16.1.04

História de Província

Num jornal de província, H. escrevia semanalmente a sua coluna. Como em qualquer meio pequeno, era por todos conhecido e respeitado. Há alguns anos que escrevia nos jornais, sempre com opiniões frontais, descomprometidas e independentes. Escrevia bem, numa prosa escorreita e irónica, com um estilo muito próprio.
A Câmara Municipal actual, de um partido do lado oposto do seu, era agora o seu alvo favorito. As ligações obscuras à construção civil iam sendo denunciadas, ora claramente, ora de forma subtil para evitar processos. A carga era semanal e a C.M., sem tremer pelo forte apoio popular que tinha, temia a sua coluna.
No mesmo jornal escreviam apoiantes da C.M. com opiniões quase sempre opostas ás de H. Certo dia uma forte polémica foi desencadeada com um seu colega de jornal. Sucederam-se as semanas e a polémica ia em crescendo, atingindo tons viscerais e quase agressivos. Curiosamente outros dois colunistas do mesmo jornal alimentavam uma polémica distinta e um outro era quase insultado periodicamente no correio dos leitores. O jornal era neste momento absolutamente imperdível. Como se pode imaginar, numa pequena cidade as notícia correm depressa e não se falava de outra coisa.
A polémica arrefeceu um pouco e H. foi-se dedicando a outros assuntos. Num artigo subtil alegou ligações pouco claras da C.M. com o pequeno clube de futebol local. Uma semana depois deixou de escrever para o jornal. O director do jornal, ligado de qualquer forma ao clube, dispensou os seus textos.
Portugal é um país realmente curioso. Pode-se verberar contra as instituições (e ainda bem porque, afinal, ainda somos uma democracia), pode-se entrar em polémicas pessoais e mesmo insultar (para isso há a lei e os processos por difamação), agora falar mal do futebol...

Sem comentários: