A pequena casa estava quente e acolhedora, humilde como sempre foi, lar de gente pobre. O refogado indiscreto pairava no ar muito para além da cozinha. Ana aprendeu cedo que não é essencial dinheiro para comer bem, ensinou-o sua avó na pequena casa, no Alentejo, onde sempre morou. O talento evoluiu e hoje consegue de pão duro ou restos de carne fazer pratos deliciosos. O Natal merece mesmo assim mais, por isso há alguns anos que decidira, com o marido e os filhos, que este era dia de comer ainda melhor, mesmo que com isso deixasse de haver presentes bons. O Natal era a festa deles os quatro, sentados em redor da mesa a comer bem ao longo das várias horas que antecediam a Missa do Galo, e nas seguintes com o chocolate quente e as filhoses. Os presentes existiam, mas era proibido comprar fosse o que fosse já feito, pois cada um fazia os presentes que dava. Eram simples símbolos da amizade que, ainda para além dos laços familiares, os ligava. O dinheiro não esticava e preferiam aplicá-lo num bom peru e no vinho do Porto. O prodígio tinha sido conseguirem que os filhos, hoje com catorze e dezasseis anos, sempre tenham entendido o que para eles era a essência do Natal – a festa mãe da sua religião e o dia da sua família.
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