O assunto é recorrente, e ao longo desta semana tornou-se inevitável. Depois de ontem o ter referido por boas razões, hoje o sentimento é contrário. Ontem, esperando já o circo mediático dos privados, acompanhei o Telejornal da RTP1 em busca de informação mais sóbria. Erro crasso. A reportagem do nosso canal privado excedeu, em tudo, os piores receios. No velório no Estádio da Luz o repórter parecia ter encarnado em comentador social, da Caras ou afins, mas em versão macabra. Debitava o nome dos presentes pouco faltando para lhes comentar as roupas, fazia perguntas quase do tipo "como é que se sente neste momento", esqueceu de forma inacreditável que o acontecimento que cobria era um velório, onde deve haver respeito e contenção, e não uma qualquer festa do Jet Oito português. Mas isto não bastou. A equipa de reportagem seguiu até à Hungria para seguir o enterro de Feher, onde manteve o nível, agravado por comentários acerca da expressão da mãe perante o caixão do filho e outras alarvidades do género. O único qualificativo que me lembro para esta ignomínia é mesmo o de pornografia emocional, tudo o que se diga de menos é de uma condescendência inaplicável a este caso.
O nosso canal público tem dado sinais de melhora, mas parece difícil combater algumas mentalidades que ainda não perceberam a diferença entre informar e agredir. Estas peças passaram ás oito da noite, hora em que as crianças estão em frente à televisão com a família. Não tenho filhos, mas seria muito difícil – caso os tivesse – comentar esta invasão brutal da privacidade e intimidade, esta exposição cruel dos sentimentos da família e amigos de alguém a quem o destino pregou uma enorme e trágica partida.
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