13.1.04

O Capote Alentejano

Gosto muito de capotes alentejanos, acho-os bonitos e um dos traços de genuinidade de uma região. Talvez seja dos poucos trajes típicos portugueses, a par da prima samarra, com uso mais ou menos corrente. Não vivesse eu em Lisboa, onde de facto nunca faz frio à séria, e já teria cobiçado o de meu Pai. Teria, digo bem, teria.
Desde que Saramago - o José - fez sair a sua sempre carrancuda e zangada com o mundo cabeça por entre a pele de raposa que fiquei de pé atrás. Depois...
Hoje acendo a televisão para as notícias da tarde e assusto-me. A omnipresente Ana Gomes aparece de capote alentejano, ás portas da Assembleia, vociferando (quase rugindo) contra os hipócritas que não permitem o aborto. (Chegado aqui pergunto, não vão as organizações de defesa dos animais, tradicionalmente de esquerda, manifestar-se contra o uso de peles de raposa?) Sim, os hipócritas, como eu, que respeitam a vontade expressa pelo povo português de forma democrática. Repito democrática. Claro que a vontade do povo pode mudar, mas não se deve dar um pouco mais de tempo antes de fazer mais uma consulta sobre o tema? Será possível fazer uma recolha de assinaturas para que não haja referendo?
Acho que temos o direito de viver em democracia, mesmo contra a arrogância moral da esquerda, mesmo contra a falta respeito que a esquerda têm quando a vontade povo não é a sua.
Por estas e por outras é que o capote continua no baú, mal por mal vou usando a canadiana, é menos nacionalista mas pelo menos não me traz más imagens.

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