A cabeça vazia, como se um aspirador nos tivesse extraído as entranhas. Os ouvidos quase surdos, o som filtrado por forma estranha. O nariz aberto como uma torneira. A tosse esporádica mas avassaladora, com os pulmões tentando saltar, sustidos sem saber como. A febre, nem alta nem baixa, antes pelo contrário. A gripe, ou, na linguagem mais na moda, a virose.
Assim estou desde há dois ou três dias, resumido ás vantagens e desvantagens de casa. A um computador que não me apetece ligar, talvez pelo trabalho que dá sair da sala de estar, talvez pela excessiva informação que dele sairía. Os livros amontoados na mesa de cabeceira, uns a meio outros virgens, que a vontade é ter vontade de os arremessar pela janela - não fosse o enorme esforço de me ter de arrastar até ela, mantendo energias para os conseguir atirar. As revistas, vistas e revistas, especialmente nos seus artigos menos interessantes e estimulantes, numa tentativa de baixar o exercício cerebral ao mínimo possível.
A televisão surge como a solução final, a melhor companhia, não fosse o "zaping" um exercício fundamental mas perfeitamente inútil. Termino quase sempre a ver tele-vendas ou equivalentes do tipo programas da TVI. O vídeo seria a solução milagrosa - sim, ainda não aderi ao DVD e a minha televisão é mais pequena que o monitor do computador - não tivesse o meu, por certo por solidariedade, avariado a função de "rewind". Restam-me assim as cassetes que previamente tenha rebobinado, o que no meu caso são poucas, desgraçadamente poucas. Safam-se algumas, revejo assim "A Desaparecida" e "Notorious" do grande Hitchcock.
Apesar de todas as tentativas a agonia mantêm-se, não é esta afinal a maior característica da gripe, fazer com que nos sintamos tão indefinivelmente mal.
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