Claustro da Basílica do Bom Jesus, Velha Goa, 2004
A propósito da viagem presidencial à Índia, muito se tem falado de história, de nostalgia e de memória. Foi muito apreciado o distanciamento sobre o nosso passado por essas terras distantes. O que interessa agora é o futuro, as novas tecnologias e o Silicon Valley indiano. Neste país cada vez mais tecnocrático, o passado é coisa longínqua e a esconder, a esquecer em nome da eficiência e de uma suposta diplomacia económica que nos seja conveniente. O Portugal que se vem construindo faz por esquecer que, talvez por um acaso, a história de Portugal vai um pouco atrás e, imagine-se a lembrança, tem quase nove séculos.
O esquecimento da história nunca trouxe nada de bom, ignorar o passado em nome do futuro será sempre um redondo disparate pois nós, pessoas ou, no caso, países, somos um somatório de memórias que nos tornou o que somos hoje. Recusar olhar para trás, não numa romagem de saudade e autismo, mas numa compreensão de factos, acontecimentos e feitos, é recusar aprender com erros cometidos ou negligenciar uma identidade que é o alicerce mais forte de um país. Os estados, como as pessoas, não gostam de afrontamento directo, mas respeitam mais um aliado, ou amigo, que afirme a sua identidade e personalidade, do que uma entidade inócua que se lhes apresenta subserviente.
Portugal não devia, como é evidente, aproveitar a viagem à Índia para efectuar comícios sobre a invasão de Goa, Damão e Diu. Foi um acto de guerra evidente, que contrariou todo o direito internacional, mas não terá tido também o Estado Português, à época, uma atitude irresponsável e disparatada? Independentemente disso, o tempo passou e hoje Goa é parte inquestionável da Índia. O que não é admissível é que em Goa seja tão difícil manter as raízes de uma cultura indo-portuguesa que persiste em resistir, sem que o nosso Estado algo faça para ajudar. O que não é admissível é que Goa seja tido como um caso perdido, logo esquecido. Um país que não sabe conviver com as suas memórias é um país fraco, pouco respeitável, e na Europa, e mundo, da actualidade esse pecado poderá pagar-se muito caro em tempos futuros. Portugal pode ser um país de modernidade Socrática, mas para o ser não tem de esquecer a história que o fez ser um país de facto.
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