16.1.07

Que país!

O meu “mapling” de anteontem coincidiu com a apresentação dos cinquenta melhores portugueses, no que contribuiu para uma noite hilariante que suplantou o programa do “Gato Fedorento” que tinha passado antes. Quando o programa terminou, e desci à realidade depois de um filme surrealista, tive firme de vontade de chorar, ou de emigrar. Claro que votações destas não são para levar a sério, o povo gosta de concursos e ás vezes resolve, talvez pelo vício de estar sempre de telefone na mão, talvez por se lembrar dos anos em que não podia votar, dar a sua opinião sob a forma de diarreira votante. Fosse o povo uma entidade homogénea e de imediato teria de ser enviado para um psiquiatra, pois a lista final é, no mínimo, absolutamente esquizofrénica.
Os dez primeiros são, dentro da restante anormalidade, um saudável oásis de sensatez, isto, é claro, se não nos importarmos que, em pleno século XXI, duas personalidades absolutamente anti-democráticas, duas faces da mesma moeda do Portugal recente, sejam incensadas e, pasme-se, considerados “Grandes Portugueses”. Nesta companhia até serão esquecidos os crimes perpetrados pelo eminente Marquês de Pombal, também ele nos dez primeiros. Os restantes serão mais consensuais, o que nem é o mais importante, mas pelo menos são escolhas aceitáveis, discutíveis como quaisquer outras, mas aceitáveis, a saber: D. Afonso Henriques, Aristides de Sousa Mendes, Fernando Pessoa, Infante D. Henrique, D. João II, Camões e Vasco da Gama. Não está mal, afinal sempre temos sete escolhas naturais em dez, já no restante…o melhor é até agrupar por categorias: os “delirantes” Maria do Carmo Seabra – por certo a irónica candidata da sempre activa FENPROF, Hélio Pestana – o auto denominado actor de novelas, Vítor Baía, Pinto da Costa – pretenso bandido, Catarina Eufémia, Mariza e Sousa Martins; os “obscuros” João Ferreira Annes de Almeida – padre luterano, Teixeira Rebelo – fundador do Colégio Militar, Adelaide Cabete, António Andrade – padre missionário; os “de grandes provas dadas” Cristiano Ronaldo, Ricardo Araújo Pereira e Mourinho; os “criminosos” Afonso Costa, Otelo e Vasco Gonçalves; os “enormes” políticos Sócrates, Pintassilgo, Jardim, Sampaio, Cavaco e Marcello Caetano. Enfim, uma amálgama de disparates, sobre valorizações e escolhas que, pensando bem, apenas se podem dever a uma fina ironia que desconhecia aos portugueses.

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