "desta Arquitectura" tantas vezes ignorada.
Na exposição percorremos os projectos deste "Mestre" e dos seus discípulos culminando na obra-prima dos jardins da Fundação Gulbenkian, local onde decorre a exposição. O catálogo é excelente e vale, definitivamente, o preço.
Destaco ainda um vídeo da inauguração do Estádio Nacional que, com o devido distanciamento, se torna uma irresistível peça de humor. O comentador em voz solene anunciando a entrada de Salazar como "campeão dos campeões" e a adjectivação pomposa de toda a peça transforma-a numa peça de arqueologia social. Uma delícia vista à distância, sem a magnificência de Leni Riefensthal é ainda assim um belíssimo exemplo de Propaganda.

13.1.04

O Capote Alentejano

Gosto muito de capotes alentejanos, acho-os bonitos e um dos traços de genuinidade de uma região. Talvez seja dos poucos trajes típicos portugueses, a par da prima samarra, com uso mais ou menos corrente. Não vivesse eu em Lisboa, onde de facto nunca faz frio à séria, e já teria cobiçado o de meu Pai. Teria, digo bem, teria.
Desde que Saramago - o José - fez sair a sua sempre carrancuda e zangada com o mundo cabeça por entre a pele de raposa que fiquei de pé atrás. Depois...
Hoje acendo a televisão para as notícias da tarde e assusto-me. A omnipresente Ana Gomes aparece de capote alentejano, ás portas da Assembleia, vociferando (quase rugindo) contra os hipócritas que não permitem o aborto. (Chegado aqui pergunto, não vão as organizações de defesa dos animais, tradicionalmente de esquerda, manifestar-se contra o uso de peles de raposa?) Sim, os hipócritas, como eu, que respeitam a vontade expressa pelo povo português de forma democrática. Repito democrática. Claro que a vontade do povo pode mudar, mas não se deve dar um pouco mais de tempo antes de fazer mais uma consulta sobre o tema? Será possível fazer uma recolha de assinaturas para que não haja referendo?
Acho que temos o direito de viver em democracia, mesmo contra a arrogância moral da esquerda, mesmo contra a falta respeito que a esquerda têm quando a vontade povo não é a sua.
Por estas e por outras é que o capote continua no baú, mal por mal vou usando a canadiana, é menos nacionalista mas pelo menos não me traz más imagens.

12.1.04

Sítios

As vidas são marcadas por sítios, por lugares onde passámos, onde tudo aconteceu e acontece. As memórias levam-nos sempre à rua ou casa onde algo se passou. Nas deambulações nostálgicas há sítios recorrentes, onde regressamos com gosto, nem que só em pensamento. São os lugares especiais por momentos vividos, pela sua estética ou por motivos imperceptíveis. Por este ano fora espero passar em alguns desses lugares, em pensamento, na realidade e - porque não - no imaginário deste blogue.

O Tempo na Pedra


Jardins de Versailles, França, 2001

8.1.04

Centros

Os centros urbanos parecem, depois do fecho das lojas, autênticas cidades fantasma. As cidades são feitas de gente, que nelas dorme e trabalha, se desloca e vive. É essencial que no centro haja movimento, moradores entrando e saindo de casa, entrando nos cafés de bairro após jantar.
A Baixa, centro oficioso de Lisboa, é, depois das oito horas, um deserto perigoso. Na última vez em que nela me passeava com os meus pais, detive-me numa montra e logo me ofereceram haxixe ou outras drogas e depois uma máquina fotográfica, obviamente roubada. Assim não dá.
O movimento dos habitantes, a certeza de que um grito é ouvido por alguém, que o vizinho de cima pode tomar conta da casa na nossa ausência. No fundo a sensação provinciana de viver numa comunidade que cada vez mais se perde nas grandes metrópoles. Em Lisboa ainda há zonas assim, como Campo de Ourique. Alfama e Graça são outro exemplo, onde o espírito ainda existe, talvez na sua forma mais pura, mas a degradação urbana toma, nalguns casos, proporções inacreditáveis. A reformulação urbana não se faz por decreto. Faz-se proporcionando o restauro dos edifícios, de preferência de forma rigorosa e respeitosa com a arquitectura dos mesmos. Não creio na transformação de bairros tradicionais nem em zonas "very typical" de matronas batendo em crianças à porta de casas miseráveis, nem em locais absurdamente caros que deturpam o conceito de bairro.
Parece utópico mas a cidade em que acredito é esta, com bairros mais caros e mais baratos, mas com uma alegre mistura, sem fronteiras rígidas, sem guettos falsos ou reais. Sem os condomínios fechados, que mais não são do que isto, falsos édenes, que em nada contribuem para a vida comunitária e que parecem uma versão capitalista de comunas fechadas ao mundo. Ainda não temos, felizmente, a criminalidade do Rio de Janeiro, essa sim justifica estes guettos. Lisboa foi assim, uma cidade de bairros, de pequenos provincianismos e saudáveis bairrismos, e pode voltar a sê-lo. A Graça sempre alternou casas populares com belos palácios, e Alfama, e a Madragoa. O bairro típico de Lisboa é assim, uma confusão de gentes e culturas. Assim se consiga manter o pouco que existe, sem estagnamos numa visão miserabilista de conservação degradada, ou embarcarmos em devaneios de construção em zonas sensíveis como estas.

7.1.04

Máquina Nova

Para este novo ano prometi-me um presente.
O meu computador, a que carinhosamente chamo "O fóssil", arrastava-se penosamente desactualizado desde há longos tempos atrás. Apesar do carinho que habitualmente ganho aos objectos, por este nada conseguia sentir. Aliás, senti por muitas, demasiadas, vezes uma quase irreprimível vontade de o arremessar pela janela. Monitor incluído, sim, esse que agora tinha imagem baça e de vez em quando flashava (não, não ando a tomar ácidos) sem aparente motivo.
Foi então com enorme satisfação que anteontem fui buscar o meu novo companheiro, preto, sem fios e, especialmente, actualizado e com um enorme ecrã. Parece que entrei numa nova dimensão informática, rápida e mais eficaz. Até o Blogger está diferente, agora que uso o Windows XP.
Acabei o dia a rever, na máquina nova, o belíssimo filme de Woody Allen "Toda a gente diz que te amo". Que boa maneira de começar o ano.

6.1.04

Mar Nocturno dos Açores


Urzelina, São Jorge, Açores, 2003

Sporting

Anteontem o Sporting resolveu, pelo menos por uma vez, jogar futebol com garra e alguma qualidade. O Engenheiro, também por uma vez, jogou ao ataque e sem receios, acertando nas substituições.
Conclusão, ganhámos na Luz e o título ainda não uma total miragem.
Bom início de 2004 para as bandas de Alvalade. Ainda bem.

2004 Versão optimista

No 2004 dos meus pensamentos mais insanamente optimistas, isto é o que se vai passar.
O caso Casa Pia será resolvido, de forma inquestionável, e os culpados serão severamente punidos. Não me interessa se são os que estão presos, se estes e outros, se somente outros. O povo respirará de alívo e acreditará por uma vez na justiça da justiça em Portugal.
O governo contornará a crise e todos poderemos alargar ostensivamente o cinto. A Ministra das Finanças estará ao longo do ano com invejáveis í­ndices de popularidade, sendo aclamada efusivamente pela população em qualquer local que passe.
O Sporting será campeão nacional, depois de uma série de dezassete jogos sem perder. Fernando Santos cumprirá a promessa de fazer a pé uma digressão pelos dez estádios do Euro, finalizada com um retiro de uma semana em Fátima.
Scolari será agraciado com a Ordem do Infante, depois de levar a nossa selecção à  vitória no Euro 2004. Invicta e praticando um futebol de sonho, Portugal deslumbra o mundo, tornando-se campeão incontestado do campeonato que organizou. Os árbitros passam discretos e Baía fica no Porto a ver os jogos pela televisão. Consta que Pinto da Costa comeu um chapéu, devido à promessa de que o faria se Scolari fosse campeão sem jogar com Baía.
Mário Soares contrai uma estranha fobia que o impede de dar entrevistas a televisões, rádios e jornais. A doença é aparentemente contagiosa e Freitas do Amaral e Manuel Monteiro são contaminados.
O Rock in Rio cria um palco intimista, para o qual programa Chico Buarque, João Gilberto, Caetano Veloso, Maria Rita e Marisa Monte. No registo mais mexido os U2 confirmam a sua presença.
George Bush resigna por motivos desconhecidos e é sucedido por um representante da ala anti militarista do Partido Republicano.
Ana Gomes é nomeada embaixatriz no Burundi, com ordens expressas de não estabelecer contactos com o país de origem.
O grupo Media Capital, baseado num aturado estudo de marketing de uma empresa estrangeira, transforma os conteúdos dos seus canais num sucedâneo do ARTE.
Manuel de Oliveira realiza um filme de acção que é nomeado para o Óscar do melhor filme estrangeiro e ganha. Leonor Silveira acompanha-o a Los Angeles e é descoberta por Hollywood. A cerimónia dos óscares decorre de forma inédita com o empate nos Óscares de melhor filme e de melhor realizador entre Clint Eastwood por "Mystic River" e Peter Jackson por "Senhor dos Anéis: O Regresso do Rei."
Santana Lopes tem uma visão e desiste da candidatura à Presidência da República. Concentra-se em Lisboa e começa, de facto, a fazer qualquer coisa pelos alfacinhas. Os ministérios são expulsos, com apoio das massas, do Terreiro do Paço ao som de gritos "Terreiro para os lisboetas, burocratas para a Alta de Lisboa."
O Bloco de Esquerda assume a sua postura de "esquerda caviar", ao comemorar o seu aniversário num jantar na Bica do Sapato, seguido de restrita festa no Lux.
A esquerda tem um ataque de humildade e percebe que os portugueses já exprimiram a sua discordância com o aborto. O assunto cai no esquecimento.
O Iraque pacifica-se e Bin Laden é capturado com umas barbas ainda maiores do que as de Sadham. Israel e a Palestina entendem-se de forma aparentemente milagrosa, dando início a um sólido processo de paz.
Infelizmente não sou optimista.

3.1.04

Intermitência festiva

A época é de calma, de vindas esporádicas à Net, de preguiça na escrita.
O recolher ao porto de abrigo provinciano, o viver calmo e frio. As tardes perdidas em passeios iluminados pelos raios brilhantes de sol de Inverno. Os lanches de fim de tarde, chá e torradas, já à braseira. As noites passadas em serões provincianos que ainda existem. O gélido sair de casa com o vento cortante, embrulhado em cachecóis, em direcção à casa de alguém. A entrada direito à lareira, tentando aquecer o corpo. As conversas longas, quantas vezes sem sentido, quantas vezes do tipo paisagem. As ceias ás três da manhã, ainda no meio da noite, com sugestões de seguir em jogos de cartas ou DVD's. O tempo diferente, quantas vezes esquecido na vida em Lisboa.
A tudo isto acresce a época festiva, o burburinho da família junta. As crianças amuando. Os doces comidos compulsivamente, levando o colesterol a saltos estratosféricos. O egoísta ignorar do mundo lá fora, criando uma muralha em redor da casa. Assim se passa, assim se passou e passará por mais um fim de semana. Segunda-feira tudo voltará ao normal, e este blog também terá uma maior regularidade. Até lá, ou talvez até antes, um bom fim de semana.

Casa Pia

A telenovela voltou. Até o tempo permitir a escrita de uma posta decente sobre o assunto, recomendo o que vai escrevendo na Grande Loja (link ao lado).