"Com um país endividado e a caminho da falência, a Câmara de Paredes tenciona desfraldar a bandeira.
João Pereira Coutinho in "Correio da Manhã"
em Portugal
Claro que Saramago ganhou o Prémio Nobel, como vários "camaradas" que não valiam nada, e vendeu milhões de livros, como muita gente acéfala e feliz que não sabia, ou sabe, distinguir a mão esquerda da mão direita. E claro que o saloiice portuguesa delirou com a façanha. Só que daí não se segue que seja obrigatório levar a criatura a sério. Não assiste a Saramago a mais remota autoridade para dar a sua opinião sobre a Bíblia ou sobre qualquer outro assunto, excepto sobre os produtos que ele fabrica, à maneira latino-americana, de acordo com o tradição epigonal indígena. Depois do que fez no PREC, Saramago está mesmo entre as pessoas que nenhum indivíduo inteligente em princípio ouve.
Oregime de liberdade, aliás relativa, em que vivemos permite ao primeiro transeunte evacuar o espírito de toda a espécie de tralha. É um privilégio que devemos intransigentemente defender. O Estado autoriza Saramago a contribuir para o dislate nacional, mas não encomendou a ninguém? principalmente a dignatários da Igreja como o bispo do Porto - a tarefa de honrar o dislate com a sua preocupação e a sua crítica. Nem por caridade cristã. D. Manuel Clemente conhece com certeza a dificuldade de explicar a mediocridade a um medíocre e a impossibilidade prática de suprir, sobre o tarde, certos dotes de nascença e de educação. O que, finalmente, espanta neste ridículo episódio não é Saramago, de quem - suponho - não se esperava melhor. É a extraordinária importância que lhe deram criaturas com bom senso e a escolaridade obrigatória.
Fiquei incrédulo ao ouvir António Costa declarar, no “Esmiuça os sufrágios”, que Santana Lopes queria tirar o Instituto Português de Oncologia para o substituir por um parque de diversões. Dito assim, “tout court”, como se fosse uma troca por troca de alguém que achava a diversão mais importante do que o cancro. Esta não é uma interpretação pessoal, ele disse mesmo isto e com esta intenção clara. A coisa não foi sequer uma gaffe, pois pode ler-se num post do blog da candidatura de António Costa: “Enfim, para quê cuidados de saúde quando podemos ter farturas e algodão-doce?” assinado por um tal Tiago Antunes.
O cavaquismo está em exéquias e não devemos deixar a múmia de Belém terminar o seu mandato com dignidade, apenas porque a não merece. Se a direita quer voltar a ser o poder deve começar por procurar de um candidato presidencial.
P.S. Post baseado numa ideia dada por uma amigo ao telefone, enquanto constatávamos que o senhor que está em Belém nunca nos enganou.
Pergunta desconcertante. Graçola estudada de introdução, mudança de postura e resposta séria, convencional e politicamente correcta. Foi com este guião, bem preparado por assessores, que Sócrates se sentou frente a Ricardo Araújo Pereira (RAP). Bom actor, com a bonomia estudada e sorriso complacente. A espontaneidade foi estando ausente e as graçolas foram oscilando entre o estilo Camilo de Oliveira e o “Euro Nico”.
Pergunta desconcertante. Pausa e resposta espontânea, inteligente e irónica. Manuela Ferreira Leite replicou a RAP na mesma linguagem e sem guião. Prestou-se ao improviso e este saiu bem. Conforme os momentos lembrei-me de Monthy Phyton e de “The Office”.
Tenho para mim que o sentido de humor é uma superior forma de inteligência.
A notícia da criação de um Museu Ibérico de Arqueologia e Arte em Abrantes deixou-me com enorme expectativa. Não é todos os dias que um museu é criado, ainda mais na nossa terra e com as interessantes colecções que para este se prevêem: Colecção de Arqueologia da Fundação Estrada e doações das colecções pessoais de Maria Lucília Moita e Charters de Almeida. A expectativa aumentou ao saber que havia sido escolhido o Arquitecto Carrilho da Graça para desenhar o edifício. Fiquei a esperar o melhor. E esperei até desesperar perante a maquete apresentada, na qual pensei que havia alguém com muito sentido de humor a querer fazer um qualquer ensaio académico sobre como não implantar um edifício na malha urbana. Infelizmente tratava-se, de facto, do projecto do novo museu abrantino.
Quando discuto arquitectura e o seu diálogo com as cidades, insisto em dizer que mais do que o traço, o que me importa é a volumetria e o enquadramento. Para a harmonia de uma cidade é muito mais lesivo um grande volume bem desenhado, mas mal enquadrado, do que um pequeno edifício feio, mas bem enquadrado. No fundo é também isto que distingue a arquitectura da escultura. Entre as zonas mais sensíveis a estes enquadramentos estão, obviamente, as linhas de festo ou cumeada, ou, em linguagem mais popular, os cimos dos montes. Abrantes é uma cidade que se desenvolveu a partir do topo da colina e em que o relevo é decisivo na sua definição urbanística. Tomam assim importância acrescida as zonas do Castelo e do Convento de São Domingos, quer pelos edifícios, quer pela privilegiada vista que daí se pode usufruir, quer pelo seu impacto em quase todas as vistas para a cidade. Estes edifícios, sábia e humildemente construídos há muitos anos, souberam adaptar-se ao local, mostrando-se bem, mas com bastante pudor, não se impondo à cidade e à paisagem que encontraram.
Tendo em conta o curriculum do Arquitecto Carrilho da Graça, era isto que esperava, um bom traço de arquitectura, elegante e vistoso, que respeitasse o local para o qual era desenhado. Daí a surpresa ao descobrir um paralelepípedo com uma colossal volumetria, que tanto poderia ter sido desenhado para o deserto do Sahara como para uma megacidade como Tóquio. Seguramente não foi desenhado a pensar neste local, fico até com a dúvida se o senhor arquitecto se dignou a visitar Abrantes para além do dia em que veio assinar o contrato. Acho esta dúvida legítima em respeito ao curriculum do Arquitecto Carrilho da Graça e às obras que já nos deixou, além de uma justificação para o tamanho disparate com que quer brindar Abrantes.
No mundo de hoje, os arquitectos estrelas adquiriram uma força sobre os autarcas sedentos de afirmações de poder, cujos paralelos remontam a regimes antigos e de má memória. Basta a sua assinatura para tudo ser tolerado e aplaudido com uma reverência provinciana, de quem se vê perante a possibilidade de ter na sua cidade um edifício “de autor”, a exemplo de Ghery em Bilbau que criou invejas e desejos de réplicas que ainda mais aguçaram o novo-riquismo. Felizmente ainda há quem consiga por os grandes egos na ordem, caso da Baronesa Thyssen que “obrigou” Siza Vieira a alterar o seu projecto para o Passeio do Prado, evitando assim o abate de árvores centenárias para darem lugar a betão, com a ameaça de retirar o museu do edifício em que se encontra. O problema é que “armas” destas não são fáceis de encontrar para travar os projectos.
A cidadania, ainda imberbe em Portugal, vai no entanto crescendo, sendo reconfortante verificar a justa indignação abrantina na adesão à petição que circula na internet – “Petição por uma decisão democrática sobre o Museu Ibérico de Abrantes”, – e agora também em papel, a favor de um adequado debate sobre este projecto.
Que isto faça pensar quem de direito.