Em tempos em que a discussão entre esquerda e direita, e o que de facto as distingue, é cada vez mais actual, parece pertinente perguntar qual será a ideologia do Pai Natal.
Partamos do princípio de que ele existe, sim, que este senhor vive algures na Lapónia e nos visita, de forma estranhamente ubíqua, uma vez por ano.
A argumentação primeira, aquela em que todos pensarão, é que o senhor é caridoso, que distribui presentes por todos, que é solidário, que não é um capitalista interesseiro, já que nada cobra pelo seu serviço. Até aqui, segundo os chavões habituais, ele é sem dúvida de esquerda. Mas os presentes que ele entrega aos ricos são melhores que os dos pobres, será ele um porco capitalista entregue à distinção de classes?
Trabalha apenas um dia no ano inteiro, apesar de o imaginarmos o resto do ano actualizar ficheiros de moradas. Denoto aqui uma certa postura hedonista, de aproveitamento dos rendimentos para estar 364, ou 365, dias praticamente sem produzir. A sua cota para a sociedade é grande, mas não deveria ser maior e prolongada durante o ano? Chegado aqui começo a julgá-lo de uma certa direita individualista, achando que o seu papel para com a sociedade é cumprido apenas num dia do ano, podendo usufruir no resto das coisas boas da vida.
Consta que tem renas, e que elas o transportam, ao suave ritmo do chicote, para todo o lado. A exploração indevida dos animais não o coloca por certo do lado irracionalmente protector dos animais que caracteriza uma certa esquerda radical. Será que vamos ver alguma manifestação no dia de Natal contra a opressão das renas da Lapónia, com gritos de assassino qual manifestação anti-taurina?
Surge outra dúvida, porque será que nunca muda de uniforme, e porque escolheu o vermelho como cor? Acho que um fatinho castanho iria melhor com o seu ar bonacheirão de velhinho simpático. Detecto aqui uma assunção do vermelho como cor de intervenção, de certo ligada a tendências pró comunistas, quem sabe se devido a uma adolescência revolucionária por entre as neves do Norte da Europa. Devo aqui acrescentar a insistência nas longas barbas, por norma associadas aos grades revolucionários, lembro Marx, Fidel e o eterno Che. Serão da família? É que dela nada conhecemos e o seu passado permanece obscuro.
Acho que em conclusão o senhor deverá ser social democrata. Vem do Norte da Europa, onde os sociais democratas são de esquerda, mas deve ter uma costela portuguesa, onde a prática da social democracia se encontra num limbo entre o centro esquerda e o centro direita. No fundo acho que apesar da imagem exuberante, o Pai Natal é do centro, do cinzento centrão, daquela amálgama ideológica incompreensível e oscilante ao sabor das marés. Se fosse português estava agora a apelar ao entendimento entre Durão e Ferro, procurando que apenas existissem dois partido em alegre e monótona alternância.
Por tudo isto é que eu não acredito no Pai Natal. Para mim o Natal é o nascimento de Jesus, uma comemoração de fé alargada a uma festa de família. O Pai Natal sempre foi personagem exótica e de difícil encaixe na visão natalícia lá de casa. Quem dá os presentes sempre foi, e será, o Menino Jesus. A ele agradecemos e a ele pedimos, o Natal é, fora de dúvidas, seu. Viva o Menino Jesus.
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