9.12.03

Telemarketing

Sábado de manhã, telemóvel desligado. O sono seguia profundo e retemperador. No corredor o telefone toca, levando ao meu desesperado despertar. A noite anterior tinha seguido longa até quase de madrugada. Enrolo-me para o outro lado, não quero acordar, não me apetece levantar. Adormeço. Um pouco mais tarde volto à realidade com mais um toque, que se foi sucedendo uma e outra vez. Vou conseguindo adormecer, a espaços, numa persistência por descanso. Consigo um pouco de sono profundo, do qual acordo um pouco menos mal disposto. Após o banho o telefone volta a soar e atendo, tentando decifrar quem persistentemente me incomodava em dia de descanso. Do outro lado uma voz feminina sobrepondo-se a algum ruído de fundo fez-me pensar em telemarketing. Passo a uma voz mais antipática, após identificação da criatura, perguntando se já me tinha tentado ligar. A resposta afirmativa fez despoletar em mim uma fúria agressiva, afinal tinha sido esta a culpada pelo agravar de uma ressaca já de si infame e poderosa. Comecei, com voz ainda vagamente ameaçadora, a perguntar à senhora se achava normal incomodar as pessoas a um Sábado de manhã. A sua insolente resposta acabou com as minha reservas, passando a descompô-la - ainda que educadamente - com toda a minha revolta. No fim de uma firme reprimenda, a senhora, que de mim nada conhecia, rematou com uma pérola que me fez definitivamente despedir com um seco "Boa tarde" seguido do desligar do telefone. Disse com voz ainda mais insolente, malandra e enervantemente bem disposta "Ah! Peço desculpa, já percebi que o senhor aproveitou para passar a manhã no ninho com a sua esposa".
Será preciso mais para declarar guerra ao telemarketing.

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