16.1.07

Idiossincrasias

Quando o Inverno assenta arraiais, os jantares mais agradáveis são, sem qualquer dúvida, os caseiros e provincianos. Apesar de todos os atractivos de Lisboa, quando o frio se torna uma realidade a melhor maneira de o acompanhar é mesmo numa casa bem aquecida, em grupo restrito e sem bárbaros nas mesas ao lado para nos maçar. Não há o incómodo de conhecer novas gentes com as quais nos sentimos na obrigação de ser simpáticos, mesmo quando o seu interesse não é maior do que o da liga de Andebol da Albânia. Apenas nos rodeamos de velhos conhecidos com quem não precisamos de mais atenção do que a de não nos embriagarmos superando os limites do razoável.
A preocupação que me resta é o espectro da velhice que me assombra em tempos frios, e o medo de que a primavera não venha a ser suficiente para evitar que me torne num rezingão habitante de Lisboa a suspirar por serões provincianos o mais século dezanove que seja possível. Claro que não preciso de chegar à primavera e, no espaço de um ou dois dias, Lisboa volta a piscar-me o olho como o fez na passada sexta-feira, em que a tarde arrastou a impossibilidade de uma “magic-hour” de luz em que o tempo parecia ter feito pausa ao amanhecer apenas voltando a andar ao pôr-do-sol. Não é fácil de acreditar, mas apetecia sair de máquina fotográfica em punho e deambular pelas ruelas estreitas viradas ao rio e encher rolos e rolos com imagens impossíveis de uma cidade por vezes tão feérica que duvidamos da sua existência.

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