27.12.05

Coisas da Vida Boa

O Natal em família. Para além das birras das crianças, das discussões idiotas dos adultos, das provas de vinhos, dos doces, dos presentes.

23.12.05

Natal

Hans Baldung Grien (1484 – 1545)

O Anarcoconservador deseja um Santo Natal a todos os seus leitores.

Luzes de Natal II

Rua Garret
Uma confusão e excesso de iluminação tão grande que nos faz lembrar Las Vegas. Salva-se por ser, apesar de tudo, o coração do Chiado, ainda o sítio mais civilizado para fazer compras no Natal.

Av. João XXI
O simples aproveitamento dos postes de electricidade para umas árvores de Natal estilizadas funciona muitíssimo bem. Bom efeito.

22.12.05

Surpresa

Com o Bilhete de Identidade caducado vai para quatro meses, lá me resolvi a suportar o inferno da função pública e a via-sacra das senhas e dos impressos e do atendimento mal-humorado. Cheguei ao Areeiro a fazer exercícios respiratórios e a tentar manter-me em zen para não abalar o espírito natalício e começar a descompor as meninas dos “guichets”. Entrei e, sem dar por isso, estava a trocar sorrisos com a simpática senhora dos impressos, estava – sem ter tempo de pensar – a andar eficientemente de um lado para o outro sem esperas. Cheguei num ápice ao “guichet” final onde mais uma simpática senhora me despachou rapidamente e saí atónito. Para rematar vou agora lá buscar o meu renovado BI, três horas depois da minha primeira visita a esse oásis da função pública que é, ou pelo menos foi hoje, o serviço do Arquivo de Identificação de Lisboa no Areeiro.

Presentes

Ao se ler a posta anterior pode-se ficar com ideia de mim como um espartano com horror ao dinheiro e ás compras. Errado, gosto muito de compras. E gosto muito de dar presentes, e de receber. Dá-me um imenso gozo procurar um presente a pensar em determinada pessoa, tentando encontrar “aquela coisa” que a vai surpreender e agradar. Gosto de rasgar papéis em busca de uma surpresa. Tudo isto é óptimo, mas quando o tempo escasseia e nos tornamos escravos de ter de dar qualquer coisa, e que essa coisa não pode ser uma hilariante brincadeira comprada numa loja de trezentos mas algo que valha 5, ou 15, ou 50 Euros, que foi o que custou o presente da outra irmã. Aí, algo está errado. O dar por obrigação e com obrigação de preço é terrível, e angustiante. Este ano, lá em casa optámos por não dar nada entre os que já trabalham. Não concordei, acho que o que se deve estabelecer é a anarquia nas escolhas que permita por exemplo dar palavras, ou uma fotografia, ou outra coisa que façamos ou que até compremos sem a obsessão do preço e da a aparência aos olhos dos outros. Não é assim tão difícil dar qualquer coisa barata que as pessoas gostem, por exemplo uma colectânea de música feita no computador com uma capa feita e impressa no mesmo – custo: um Euro do Cd e, quanto muito, 1 Euro de folha e de tinta da impressora. Falo por mim, mas preferiria isto a um par de meias de uma cor que não goste, mas que possa custar 15 Euros. Hoje, falta imaginação ás pessoas, criatividade que permita que as coisas não custem fortunas absurdas, que sejam, de facto, indicadas para quem recebe, que sejam mesmo um símbolo de que estávamos a pesar naquela pessoa quando comprámos determinado presente.

19.12.05

Advento

O Natal aproxima-se e só se fala de compras, de presentes. Neste mundo parece que o Natal é unicamente consumo, o clímax de uma época de desenfreado gastar de dinheiro, um hino à superficialidade materialista. Contra as compras nada tenho – até antes pelo contrário –, mas o Natal de hoje é, para a maioria, só e só isso. Que é bom para a economia, pelo dinheiro que circula, não tenho dúvidas, mas que significado atribuirão as pessoas ao Natal? Que é uma simples troca de presentes com dinheiros estabelecidos para cada pessoa como se estivéssemos a passar um cheque de amizade? O mundo que nos rodeia parece esquecer o que é, de facto, o Natal, uma festa religiosa que celebra o nascimento de Jesus Cristo, uma data fundadora do cristianismo. O resto é acessório perante algo de tão essencial, mas o mundo anda enganado em tanta coisa que já não espanta que, também nisto, esqueça o essencial por troca com o acessório dominante.

16.12.05

Frio

Está um frio que corta. Lembra-me Salamanca, na Castela do frio seco. As noites longas entre as facas do vento e os fornos onde entrávamos como frangos. Gosto do frio, do frio seco, sério e intenso. Ficar na casa quente ou sair com a minha velha canadiana, cobertor que me isola, cachecol enrolado ao pescoço e o vento que desperta a cara. Sem o frio não podia gostar do calor e sem estações o mundo é uma seca confortável, ou não, mas sempre seca. Gosto quando gosto do Inverno, ou quando gosto e gostando estou a gosto. Estranho em mim tamanho bem-estar, mas até sabe bem, o espírito natalício parece chegar aos poucos, frio e de pantufas.

Quase acidente

Lá ia eu tranquilo no meu carro, a velocidade aceitável e na calma de ouvir Chet Baker, quando olho para o lado e com o sobressalto dou uma guinada, travões e quase me estampo, não fora hora de pouco trânsito e não ter – ainda não sei como – abalroado ninguém. Uns olhos esbugalhados, mas de carneiro mal-morto, num estranho misto que parecia querer sair do outdoor e qual filme de ficção científica série Z me hipnotizar e tele-transportar para o planeta Zorg. Cavaco apareceu finalmente e os meus pesadelos recomeçaram. Depois do anónimo cartaz da bandeira nacional com a esfera estilizada, eis que surge, após óbvias horas de maquilhagem, no seu esplendor. Tudo é normal, eu é que teimo em não me habituar ao regresso da figura e ainda não me preparei com sessões intensas de Ioga para o que me poderá esperar daqui a um mês.

14.12.05

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A luz amarela do Inverno. O falso calor do dia.

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No burburinho que nos trespassa nas ruas, a serenidade de um Natal verdadeiro permanece. Inabalável.

13.12.05

Ainda datas – Chá

Sai um Assam, em bule escaldado, pelos dois anos do Lobi do Chá.

Datas

Como sempre, as datas passam por aqui registadas em atraso. Umas vezes, recupera-se a oportunidade de as referir, outras, envergonhadamente, deixam-se passar como o vento. Até o segundo ano deste blog passou, há uns dois meses, sem que eu desse por isso e só por acaso me apercebi, data passada, da ocorrência. Lembrar datas não é comigo, e só a agenda, a velha manuscrita e gasta, me ajuda a fugir de falhas, ás vezes graves.


D.Pedro V (150 anos sobre a entronização)

Aquele de quem podemos dizer que faltou tempo para poder ser, de facto, o real D. Sebastião. Culto e preparado, monástico e moderno. O rei que Portugal precisava e não teve. Passados 150 anos estamos como estamos, talvez assim não estivéssemos não fora ele morrer tão cedo.

Eça de Queiroz (160 anos sobre o nascimento)

Quanto a Eça, enfim, talvez só para o ano, mas proximamente, uma visita a Tormes. Reler, uma vez mais – e porque não –, a “Cidade e as Serras” e passear lado a lado com Jacinto por entre os bosques em redor da casa. Por agora, mais uma data cumprida sobre a vinda ao mundo daquele que é um dos maiores da escrita e do português.

Pessoa (70 anos sobre a morte)

Ó mar salgado, quanto do teu sal
São lágrimas de Portugal!
Por te cruzarmos, quantas mães choraram,
Quantos filhos em vão rezaram!
Quantas noivas ficaram por casar
Para que fosses nosso, ó mar!

Valeu a pena? Tudo vale a pena
Se a alma não é pequena.
Quem quer passar além do Bojador
Tem de passar além da dor.
Deus ao mar o perigo e o abismo deu,
Mas nele é que espelhou o céu.

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Só na simplicidade nos compreendemos.

7.12.05

Luzes de Natal I

A Árvore
A gigantesca árvore do Millenium BCP foi este ano colocada no Terreiro do Paço. A beleza da praça funciona bem como enquadramento à árvore hi-tec, o que é de fugir é a música de Natal em mistura de “carrinhos de choque”, “sala de espera de dentista” e “centro comercial suburbano”. Um massacre auditivo para quem ousar passar a pé, ou de vidros abertos, pelo nosso Terreiro do Paço.

Avenida da Liberdade
Aproveitando, e bem, as árvores existentes – das poucas que resistem em Lisboa – foram colocadas bolas simples em luz amarela, proporcionando um belíssimo efeito de alinhamento rua abaixo, ou acima. Aqui apetece passear, caso a chuva inclemente se resolva a parar um pouco.

Rua Áurea
Sinos e fitas em azul e encarnado dão o suficiente ar hi-tec, sem contudo perder a sensatez. Funciona muito bem em alinhamento e dá cor e alegria a uma rua tão massacrada por carros e cada vez com menos motivos, vulgo lojas, que nos façam percorrê-la a pé. Candidata, até agora, à melhor iluminação no estilo moderno.

Rua da Prata
Uns confusos painéis com bolas em azul repetem-se rua fora. O efeito global não é mau, mas as iluminações são por si muito feias.

Príncipe Real
Apenas lâmpadas amarelas nas árvores. Por vezes na simplicidade está a maior beleza. Bonito, barato e eficaz.

Largo do Camões
Enquanto me aproximava, era ofuscado por um encarnado profuso e intenso. Pensei que este ano as modernices de Natal tinham chegado ao Camões. Ao chegar, percebi que não, era apenas o letreiro luminoso da estação de correio. Agora passa por Natal, mas fora de época…Não se poderá desligar?

Coisas da Vida Boa

O bife ancho do “El Ultimo Tango”. E, já agora, também a música, por entre óptimos tangos e milongas.

5.12.05

As atitudes ficam…

O DN de ontem dedicava grande espaço à morte de Francisco Sá Carneiro, a propósito dos 25 anos volvidos sobre a sua morte, com depoimentos de gente de vários quadrantes – até Soares escreveu umas linhas sobre o assunto. Cavaco? Pois, Cavaco não respondeu ao convite do jornal por “falta de disponibilidade de agenda”. Há atitudes que definem as pessoas, Sá Carneiro foi um líder incontornável e inesquecível do partido de Cavaco e do país, agora ter meia hora para alinhavar vinte linhas de texto, isso seria pedir muito.

25 anos depois



Um tempo em que havia em quem acreditar.

2.12.05

Chanel

Estreou ontem a peça “Mademoiselle Chanel”, um texto sobre a vida de Coco Chanel que mostra a solidão de uma mulher que envelhece e apontamentos sobre a sua vida, ora triste ora frenética. A peça é interessante sem contudo se tornar inesquecível, apesar de Marília Pêra incorporar muito bem a senhora que mudou a moda e de, num belíssimo cenário branco, duas modelos irem passando fantásticos modelos Chanel. Algumas tiradas de Mademoiselle são deliciosas e destaco uma que achei um mimo: “Mulher que não se perfuma não tem futuro”.

1 de Dezembro

Por uma réstia de patriotismo – que por motivos insondáveis ainda mantenho – o dia de ontem foi de festa. Há trezentos e tal anos, um grupo de conjurados restabeleceu a independência deste cantinho separando-nos definitivamente do jugo castelhano. Ganhámos com isso? Na perspectiva mais material e economicista tão em voga a resposta seria claramente não. Melhor estaríamos a acompanhar a desenvolvida democracia espanhola. E então, que motivos para comemorar? Talvez aqueles menos na moda como os de honrar nove séculos de história.

De cabeça baixa

No outro dia, em conversa deitada fora sobre as presidenciais, concluíamos não perceber o frete a que algumas almas, supostamente livres, se estão a prestar nestas eleições. Ao passar por este site arrepio-me de ver tanta gente que há pouco tempo era capaz de verberar contra o Sr. Silva, convertida por um qualquer milagre do sol ao “novo Messias”. Há algo que me desgosta na política: a necessidade que as pessoas têm de tomar partido e de, a partir daí, se envolverem directamente em campanhas. Podemos optar por um mal menor – eu não pratico, mas compreendo –, agora isso não nos obriga a lavar o cérebro com lixívia e passar de crítico a defensor acérrimo e convicto do que quer que seja. O facto de não haver nenhum candidato de direita a estas eleições – sendo possivelmente o Sr. Silva o menos à esquerda – não implica que alguém de direita tenha de se humilhar ao ponto de esquecer o seu passado de opinião e entoar loas insanas ao profeta.

24.11.05

Estranho

Apetecer-me um Tullamore Dew com duas pedras de gelo em copo baixo, ás três da tarde e enquanto trabalho. Culpa do Tom Waits, ninguém me manda estar a ouvi-lo.

23.11.05

Ar Fresco

No blogue Venha o Diabo.

Desmentir

Sócrates desmente Alegre. Alegre desmente Sócrates. Em quem acreditar? Entre os dois acho o nariz de Sócrates mais próximo do de Pinóquio.

Milagre

Parece que os “privados” vão oferecer o Aeroporto da Ota aos portugueses! O acto é de tal forma caridoso e desinteressado que proponho que possam descontar as verbas ao abrigo da lei do mecenato.

22.11.05

Democracia não é só votos

O governo apresentou hoje formalmente o Aeroporto da Ota como um facto consumado. Há pouco tempo foram aprovadas no parlamento verbas para fazer estudos sobre o novo aeroporto para Lisboa. Estudos? Para quê? Afinal a decisão está tomada e os “estudos” serão uma mera formalidade. Tudo cheira muito mal neste processo e começa a ser fácil acreditar nas afirmações que circularam pela Net num texto em nome de Miguel Sousa Tavares (que o mesmo desmentiu veementemente a autoria num artigo no “Público”). A rede de interesses deve ser tanta que justifica que uma obra desta dimensão seja imposta ao país sem a necessária discussão pública. Enfim, tudo na mesma neste país desgovernado insistentemente pelos eleitos da nossa "democracia".

19.11.05

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Jardins das Necessidades, Lisboa, 2003

Rever clássicos

A produção cinematográfica é tanta que, ás vezes, esquecemos que existem clássicos, alguns com setenta anos, que suplantam a grande maioria dos filmes actuais. Nos últimos dias fui vasculhar as cassetes de VHS que já tinham criado pó e desencantei dois filmes essenciais que revi com agrado: “A Corda” – “The Rope” de Alfred Hitchcock e “O Extravagante Sr. Ruggles” – “Mr. Ruggles of Red Gap” de Leo MacCarey.
O primeiro é um prodigioso exercício de cinema, em que dez planos contínuos de oito minutos (tamanho das bobines) se juntam para formar uma obra-prima. O argumento é arrepiante, intercalando o humor negro de Brandon Shaw (John Dall) e as divagações filosóficas de Rupert Cadell (James Stewart) com uma situação no mínimo macabra. Farley Granger compõe Philip Morgan, o elo mais fraco de uma cadeia intelectual que se arroga ao direito de uma superioridade moral sem limites. A realização é de Hitchcock, e mais não será necessário dizer. O filme começa no clímax e arrasta-nos no fio da navalha até à cena final. O desconforto é constante durante a refeição servida no altar sacrificial. Tudo nos inquieta e, inteligentemente, são muitos os temas levantados pelo filme.
Do segundo, recordo a cena inicial de antologia, com o patrão – o Earl of Burnstead – com um levíssimo e “very british” desconforto, ainda em ressaca, a anunciar entre conversas que tinha perdido ao Poker o seu fidelíssimo mordomo que, perante tão estranha notícia, reage com uma naturalidade adquirida por anos de serviço. A “família” americana que espera Ruggles em Red Gap, nos confins das Américas, é um delicioso conjunto de personagens que vão desde a nova-rica que pretende ascender até à velha matrona da família mais preocupada em andar a cavalo ou caçar. Charles Laughton é um Ruggles extraordinário que nos faz sorrir em contínuo, mostrando que o seu talento estava muito para lá dos trágicos e sérios personagens que o celebrizaram. Leo MacCarey é muitas vezes esquecido na memória dos grandes do cinema, mas merecia outras lembranças, por exemplo por este filme.

16.11.05

Resmungo Matinal

Chegaram os acordares ferozes, de olhos brilhantes e espirros convulsivos. A saída do conforto uterino da cama forrada a cobertores é de pronto confrontada com a violência de uma brusca diferença de temperatura, que nem um banho quase turco consegue sanar de imediato. A rinite no Inverno é um inferno, acordar para o mundo torna-se, se possível, ainda mais difícil.

15.11.05

Coisas da Vida Boa

A luz fria do sol da manhã brilhando no prado molhado. As oliveiras serenas observam, como se toda a beleza do mundo se encontrasse a seus pés.

Procissão

Apesar de estar fora, vi pela televisão Lisboa de ruas cheias. Ninguém protestava contra nada, apenas uma pacífica demonstração de Fé.

Entrevista

Cavaco falou, ou pelo menos assim o fez crer. Ontem só resisti a quinze minutos de banalidade, de fugas ás questões, de uma total vacuidade supostamente em nome da substância. Cavaco diz que não quer retórica, que quer resolver os problemas concretos, que quer ser o “Messias” do país. Claro que não pode explicar como concretizará tais propósitos, pois é óbvio que não terá poderes para tal. Fica a dúvida, ou Cavaco mente, ou ainda não percebeu os poderes de Presidente da República, ou acha que se está a candidatar a Primeiro-Ministro. O discurso anti-retórica num candidato a Presidente da República é o mesmo que um Embaixador verberar contra a diplomacia, um total contra-senso.

9.11.05

Cartazes

Ao esfumar-se dos seus cartazes, que são dominados por uma esfera armilar estilizada, Cavaco leva a sua “não campanha” até ao extremo. Elogia-se a atitude, afinal é uma assinalável contribuição para a estética urbana, evitando simultaneamente colisões automóveis devido ao susto e pesadelos tormentosos nas crianças portuguesas.

8.11.05

França

Na exemplar “République Française” – a mais legítima das construções jacobinas – prosseguem os conflitos. Agora até voltamos aos tempos da segunda guerra com o recolher obrigatório. O Estado Social construído pela esquerda tem destas idiossincrasias, torna tudo tão fácil, até os distúrbios e a delinquência.

Coisas da Vida Boa

Os fins de tarde no ginásio com o meu iPod. Até se torna agradável remar para aquecer ao som Morrissey, levantar pesos com Bob Marley ou acabar os alongamentos com Chet Baker. O tempo assim até passa depressa e esquecemos as horas passadas a compensar uma vida sedentária e de horror à prática de qualquer desporto.

Oásis

O programa “Prós e Contras” continua a mostrar que é possível a televisão de ritmo calmo, com qualidade, com sumo. Ontem, os convidados eram, para não variar, excelentes e o Sr. Cardeal Patriarca mostrou mais uma vez, como se tal fora preciso, que a Igreja portuguesa está muitíssimo bem entregue. O seu diálogo sobre a “esperança” com o Professor Barata Moura (não crente) foi tão profundo que pena tive de não o poder ter gravado para rever. Temas difíceis podem, e devem, ser discutidos em televisão.

4.11.05

Emoções

Sem querer parecer uma qualquer Susana Tamaro, reconheço que me sinto mais vivo quando me emociono. No passado fim-de-semana aconteceu-me duas vezes por motivos diferentes. As razões não interessam, mas ainda bem que num mundo tão superficial ainda encontramos dentro de nós resistências de sensibilidade.

Brinquedo II

Há quem diga que as máquinas têm personalidade, que adquirem os defeitos dos donos. Dos iPods já ouvi dizer que eram complicados, que tinham manias. Enfim, nada que me preparasse para o mau feitio do meu brinquedo. Quer dizer, como se não me bastasse o meu mau feitio, tenho agora de aturar um brinquedo com excesso de personalidade.

27.10.05

Definitivamente

A roda do iPod é erótica!

Brinquedo

Tenho passado momentos de criança. O meu novo brinquedo deixou-me babado e distraído, pareço um menino com a sua nova caixa de Mecano ou de Lego – ou, sejamos mais modernos, uma PSP. Um iPod lindo, magnífico, extraordinário. Para além de tudo com uma belíssimas colunas portáteis que me permitem emigrar para a Patagónia sem perder o meu Vinicius, o meu Caetano, o meu Bach, o meu Miles Davis ou a minha Amália e sem ter de arrastar um molho disparatado de discos. Pareço estúpido, aliás, acho mesmo que estou estúpido perante o meu brinquedo, lindo, branco, e com aquela maravilhosa roda.

Diálogos Imaginários

– Charles, deixe o que está a fazer e venha até aqui por favor.
– Com certeza menino. O que deseja?
– Está a ver esta montanha de Cd’s? Vou-lhe pedir que os vá descarregando para o meu computador através do iTunes para eu depois os poder passar para o meu iPod. Ah! É claro que os pode ir ouvindo.
– Com certeza menino, e vou mesmo tomar a liberdade de ouvir alguns.

25.10.05

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(Burgueses de Calais, Rodin)
Salamanca, 2002

Milonga del muerto

Lo he soñado en esta casa
entre paredes y puertas.
Dios les permite a los hombres
soñar cosas que son ciertas.

Lo he soñado mar afuera
en unas islas glaciales.
Que nos digan lo demás
la tumba y los hospitales.

Una de tantas provincias
del interior fue su tierra.
(No conviene que se sepa
que muere gente en la guerra).

Lo sacaron del cuartel,
le pusieron en las manos
las armas y lo mandaron
a morir con sus hermanos.

Se obró con suma prudencia,
se habló de un modo prolijo.
Les entregaron a un tiempo
el rifle y el crucifijo.

Oyó las vanas arengas
de los vanos generales.
Vio lo que nunca había visto,
la sangre en los arenales.

Oyó vivas y oyó mueras,
oyó el clamor de la gente.
Él sólo quería saber
si era o si no era valiente.

Lo supo en aquel momento
en que le entraba la herida.
Se dijo No tuve miedo
Cuando lo dejó la vida.

Su muerte fue una secreta
victoria. Nadie se asombre
de que me dé envidia y pena
el destino de aquel hombre.

Jorge Luís Borges

21.10.05

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O dia está tão húmido e plúmbeo que começa a faltar a vontade de sair para um jantar que se adivinha simpático. A lareira ausente começa a fazer parte do imaginário mais recorrente. Penso em castanhas assadas e lembro o fumo e o cheiro. Parece que por fim é Outono.

Pesadelos

Hoje acordei com a sensação de ter dormido em sobressalto. Não me lembrava porquê, mas acho que posso dizer que a culpa é do Cavaco.

E foi o Horror

Cavaco anunciou ontem a sua candidatura a Belém.

20.10.05

Dia de Horror

Consta que Cavaco anuncia hoje a sua candidatura a Belém.

Aleluia

José Peseiro já não é treinador do Sporting! Dias da Cunha também resolveu ir embora!
Talvez agora se volte a ver futebol pelas bandas de Alvalade.

Humor Negro

Será que podemos encomendar uma gripe das aves exclusiva para os pombos? Lisboa precisava tanto disso…

12.10.05

Apetece comprar para dar estalos II

Júlia Pinheiro. Para além de tudo, aquela voz devia ser proibida.

Apetece comprar para dar estalos I

(Pessoa que nos irrita tanto que dá vontade de ter em casa para ir espancando a nosso belo prazer.)

Manuel Maria Carrilho

10.10.05

Momentos altos de ontem

A “narigada” da comovida Bárbara perante a frígida indiferença de Manuel Maria. Foi pena o pequeno Diniz não ter também aparecido, seria um fecho com chave de ouro para esta memorável campanha de Carrilho.

A competência inequívoca do STAPE que deixou os jornalistas à beira de um ataque de nervos.

Sousa Tavares a falar de futebol Deviam ser feitas leis – reconheço que um pouco censórias – que impedissem as pessoas de falar de forma tão fanática e irracional. Ao nível de Ferreira Torres.

As genuínas, e ruidosas, gargalhadas no estúdio da TVI aquando da intervenção de Valentim Loureiro. Os momentos que precederam o discurso do Major foram dignos de um sketch dos bons tempos do mudo, por instantes parecia que ninguém o impediria de espancar o senhor que lhe tentava dar o microfone. Seria catarse ou excesso de álcool?

Gostei ontem

Das vitórias de Rio, Capucho, Campelo e de alguns (realmente) Independentes.
Das derrotas de Carrilho, Soares (pai e filho) e Avelino. E também do PS.
Da eleição de Sá Fernandes e de Maria José Nogueira Pinto.
Da não eleição de Teixeira Lopes.
Da educação e subtileza de Carmona no seu discurso, dando uma enorme bofetada de luva branca a Carrilho.
Apesar de tudo da emissão da TVI.
Da chuva.
De ficar no sofá numa alegre abstenção. Não voto em Lisboa e na minha terra nada havia a decidir num cenário eleitoral desinteressante.

Não gostei ontem

Obviamente das vitórias de Isaltino, Valentim e Felgueiras. E também de Mesquita Machado e Isabel Damasceno.
De ver, constrangido, o mau perder e falta de educação de Carrilho. Será que o podemos mandar para um pós-pós-pós doutoramento na Sibéria?
Dos ilegíveis resultados da SIC, que teimavam em ocupar metade do écran sem que lhes pudéssemos dar algum uso.
Da sonífera emissão da RTP.
Do choque tecnológico do STAPE.

9.10.05

Facto

Chove. Finalmente chove. Cheira a terra molhada e há humidade no ar. O sol parece ter-se evaporado. Chove. Finalmente chove.

Coisas da Vida Boa

Lá fora a chuva. Cá dentro, um sofá confortável com jornais e revistas ao lado. Ouvem-se as Bachianas Brasileiras de Villa-Lobos ás quais se seguirão uns madrigais de Monteverdi.

7.10.05

Eleições

Pronto, a campanha está a chegar ao fim. Agora é só esperar pelos resultados no Domingo para ver o povo a entregar o poder ás Fátimas Felgueiras deste país. Para depois, rogamos por uma amnésia que nos ajude a esquecer que, durante alguns dias, fomos mais terceiro-mundistas do que muitos países sul-americanos, com candidatos à espera de julgamento e presidentes de Junta barbaramente assassinados. Perderemos algum assunto de conversa, mas poderemos descansar e voltar à doce ilusão de que vivemos num país civilizado. Por pouco tempo, é claro, já que depois vão chegar as aguardadas e “sábias” palavras do professor Aníbal e voltaremos ao folclore eleitoral. Claro que o país continuará à deriva, mas isso, afinal, não interessa nada.

6.10.05

Tempo

O calor insano lá fora baralha qualquer raciocínio. As estações, que desde a primária aprendemos a conhecer, são hoje uma imensa confusão. Já dizia o poeta: “o mundo é composto de mudança”.

5 do 10 - II

A propósito do post anterior apetece-me lembrar um poema de João Ferreira Rosa – cantado pelo próprio – que é um dos raros, e curiosos, exemplos de música de intervenção monárquica.

Portugal Foi-nos Roubado

Portugal foi-nos roubado
há que dize-lo a cantar
para isso nos serve o fado
para isso e para não chorar

Cinco de Outubro de treta
o que foi isso afinal
dona Lisboa de opereta
muito chique e por sinal

Sou português e por tal
nunca fui republicano
o que eu quero é Portugal
para desfazer o engano

Os heróis republicanos
banqueiros, tropa, doutores
no estado em que ainda estamos
só lhes devemos favores

Outubro Maio e Abril
cinco dois oito dois cinco
reina a canalha mais vil
neste branco verde e tinto

Sou português e por tal
nunca fui republicano
o que eu quero é Portugal
para desfazer o engano

5 do 10

Ontem feriado. Comemoração da implantação da república. Mas comemorar o quê? Os anos de desgoverno que se seguiram a 1910 e deixaram o país à beira da bancarrota? A ditadura que se seguiu e penosamente arrastou o país por longos anos? As consequências de uma revolução pacífica que se reflectem até hoje numa constituição socialista? Os brilhantes últimos governos que vão dando ao país o que ele precisa deixando-o no recomendável estado a que chegámos?

3.10.05

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Morte estúpida. Será correcto usar tal redundância quando a morte é por si só tão estúpida? Perante a brutalidade, tudo se torna estúpido, incomensuravelmente estúpido. O fim é estúpido, ainda mais quando atingido de forma abrupta, inesperada e chocante. Perante toda esta estupidez tornam-se desprezíveis as expressões “é a vida”, “não somos nada”. Nem quando o fim é o culminar de um caminho conhecido estamos preparados, nem quando a idade ou a doença traçaram um destino o aguardamos serenamente. O que dizer então quando surge súbito, sem avisos nem sinais, num golpe trágico, repentino e cruel. Faltam as palavras, as justificações. Resta-nos a Fé.

27.9.05

Coisas da Vida Boa

Acabar um livro, satisfeito, e olhar a pilha em frente para escolher o próximo, ou próximos.

Presidenciais

Afinal Alegre avança. Independentemente do triste espectáculo de avanços e recuos, a sua candidatura pode ser um facto interessante, mais não seja por ser a única não partidária numas eleições que assim deveriam ser. A esquerda já vai com seis candidatos (incluindo a estupenda Carmelinda Pereira), dos quais quatro são líderes de partido e um o candidato oficial do PS. Cavaco, por muito que o tente negar, será o candidato oficial do PSD com o envergonhado apoio do CDS. No meio da partidocracia dominante, resta a independência poética de Alegre para trazer alguma novidade, já que à direita não se vislumbra gente com coragem para aparecer contra Cavaco (a não ser que Portas e Santana queiram fazer uma surpresa).

Reality-shows

A rentrée televisiva trouxe, como seria de esperar, mais um chorrilho de lixo. Para variar resolvi dar uma espreitadela, não sei se por voyeurismo ou por puro masoquismo. Na SIC, homens transformam-se em mulheres, não sei se patrocinados por um bar de travestis se por um cirurgião especialista em transexualidade. Na TVI, um grupo de homens, mulheres e um ser vão à recruta, provavelmente com o intuito de os transformarem a todos em homens. Parece que agora a onda é mudar as pessoas, o que pode ser temível, basta pensar se a seguir vamos ter futebolistas a apresentar o Telejornal ou debates políticos moderados por cantores pimba.

22.9.05

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Há dias em que até temos saudades de nada.

Impensável

Há dois anos atrás parecer-me-ia impensável estar a dar agora parabéns ao Impensado por se manter impensativo ao longo de dois anos de coisas impensadas.

Estado do país

Fátima Felgueiras – arguida com ordem de prisão preventiva em processo a decorrer, fugitiva da justiça no entretanto – regressa ao país, apresenta-se ao tribunal e sai apenas com termo de identidade e residência e proibição de sair do país (irónico, não?). O povo aclama-a, os jornalistas quase a atropelam, ela passeia um fato bege e um sorriso enorme. Tudo isto já definiria um país, mas há mais, a senhora é candidata à Câmara de Felgueiras. Será preciso mais para definir o estado deste país, é que infelizmente até há.

20.9.05

Tradições


Fim-de-semana no Norte. O encontro com algumas tradições que ainda perduram neste país. As concertinas, os viras, a animação espontânea e genuína de um povo. A festa na rua, sem regras nem imposições, simplesmente os costumes passados por pais que dançam ao lado dos filhos em rodas improvisadas após chegar uma concertina.

16.9.05

Lisboa

Ontem entro a meio do debate da SIC Notícias com Carmona Rodrigues e Carrilho. No geral, lamentável! Apenas uma ocorrência simpática, a constatação que, apesar de tudo, não estamos num país terceiro-mundista e que ainda há políticos civilizados, não fora assim e acho que o debate teria terminado a meio com Carmona a levantar-se e dar um belíssimo par de estalos em Carrilho, independentemente de este nem sequer ter cara para os levar.

Coisas da Vida Boa

Catherine Deneuve a cantar “Toi Jamais”: no filme “Oito Mulheres” ou no recomendável disco “Café de Flore 2”.

15.9.05

Presidenciais

Prevejo penosos tempos até ás eleições presidências. No final teremos de aturar um dos dois, o problema é que até lá vamos levar com os dois ao mesmo tempo e ainda temos brindes tipo fava do bolo-rei. Ai! Não me devia ter lembrado do bolo-rei.

BE

Não resisto a postar este texto que hoje recebi por e-mail. Ao autor, que desconheço, as desculpas pela utilização do texto.
"Medidas do Bloco de Esquerda para acabar com incêndios.
1 - Despenalização imediata dos incêndios.
2 - Tendo em conta que os incendiários são doentes e socialmente marginalizados, devem ser tratados como tal: é preciso criar zonas específicas para poderem incendiar à vontade. Nas "Casas de Incêndio" serão fornecidos fósforos, isqueiros e alguma mata. Sob a supervisão do pessoal habilitado, poderão lutar contra esse flagelo autodestrutivo.
3 - Fazer uma terapia baseada nos Doze Passos, em que o doente possa evoluir do incêndio florestal à sardinhada. O pirómano irá deixando progressivamente o vício: da floresta à mata, da mata ao arbusto, do arbusto à fogueira, da fogueira à lareira, da lareira ao barbecue até finalmente chegar à sardinhada do Santo António e São João.
4 - Quando o pirómano se sentir feliz a acender a vela perfumada em casa, ser-lhe-á dada alta, iniciará a sua reintegração social e perderá o seu subsídio de incendiário."

14.9.05

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Figueira da Foz, 2005

No limiar do bom gosto

Temos um capachinho na Petrogal, um aldrabão na CGD, um Tiranossaurus Rex a disputar a presidência com um mamute, só nos faltava o Mister Bean no Tribunal de Contas.

Publicidade

O “meu” banco lançou uma campanha publicitária com uma música de Pedro Abrunhosa, a avaliar pela originalidade e qualidade da letra (a repetição exaustiva da frase “Eu estou aqui”) temo pelo meu dinheirinho. Dantes os bancos davam o exemplo de sobriedade e competência, hoje competem com detergentes e margarinas. Enfim, estas modernices do marketing atingem pontos de disparate tais que nos fazem duvidar dos produtos. Ainda não é suficiente para mudar de banco, mas ficarei de sobreaviso.

12.9.05

Futebol e petardos

Bela noite de sábado pelas bandas de Alvalade. O jogo não foi brilhante, mas o Sporting até esteve bem e mereceu, acima de qualquer discussão, a vitória. De destacar o bom jogo da defesa do Sporting – em especial o Tonel –, os excelentes golos, Luís Loureiro e João Moutinho. Menos bem apenas Deivid e Sá Pinto (a eterna pergunta que me atormenta: “como é que ele é titular?”). O único ponto realmente negativo esteve numa cambada de energúmenos que insistiu em rebentar petardos do princípio ao fim do jogo. O fascínio dos portugueses pelo barulho não cansa de me surpreender, qualquer festinha de aldeia faz parecer que estamos em Beirute ou Bagdad tal é a quantidade de morteiros rebentados. Fogo de artifício sim, percebo que se goste apesar do barulho, agora morteiros ou petardos são fenómenos que me ultrapassam.

11

Ontem foi onze de Setembro. Há quatro anos o mundo foi chocado com algo inimaginável, com um acto acima de qualquer adjectivo possível. É preciso lembrar, sem “mas”.

7.9.05

Regressar II

Faz-me falta o mar diário, o carro arrumado em lugar esquecido, os gelados de marrons glacés com natas e as sapateiras ao pôr-do-sol.

Regressar I

Os primeiros dias de retorno à rotina habitual, depois de uns tempos de Verão por outras bandas, estão sempre carregados de sentimentos contraditórios. Por um lado voltamos ao nosso cantinho, à nossa cama e aos nossos CD’s, por outro ansiamos recuar no tempo e suspiramos por dias longos e sem horas. Enfim, a velha história de só estarmos bem onde não estamos.

Blogosfera

Pela blogosfera fora algumas novidades e algumas actualizações a fazer. Com muita pena retiro três blogues da coluna aqui ao lado – o “Aviz”, o “Fora do Mundo” e o “Jaquinzinhos” – que resolveram deixar a nossa companhia. A boa notícia é o novo “A Origem das Espécies”. Nos entretantos agradeço os novos links feitos a este blog no “Anatomia Surreal”, no “Duas Cidades” e no “My Guide To Your Galaxy”.

6.9.05

Prioridades

Há neste país quem ande em delírio. Ontem, no “Prós e Contras”, Medeiros Ferreira falava no destino de Portugal como país de eventos e Vítor Martins defendia as grandes obras (Ota e TGV) como veículo indispensável para o desenvolvimento económico. O pior é que parecia que falavam a sério.
Governar é, cada vez mais, definir prioridades e actuar sobre elas. Pena é que neste país as prioridades sejam sempre as erradas e por isso andemos como andamos.

1.9.05

Curtas

O choque tecnológico de José Sócrates ficou ontem visível na apresentação da candidatura de Mário Soares.

Aguardo a altura certa que António Costa sempre invocou para falar sobre as causas dos incêndios deste ano. Suponho que espere que nos esqueçamos lentamente do sucedido até ao próximo ano.

Ontem, a SIC Notícias passou um curioso documentário sobre seres humanos em estado atrasado de evolução, só me questionei porque lhe chamou debate sobre as autárquicas em Amarante.

30.8.05

Normalidade

As festas de Barrancos estão a decorrer na normalidade e nem os habituais “amigos” dos animais apareceram. Haja alguma coisa que se mantenha normal neste país para que haja alguma (tenuíssima) esperança.

29.8.05


Figueira da Foz, 2005

Diálogos Imaginários

– Charles, já sabe o que o espera. Não tenho pressa, mas quando puder desmanche as malas, deixe a roupa em dia, reabasteça a despensa, enfim, ponha a casa em ordem.
– Com certeza menino, eu sei o quanto detesta lidar com chegadas e partidas.

17.8.05

Estado do país

O país continua a arder e o primeiro-ministro continua no Quénia. Enfim, tudo normal neste Portugal entregue - desde há demasiados anos - à bicharada.

Crónicas da Figueira VI

A tranquilidade quase bucólica deste lugar vem sendo barbaramente quebrada. As modernices. As inenarráveis modernices. Há sempre queixas acerca da imutabilidade, mas também o "novo" não tem de irromper como um vulcão.
Por aqui, após anos de lenta - porém agradável - decadência, a modernidade foi aparecendo com a subtileza de um elefante. Aulas de aéróbica na praia, junto à marginal, com música adequada em volume tão discreto que nos hotéis limítrofes se tem de adequar os horários próprios ás horas das mesmas. Concertos em palcos que entopem esquinas nas ruas e obrigam a sorver os cafés nas esplanadas com rapidez para fugir a tempo de evitar a surdez. O "Mundialito" de Futebol de Praia - que nos últimos anos trouxe o inferno a esta praia - rumou, por graças divinas, até ao Algarve, onde espero continue a massacrar inclementemente os veraneantes. No meio de tudo isto, os músicos de rua tornam-se agradáveis presenças pois apenas trazem consigo um pequeno amplificador que acaba a soar a suave flauta perante o resto.
Enfim, tudo estava já mau até surgir o horror, o inferno que até a Dante surpreenderia e que chegou com o último fim de semana. O palco montou-se junto ao Forte de Santa Catarina que - coitado - habituado a bárbaras tempestades de outros tempos, nunca imaginou o que o esperava. Do Brasil lembramos Vinicius, praia, João ou Caetano e preferimos esquecer os forrós, os pseudo-sambas, os sons comerciais que ouvimos em feiras e discotecas de província. Tentem imaginar o drama de um palco a debitar - em contínuo, dia e noite - samba (mau) e forró, com uma intensidade sonora que fez temer pelas paredes de pedra do Forte e que terá, possivelmente, de levar a uma intervenção do IPPAR sobre as mesmas. Mais ainda, complementado - não fosse alguém esquecer o "espectáculo" - por camiões cobertos por colunas e gente a dançar que quase me causaram uma indigestão de uma sapateira que tentava comer numa esplanada.
A visão é de um inferno, de que alguém terá alucinado e prostituído uma cidade em nome de alguns cobres. Na praia, só dentro de água, de preferência em mergulhos longos, conseguíamos por vagos momentos escapar ao ruído.
Nos dias de hoje há quem imagine que o som, a música, são bons por si só. Cada vez mais penso que o silêncio vale a pena e aprecio-o agora, quando o sol se põe e olho para o fim de semana que passou. Algumas crianças brincam civilizadamente e o sol vai caíndo. A paz voltou a esta terra que agora será terreno mais calmo, talvez mais deprimente pela saída de algumas pessoas, mas calmo.

Crónicas da Figueira V

O agradável de surpreender uma longa noite - no interior de uma enorme voragem alcoólica - com uma longa conversa sobre Hitchcock. Poucas conclusões, mas a unânime - porém polémica - decisão de que "Psico" será a obra menor do Mestre.

11.8.05

Estado do País

Inversamente proporcional à qualidade das férias ininterruptas de Sócrates.

Crónicas da Figueira IV

Nuvens, chuva. Uma benção dos céus para acalmar as chamas do país. Por aqui, tempo para umas canastas e lanchinhos. As noites alongam-se mais sob a perspectiva da praia ser uma miragem distante no dia seguinte

6.8.05

Requiem por um país

Todos os anos o mesmo, o de sempre. A tragédia costumeira. Tudo se repete, as causas, as desculpas, as queixas. Mas tudo sempre se repete. O país arde e os incompetentes que nos governam, que nos andam a governar há anos, continuam a demostrar a sua incapacidade e irresponsabilidade, a sua postura criminosa. Porque criminosos não serão apenas os que ateiam os fogos, são também os que permitiram que este país se transformasse numa República de Bananas em que o território se desordenou até ao caos e em que é prioritário fazer obras de fachada como a Ota em vez de se gastar dinheiro em algo muito mais importante: salvar o país.

4.8.05

Crónicas da Figueira III

Chegadas, beijos do mês. As primeiras conversas em tom de ponto da situação. Os que estão, os que virão e os que já não vão estar. Na praia o costume, discussões acesas com os banheiros. Todos os anos começa assim. Porque há menos espaço, porque já temos cadeiras de plástico. As banheiras, de bloco atrapalhado em punho, tentam dizer onde são os lugares de cada um. Nunca é pacífico, porque o lugar não é o mesmo, porque não se quer aquela família com seis crianças ao lado, porque aqueles dois não se falam. A banheira - refém das suas confusões e trapalhadas - atarantada com tanta gente, gesticula que tem de ser assim, que não se pode alterar, que - pronto - se pode chegar um pouco para o lado este chapéu. Sempre assim, todos os anos. Por aqui, o grande drama e tema de conversa dos primeiros dias - a par de divórcios e ausências - é a problemática dos chapéus de sol na praia.

2.8.05

Crónicas da Figueira II

Os posts vão ser ainda mais anárquicos agora, as férias e a necessidade de atravessar a rua para vir ao cibercafé vão tornar a tarefa penosa e cansativa. Enfim, veremos como vai correr. A manter-se a nortada impertinente que tem varrido a praia talvez faça deste cantinho o meu refúgio.

Crónicas da Figueira I

Ontem, viagem via Norte. Este blog deslocalizou-se com as minhas férias e a Figueira da Foz passa a ser a sua sede. No caminho - e em conversa com a minha mãe - recordo esta mesma viagem há uns anos atrás, a família toda, a confusão. O dia era planeado com antecedência e a sua chegada aguardada com nervosismo. As bagagens eram empilhadas em camioneta alugada por entre tomates e batatas. A mudança de casa no sentido literal. A chegada frenética e casa cheia para a qual só faltava levar galinhas. Hoje tudo é mais simples, basta um carro atulhado com malas por certo inutilmente cheias. Mesmo racionalizando e evitando despejar o armário inteiro para dentro das malas - algo feito amiúde em outros anos -, há sempre o hábito herdado da camioneta de tentar mudar de casa, de levar coisas que até podem fazer falta, mesmo que todos os anos digamos que é a última vez.

28.7.05

Diploma

O claustro estava vazio, contudo sons rodeavam a minha cabeça, conversas, suspiros, músicas. Não havia vivalma e atravessei até ao bar para um café; tudo igual, as paredes, o balcão, o Paulo. Há uns tempos que não voltava à minha escola, à minha Universidade. Cinco anos, mais ou menos, desde que o curso se deu, com grande pena, por terminado. Já tinha voltado, várias vezes mesmo, mas hoje a tranquilidade das paredes e falta de burburinho, de gente, de caras conhecidas, tornava o ar estranho, carregado de nostalgia. O diploma, o almejado diploma, estava finalmente pronto, com a rapidez que caracteriza o nosso país demorou quase tanto tempo a ser escrito como demorou a ser acabado. Talvez seja essa a ideia. A secretaria estava diferente, sem os guichets de madeira e os buracos para falar, agora com a entrada toda em vidro e uma cara nova no atendimento. Modernices. Felizmente o edifício é difícil de estragar e o claustro, com o imutável Quercus a meio, esperava tranquilamente, à impiedosa luz do sol, por um Setembro mais animado com praxes e “carne fresca”.
As romagens ao passado marcam sempre. Ao contrário de muitos, para mim a faculdade foi um lugar feliz e de boas (óptimas) recordações. Ganhei vida, mundo e muitos amigos que até hoje perduram. Por isso o diploma foi como que um corte umbilical com a minha escola, um ponto (aparentemente) final numa ligação. Hoje estou nostálgico e tive de ir ás compras. Enfim, há maneiras diferentes de “curtir” a nostalgia, hoje estava fútil e apeteceu-me ir ao Chiado comprar. Podia ter sido pior.

Pré-Época

A Gamebox já cá canta. Este ano seremos cinco a seguir as pisadas do Sporting em Alvalade. Espera-se algo de bom, afinal a esperança sempre foi muito verde. A ver vamos quando for a doer (pré eliminatória da Liga dos Campeões), para já a coisa não vai mal.

27.7.05

Investimentos

Fala-se agora muito dos grandes investimentos e discute-se a sua necessidade e rentabilidade. Soares surge como candidato a Presidente da República e ainda ninguém olhou para este facto como um investimento do país. O facto é que Soares pontuou os seus mandatos anteriores por viagens à volta do mundo, hoje, com a provecta idade a que chegou, não me parece que repita a graça. Isto é tão mais importante quanto será de esperar que agora retribua a hospitalidade dos países que visitou, distribuindo convites para que venham ao seu país. O Palácio de Belém será uma estalagem sempre cheia e contribuirá – imaginando o bem que Soares recebe – mais para a imagem do país do que cem acções do ICEP. Nos tempos de promoção do turismo, nada melhor que um bom cicerone a representar-nos. Falta contudo falar na melhor rentabilidade que poderemos tirar de Soares e da sua obsessão em dialogar com os terroristas. Cedo perceberemos – caso seja eleito – que Portugal será transformado numa zona franca onde os senhores da Al Qaeda virão para tranquilos chás com torradas com o presidente Soares, arrastando negociações enquanto olham o pôr-do-sol no Tejo. Pensando nas enormes quantidades de dinheiro do senhor Bin Laden é líquido que a entrada de divisas no país crescerá exponencialmente.
Muito se tem falado de presidenciais, mas em tempos de défice é bom olhar lucidamente a questão como mais um ponto a discutir da economia e tirar os melhores dividendos disso.

26.7.05

Insónia

Ontem resolvi deitar-me cedo, resolução rara só justificada pela neura e por algum sono. Apetrechado do meu Harry Potter lá fui, esperando apenas durar um capítulo. Enfim, eram três e meia quando, alguns capítulos depois e muitas deduções sobre Horcruxes, em esforço lá me veio uma réstia de sono. Que chatice é gostar de ler, lá terei de voltar à técnica Tv-Shop, essa não falha.

Conversas Imaginárias

– Charles, não se esqueça que no fim-de-semana vamos de férias. Vá preparando a roupa e tudo o resto, já sabe que eu detesto esses números.
– Claro que sim menino, não se preocupe.

Férias

Quase de férias, quase. Este quase é uma última semana que saltita entre o deprimente, a chusma de coisinhas para tratar, os projectos a fechar, as compras que não houve tempo de fazer. Uma canseira! Deviam acabar com esta mania de toda a gente tirar férias ao mesmo tempo. Tudo seria mais fácil e a nossa retirada mais calma, suave, discreta.

Gente

Todos os dias – ao fim da tarde – grita por Inês sem resposta da pobre criança. Ao longo do dia pousa numa esquina, vendo quem passa, entoando de quando em quando um fado desafinado. O seu ar oscila entre uma demência aparente e uma senilidade precoce.

21.7.05

Elefante Branco

A demissão de Campos e Cunha deveu-se, segundo o próprio, a motivos pessoais. Como sabemos do seu diferendo com Sócrates acerca do “Elefante Branco” da Ota será que podemos deduzir que a demissão se deveu a razões morais? Realmente os sítios de má fama sempre estiveram ligados à política - embora de forma muito discreta -, agora que eles sejam responsáveis pela demissão de um ministro, isso sim é uma novidade!

20.7.05

Coisas da Vida Boa

Chá Marco Polo (Mariage Frères) gelado com umas torradinhas de pão de centeio com manteiga do Açores.

Diálogos Imaginários

– Charles, por favor esqueça as minhas manias contra o ar condicionado e arranje um logo que possível. Antes uns ataques de rinite do que sufocar neste inferno.
– Com certeza menino, ainda hoje estará a funcionar.

Coisas da Vida Boa

O Verão, apesar do calor. Aliás, se não fosse o calor contra o que é que podíamos resmungar, e sem resmungar como suportar uma existência calma e sem razões de queixa.

Livros

Chegou pelo correio o novo Harry Potter, agora o “Bartleby y compañia” do Enrique Vila-Matas terá de seguir a ritmo mais lento.

19.7.05

Quase Famosos

Sexta-feira tive o meu primeiro contacto com um ambiente “blogger”. A festa dos “Quase Famosos” no D&D em Lisboa foi o pretexto. Entrei discreto com um grupo de amigos e discreto permaneci. Algumas caras conhecidas, poucas, e muita gente que se calhar já conheço pela escrita, mas que não imagino de todo quem sejam. Estava calor, estava mesmo muito calor e o bar foi pequeno para tanta gente. Cheguei já tarde mas a música esteve irrepreensível. Quanto ao resto, apenas a curiosidade de poder estar entre gente que conheço mas que não faço de facto ideia quem é.

Rugby

A nossa selecção de Rugby (versão Sevens) foi campeã da Europa pela quarta vez consecutiva, nos jornais a notícia apareceu em tímida e magra coluna ao lado de considerações sobre um amigável entre o Benfica e o Chelsea e a chegada de Pinilla do Chile. Gosto muito de futebol, mas seria bom que o mérito do trabalho feito pelas gentes do Rugby fosse reconhecido. São amadores e todos têm outras profissões como advogados ou veterinários; chegam a pagar do seu bolso deslocações que a Federação não pode custear; ficaram no ano passado em primeiro lugar do Torneio das Seis Nações B, sendo que só se pode chegar ao A por convite; são um exemplo do que o desporto ainda pode ser num século XXI subordinado ao dinheiro. Tudo isto e quem é que sabe, onde é que aparece divulgado? Estivéssemos nós num país civilizado e talvez deixássemos de classificar pessoas que se destacam como o “Mourinho” do Fado ou da Bioética e usássemos também os “Tomaz Morais” do Atletismo ou da Geologia Aplicada; estivéssemos nós num país civilizado e os portugueses já deveriam ter ouvido falar do Sebastião Cunha ou do Frederico Sousa, ou do Uva, ou do Pissarra, ou do Malheiro. Ainda há desporto para além do futebol!

15.7.05

Lisboa

Releio o post anterior (Votar Bloco?) e assusto-me um pouco com o tom panfletário e inflamado. Acho que entusiasmei e procuro uma justificação. Olho pela janela o sol brilhante sobre as colinas de Lisboa, as calçadas brancas a irradiar luz. É fácil gostar desta cidade e deixarmo-nos tolher pela utopia de achar que ela pode sobreviver muito tempo à voragem dos irresponsáveis. E tentar lutar por isso.

13.7.05

Imprescindível

A propósito dos 25 anos sobre a morte de Vinicius de Moraes, o Ivan – d’a Praia – está a fazer uma série de posts. Imprescindível, quer pela qualidade dos posts, quer pelo tema. Vinicius é um daqueles personagens maiores que a vida, que as vidas. Por aqui tenho esquecido muitas vezes de escrever sobre ele, sobre a minha pequena obsessão pela sua obra, mas também pela sua vida. Concordo com a sua escolha do disco preferido, a gravação em casa de Amália é a que mais aproxima a sua obra com a sua vida, com a sua maneira de estar na vida. Aproveito para recomendar – se é que não conhece – uma gravação em DVD de um concerto gravado para televisão com Tom Jobim e Miucha. A performance e a gravação não são grande coisa, mas ver Vinicius cantar, sentado a uma mesa – sobre a qual está um balde de gelo e uma garrafa de whisky que vai esvaziando drasticamente – com um ar de gentleman britânico de microfone na mão, é uma imagem inesquecível.

Votar Bloco?

A pergunta poderia ser completamente descabida neste blog, infelizmente não é. Nas eleições para a Câmara de Lisboa, o mais interessante candidato vem mesmo dai, ou melhor, com o seu apoio. José Sá Fernandes apresentou uma candidatura que muitos desejavam. Ele tem sido o chato que todas as Câmaras deviam ter, aquele que acompanha as sessões e deliberações da Câmara, que anda em cima de todas as medidas e obras. Nos pequenos municípios há sempre alguém assim, a maior parte das vezes – quase sempre – apartidário, batendo-se apenas por amor à terra, publicando artigos em jornais locais, promovendo acesas discussões de café. Nas terras pequenas é mais fácil ter este papel, acompanhar toda a actividade camarária, saber das necessidades da população. Em Lisboa é muito mais difícil, não só por questões de escala, mas também pela maior visibilidade ao nível nacional, o que leva também a uma maior manipulação por parte dos partidos. Durante anos foi Gonçalo Ribeiro Telles o paladino da luta por uma Lisboa melhor, porfiou, pensou, escreveu, falou. Tentou por quase todos os meios que Lisboa não caminhasse para ser uma capital terceiro-mundista, sem a qualidade de vida que podia, e devia, ter. Muitas asneiras foram ainda impedidas por ele, por ele e por um grupo de pessoas que sempre o seguiu nesta missão – a memória é grata ao pensar no Movimento Alfacinha. O que sempre faltou a Ribeiro Telles foi a agressividade e acutilância que a idade e a sua postura de Gentleman não lhe permitia. Muitas vezes foi, é, acusado de ser um velho sonhador. Pena é que os seus sonhos se revelem necessidades anos depois de ele os ter revelado, pois é sempre complicado ter razão antes de tempo.
As dúvidas que ainda tivesse dispersaram-se com a entrevista de Maria João Avillez a José Sá Fernandes. A começar pela forma como surgiu a candidatura, não com uma personalidade a avançar e um séquito de apoiantes que nem sabem o que apoiam, mas sim com um conjunto de ideias que colheu contributos de um conjunto de personalidades como Gonçalo Ribeiro Telles, António Barreto e Miguel Esteves Cardoso e que se tornou num programa concreto para a cidade de Lisboa. Depois porque esse programa – vivamente questionado no debate – se baseia numa postura perante a Cidade que não poderia ser mais do agrado de um empedernido conservador inglês, ou seja, uma visão do urbanismo e da vida na cidade mais baseada na “conservação” do que está bem e na óptica do cidadão, do que em obras de fachada dominadas pelo betão.
Não consigo encarar as autárquicas como eleições partidárias, muito antes pelo contrário (tema que desenvolverei noutro post), daí que em Lisboa, tendo em conta os dados conhecidos, votaria – sem olhar para o símbolo se ele aparecer no boletim de voto – na candidatura de Sá Fernandes. Não por mim, não por ele, mas por Lisboa. Como conservador não vejo outra alternativa.

8.7.05

O Nojo

Ontem, mais uma vez, algumas criaturas tentaram relativizar – embora dizendo que não o faziam – os atentados. Tenho em mim um nojo profundo ao ouvir sempre um “mas” quando falam de terrorismo, acabando sempre a referir o Iraque ou o Afeganistão, a pobreza ou a opressão. Claro que há várias causas, mas para os exterminadores elas não são sequer necessárias, a maior causa é o desprezo e ódio com que olham a sociedade ocidental. Isso é suficiente para que matem indiscriminadamente inocentes e isso, isso não tem nem o mais remoto “mas”.

Combate

O maior combate aos terroristas é não nos deixarmos submeter ao terror. Hoje, vivesse eu em Londres, o Metro era o meu transporte.

Gente

Sexta-feira, à porta do Lux. Uma velha, de ar andrajoso e por quem o tempo passara, destoa de tudo o resto. No meio do bulício da noite faz o seu estranho caminho, passo lento, tranquilo, estranhamente decidido. Enquanto espero alguém sigo-a com o olhar. O lenço na cabeça, colorido, os sapatos antigos como ela. Dirigiu-se à porta. Ao longe, na impossibilidade de me transformar em mosca, imaginava conversas delirantes com o porteiro; Quereria entrar? Pediria para ir à casa de banho? Estaria a perguntar por alguma informação? Seria definitivamente louca? Nada compreendi, apenas a vi voltar a fazer o mesmo caminho em sentido contrário, no mesmo passo tranquilo, pausado mas decidido. Como diria uma amiga minha “Quem seria esta velha que ousou entrar nas brumas da noite?”

7.7.05

Londres

Ia escrever sobre os Jogos Olímpicos e sobre a vitória de Londres sobre Paris, ou melhor, da Inglaterra sobre a França. Ontem a boa arrogância britânica deixou os altivos franceses a chuchar no dedo. A actualidade precipitou-se e agora o motivo passou ao luto, a infame Al Qaeda voltou a atacar. Os assassinos escolheram Londres para um novo round de bombas. O mundo é, cada vez mais, um lugar perigoso.

5.7.05

Investimentos

O governo apresentou o “Grande Pacote” de investimento do Estado. Nada de novo, o betão continua a ser o destino messiânico dos nossos dinheiros e as obras públicas continuam a ser a fuga para a frente para ir resolvendo, provisoriamente, a economia e o desemprego. Teremos o que merecemos, depois das auto-estradas de Cavaco, agora o aeroporto da Ota. Talvez no futuro mais duas pontes em Lisboa e uma grande auto-estrada a ligar Vila Real de Santo António a Bragança. Enquanto isto a economia continua estagnada, a indústria decadente e o choque tecnológico vai sendo uma miragem.

4.7.05

Gente

Entrou com a manhã. Com voz rouca pediu um café, e um bagaço. Cumprimentou as caras familiares em seu redor. Os seus olhos traziam restos de vida, de muitas vidas passadas e queimadas. As mãos eram rugosas, com sulcos de dor. Estaria a começar ou a acabar o dia?

Compras Imaginárias

Sair directo para a FNAC e encher sacos sem fim com livros, discos e DVD. Alucinar publicamente e chegar à caixa num gaguejar nervoso perante a estupefacção da menina que hesita em chamar o segurança ou começar o longo registar das compras.

Coisas que maçam

Ainda não ter saído o segundo volume de DVD’s do “Verano Azul”.

30.6.05

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Se uma gaivota viesse,
Trazer-me o céu de Lisboa
(...)
Alexandre O'Neill

Pergunta

Ainda não percebi se, caso ganhe o referendo, os abortos serão feitos em hospitais públicos e à custa dos contribuintes? Claro que em caso de resposta afirmativa isso não deverá preocupar o Ministro da Saúde.

29.6.05

Coisas que irritam

As repetições das “Desperate Housewives” de terça-feira estarem atrasadas em relação aos episódios de Domingo.

Prioridades

Na blogosfera só se fala da saída de Daniel Oliveira do Barnabé. O governo, após os erros do orçamento, resolveu insistir no referendo ao aborto até ao fim do ano. Enfim, cada qual com as suas prioridades. Em dias assim sinto-me, de facto, fora do mundo.

28.6.05

Carrilho e Santana. Separados à nascença?

Manuel Maria Carrilho sente repulsa por Santana e por tudo o que ele representa, numa relação de quase obsessão. No entanto vejamos:
Santana teve a pasta da Cultura, Carrilho também.
Santana é presidente da Câmara de Lisboa, Carrilho é candidato.
Santana foi Primeiro-ministro, Carrilho ambiciona ser.
Santana é um enfant-terrible no partido, Carrilho também.
Santana sempre teve relações crispadas com a imprensa, Carrilho anda agora a insultar jornalistas.
Santana sempre casou e namorou com mulheres bonitas, Carrilho tem uma mulher bonita.
Santana era o rei da noite lisboeta (em particular da Kapital), Carrilho não lhe fica atrás (apesar de preferir o Lux).
Santana é uma vedeta do jet-set e aparece amiúde em revistas cor-de-rosa, Carrilho – com Bárbara e Diniz – está a tentar destronar José Castelo-Branco (em capas e disparates ditos).
No fim disto tudo uma pequena diferença, de facto Santana não é culto e admito que Carrilho o seja. Não serão no entanto muitas semelhanças? Depois do populismo genuíno de Santana, o populismo rive-gauche de Carrilho.

Coisas da Vida Boa

Casamentos de Amigos. Apesar de uma inegável e leve sensação de perda.

23.6.05

O que é Portugal?

Depois do Presidente pedir autorização a um Embaixador para fazer uma visita dentro do país, agora veio a Ministra da Educação dizer – por outras palavras – que os Açores não fazem parte da República Portuguesa. Qualquer dia para comprar caril no Martim Moniz precisamos de visto do governo indiano.

Greves

Depois das odes a Cunhal e ao inenarrável Vasco, veio o Presidente atirar-se aos bancos. Agora seguem-se as greves. Portugal entrou num tranquilo PREC do qual veremos como vai sair. Se é que vai sair.

Bach

Apesar de o Impensado me recomendar Haedel, parece que refrescou mesmo. Talvez não tenha sido pelos Concertos de Brandenburgo, mas ontem, após Bach, consegui sair à rua sem a sensação de sufoco. Como até nem desgosto do verão, acho que vou deixar o Handel sossegado, afinal ficar com frio em Junho também seria de mais. Voltarei, como em tantas vezes, aos concertos para piano de Rachmaninov interpretados pelo próprio.

21.6.05

Saudações

Daqui saúdo o Exmo. Sr. Ministro da Saúde pela excelente saúde do próprio e de todos os que lhe são próximos, para além da boa capacidade financeira dos mesmos que lhes permite consultar os melhores médicos fora do Serviço Nacional de Saúde. Só isto pode explicar que ache as filas de espera para operações em Portugal um assunto sem interesse.

Hoje

O ar lá fora está irrespirável. Aqui dentro o som de Jack Johnson faz lembrar calor, mas em fins de tarde depois de um dia de praia. Na areia uma guitarra e umas cervejas, em redor bonitas sufistas regressam após a última onda, ao fundo o sol vai-se pondo e o tempo é uma ilusão.

20.6.05

República das Bananas

Jorge Sampaio, por um qualquer acaso Presidente da República Portuguesa, perguntou ao Embaixador de Cabo Verde se era seguro fazer no Sábado a aparatosa visita ao Bairro da Cova da Moura, por acaso situada em território português. Será isto normal?

Coisas da Vida Boa

“Desperate Housewives” na SIC.

Diálogos Imaginários

– Charles, por favor faça uma limonada fresca com açúcar e uma sanduíche de pão de centeio com queijo fresco.
– Com certeza menino, é só um momento.

Portugal no seu pior


Guimarães, 2005

17.6.05

Sonhar

Fim de tarde, quase noite, e o fresco verde em redor transmite calma. A estrada segue ondulando e desemboca numa pequena povoação. Abro a porta e os frescos dezanove graus obrigam a levar uma camisola para a noite. Entro no Pub e, apesar da falta de fumo, o ambiente convida-me a ficar. Peço um “pint” de Guiness e espero o frio anoitecer. A Irlanda é imagem recorrente em tempos de calor insuportável.

Humor negríssimo

(Há dois dias o trânsito em Lisboa estava insuportável, ruas cortadas em redor da Avenida da Liberdade e da Praça do Chile e engarrafamentos por todo o lado.)
Cunhal foi, de facto, sempre incómodo.

O DN de Quarta-feira tinha capa dupla com Álvaro Cunhal de um lado e Eugénio de Andrade do outro. Nos quiosques a que fui era a imagem do poeta que estava por cima. Será que anda uma onda reaccionária pelos vendedores de jornais?

15.6.05

Geração Hippie

Ouço Joan Baez e recuo para um passado para mim mais do que longínquo. Será que, caso fosse mais velho, teria virado Hippie?

Monsanto, 2003

14.6.05

Verano Azul

(Passa um loira estupenda pela praia)
Tito (em resposta a um comentário de Piranha): “Demasiado para mi body”

Fim-de-semana

Calor tropical e arrastões. Bom para não ir à praia. Assim foi.

7.6.05

Bravo

Para Pacheco Pereira no “Prós e Contras” de ontem. Entre a enervante desonestidade intelectual de Vital Moreira e o seu particular despique com Sérgio Ribeiro e a falta de coragem de dizer o que realmente pensa de Ribeiro e Castro, passando pelo legalismo de Jorge Miranda e as “boutades” divertidas mas inconsequentes de Miguel Beleza, Pacheco foi a voz da lucidez e aquele que mais contribuiu para o esclarecimento das pessoas sobre o Tratado Constitucional Europeu. Haja alguém.

6.6.05

Meteorologia

Estado Líquido. A canícula chegou.

Telemóvel

Ontem fui obrigado a largar o meu pequeno e levemente arcaico telemóvel. O estúpido deu em desligar a qualquer toque, comportando-se como uma jovem menina virgem e frígida perante um perigoso predador. Enfim, não há pachorra para esses filmes e só espero poder ressuscitá-lo para tirar alguma informação que ficou lá. Com a compra de um novo, entrei na modernidade do MMS (que acho que nunca vou usar) e da câmara fotográfica (para a qual tenho dificuldade em encontrar uso). Reconheço que o visor a cores é mais agradável, mas faz-me sentir com um complexo de novo-rico que ainda não sei como vou resolver.

2.6.05

Nee

Saiam tulipas em cascata neste quente dia de Primavera. Mais um “Não”.
E agora, qual será a desculpa? Mais uma vez o descontentamento com o governo? Excesso de haxixe? Demasiado tempo de exposição a quadros de Van Gogh? Falta de montanhas? Será óbvio que assumir democraticamente o “Não” como um simples Não é algo que não passará pela cabeça dos anjos democráticos de Bruxelas.

31.5.05

Pergunta

O nosso Presidente da República diz que – mesmo com o “Não” francês – a Europa não pode parar.
Humildemente pergunto: e porquê?

Coisas da Vida Boa

A nova caixa de DVD’s do “Verano Azul”. Esperam-me agora algumas horas da mais pura nostalgia. Que bom!

30.5.05

Desonestidade

As interpretações delirantes sobre os motivos do voto Não.

Estranheza

Estar feliz por culpa dos franceses.

Não

Sai uma garrafinha de Bollinger e um Foie para comemorar!

Provocação

Sempre gostei de Setúbal. E do Setúbal. E de verde e branco.

Diálogos Imaginários

– Menino, o que se passou na semana passada que quase não escreveu no seu blog?
– Falta de tempo, Charles. Falta de tempo.

24.5.05

Não

Este blog é tendencialmente pelo Não. Quanto ao referendo sobre a Constituição Europeia, não restam dúvidas, este blog é pelo Não. Por isso aqui fica o link para o percursor blog dinamizado por Pacheco Pereira: o Sítio do Não. Para breve mais postas sobre o assunto.

19.5.05

Treinador de Bancada

Para o Sporting, e para mim, a época acabou. Nem quero saber que ainda há um jogo por fazer. No balanço foi uma época do quase e em que numa semana tudo foi ao ar. Nada a que não estejamos habituados, mas este ano podíamos ter chegado ao céu e…foi quase.
Peseiro conseguiu, é certo que só a partir de meio do campeonato, que a equipa jogasse bom futebol, sem dúvida o melhor de Portugal. Fraco consolo. Mais do que a equipa, quem falhou nestes dois jogos foi Peseiro que, depois de conseguir quase tudo, borrou a pintura com asneiras incompreensíveis.
No jogo da Luz entra sem ponta de lança, supostamente deixando Sá Pinto – que não entendo como ainda pode ser titular regular no Sporting – como jogador mais avançado. Claro que não resultou e o Sporting foi absolutamente inofensivo. Até admito que se jogue para o empate, mas pode-se, e deve-se, segurar o jogo de outra forma sem permitir que a outra equipa ganhe confiança e avance no terreno. Foi frango do Ricardo? Claro que foi. Foi falta? Talvez sim, mas não censuro o árbitro por não a marcar. Perdemos bem contra um equipa miserável que sem saber como – mas com vários apoios – ainda vai acabar campeã.
Ontem Peseiro voltou a inventar na equipa inicial. Enakarhire - que até é o melhor central do Sporting - vem de uma lesão e o normal era não ter ritmo de jogo – o que bem se notou na segunda parte –, enquanto Polga, que até já se cansou de disparatar, estava a jogar bem melhor. Tello é dos jogadores em melhor forma, seria justificado remetê-lo a defesa esquerdo? Os russos tinham como maior perigo o contra ataque, facto que até eu que não estudei a equipa sabia, não seria de ter isso em conta? Em todos os cantos ou livres ficava Enakarhire sozinho contra o Love, claro que não podia dar bom resultado e no estádio foi fácil adiantar dois dos golos antes deles acontecerem. Foi confrangedor ver no estádio que equipa teve o jogo na mão e entrou na segunda parte a vir a menos, ao mesmo tempo que Peseiro impassível no banco nada fazia. Parecia óbvio a todos que Custódio devia ter entrado para segurar o jogo pois Rochemback – para mim o melhor em campo – não podia ter pernas para aguentar o ritmo no ataque e na defesa. Lá à frente Sá Pinto foi um total zero durante todo o jogo e só saiu aos 71 minutos. Barbosa não estava em dia sim – e quando assim é já se sabe que é de esperar só meio tempo –, mas Peseiro parece que não viu e ele ficou até ao fim. Douala é – apesar de trapalhão – o desequilibrador do banco do Sporting e só entrou quando tudo estava praticamente perdido.
Peseiro transmite para o público, e imagino que também para os jogadores, uma imagem de nervos e de medo como se o mundo estivesse em vias de acabar. Peseiro teve um trabalho meritório durante a época mas mostrou numa semana aquilo que é, um treinador competente e esforçado, mas sem a garra e o rasgo de um Grande Treinador. Peseiro mostrou que com mediocridade não se chega lá, ficamos quase…

UEFA


Sete da tarde e o telefone toca. Bilhete de última hora – sem encargos adicionais – e apenas três quartos de hora para ir ao Rossio buscar o bilhete e chegar ao estádio. Condução frenética por entre um trânsito louco. Correria alucinada rumo ao metro e do metro ao estádio, o coração ameaçava sair em desespero pelos olhos. Chegada aos dez minutos de jogo. O estádio estava magnífico e só esperei vinte minutos para saltar como um possesso quase caindo bancada abaixo. Até ao fim da primeira parte foi preciso conter a euforia com garrafas de água e cigarros. Depois, enfim, foi a desilusão, a total e absoluta desilusão.

18.5.05

Agradecimentos I

Ao Bernardo Pires de Lima, d' O Sinédrio, pela referência que fez abrir as covinhas do meu sorriso embaraçado e aumentar as contas do Sitemeter. Aproveito para dizer que acho mal que divulguem a saída próxima do “Verano Azul” em DVD, eu já sabia e ando a esconder de forma egoísta porque acho que vai esgotar logo e não queria estar em filas para conseguir comprar. Agora estragaram tudo, já me imagino ao encontrão e à estalada Rua Garrett abaixo para chegar a esse pedaço de nostalgia, revendo depois a Júlia e o Chanquete, o Piraña e o Javi. A música do Verano Azul – que até já foi o meu toque de telemóvel – é o mais directo caminho para o início da minha adolescência e para os tempos em que os finais da manhã de Domingo, para além de existirem, eram momentos imprescindíveis do dia.

Agradecimentos II

Ao Ilhas pelas simpáticas citações de postas aqui do blog.

Agradecimentos III

Ao SG Buiça pelo link para este blog.

Alvalade

Ai hoje! O que será, que será, que acontecerá hoje, à noite por lá?

Delírio

Ontem foi o Dia do Iogurte. Os iogurtes são muito importantes, são mesmo um elemento essencial ao mundo, fundador do mesmo. O que seria de nós sem iogurtes. Sócrates é nosso primeiro-ministro por causa do Iogurte. O Iogurte é como a Força da Guerra das Estrelas, algo de indefinível e poderoso. Eu comemorei o dia do Iogurte, fiz até um desmedido esforço por encontrar Iogurtes, apenas os preferi trocar, mesmo quando os encontrei, por outros produtos. Sou um pouco anarca e não quis seguir a onda, apesar de saber que ontem todos os portugueses comeram Iogurte, aparecendo mesmo brigadas nas escolas a controlar se o Iogurte era ou não comido. Proponho até criar um verbo Iogurtar – Eu Iogurto, Tu Iogurtas, Ele Iogurta, Nós Iogurtamos, Vós Iogurtais, Eles Iogurtam – que se aplicaria à acção de criar factos (vulgo dias) idiotas a pretexto de tudo e de nada: por exemplo, alguém propõe que haja (se é que já não há) o dia da mulher que sofre maus tratos físicos de maridos mais velhos do que as mesmas e com o recurso ás mãos, eu logo responderia estás a Iogurtar!

15.5.05

Campeonato

O Futebol não passou ontem pela Luz. A primeira parte só dificilmente se distinguiria de um Solteiros contra Casados jogado em Alguidares da Beira, a segunda, um pouco melhor, poderia ser um Olivais e Moscavide – Sintrense da Zona Sul da Terceira Divisão. Era o jogo do título, o jogo do ano. Ganhou o Benfica que arrastou por toda a época um futebol miserável, com um oásis no jogo com Sporting para a Taça de Portugal. Perdeu o Sporting porque resolveu ir jogar para o empate – algo que só resulta nas equipas italianas ou na selecção grega – entrando com Sá Pinto e Douala e deixando no banco Niculae e Pinilla. Peseiro merecia ser açoitado na via pública por uma legião de adeptos, no meio dos quais eu surgiria a espalhar sal sobre as suas costas. Escrevi aqui que o Sporting e Peseiro podiam passar de bestiais a bestas em apenas uma semana, neste momento estão bestas, resta quarta-feira para melhorar a desgraça.

13.5.05

Coisas da Vida Boa

Porto Vintage 2002 da Quinta do Vale Dona Maria, cigarros e boa conversa. Ao sair, a brisa nocturna da primavera traz os cheiros de um jardim próximo.

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Monsanto, 2003

Angústia

O jogo é já amanhã. O primeiro de três que me darão cabo dos nervos.

11.5.05

Diálogos Imaginários

– Charles, apesar do tempo enublado acho que está na altura de mudar para as roupas de verão. Podia por favor fazer as trocas deixando algumas coisas de meia estação?
– Com certeza, menino.

Sobreiros

Sinto-me bem ao ver escândalos, como o da Portucale, a vir ao de cima. Todos sabemos que eles existem, afinal alguém tem de pagar as caríssimas campanhas eleitorais. O meu regozijo não advém de uma mórbida vontade de ver gente a ser presa, apenas gosto ter uma leve sensação de justiça. Além disso, se em causa estão dois mil e tal sobreiros, provavelmente mais velhos que os arguidos, que a averiguar-se a culpabilidade sejam condenados, e bem condenados.

9.5.05

Teste

Recebo via “O Quietista” o desafio de responder ao teste de leitura que vem circulando pela blogosfera. Aqui vai:
1-Não podendo sair do Fahrenheit 451, que livro quererias ser?
O “Livro em Branco”.
2-Já alguma vez ficaste apanhado por um personagem de ficção?
Por Corto Maltese, em especial na “Balada do Mar Salgado”.
3-Qual foi o último livro que compraste?
“El Viajero Sedentario” de Raphael Chirbes, “La Deshumanización del Arte y otros Ensayos de Estética” de José Ortega y Gasset, “Harry Potter and the Half-Blod Prince” de J.K.Rowling (encomendado).
4-Qual o último que leste?
“A Handful of Dust” de Evelyn Waugh
5-Que livros estás a ler?
“A Loja do Ourives” de Karol Wojtyla (Andrzej Jawien), “Por Tierras de Portugal y de España” de Miguel de Unamuno.
6-Que 5 livros levarias para uma ilha deserta?
A “Bíblia”, “Antologia Poética “ de Vinicius de Moraes,”Toda a Mafalda” de Quino, os "Lusíadas" de Luís Vaz de Camões e a “Cidade e as Serras” de Eça de Queiroz.
Ou, na perspectiva de livros que SÓ leria numa ilha deserta: “Ensaio sobre a Cegueira” de José Saramago, “Anjos e Demónios” de Dan Brown, “O Zahír” de Paulo Coelho, “Querido Papá” de Danielle Steel, o “Manifesto Eleitoral do Bloco de Esquerda”.
7-A que 3 pessoas vais passar este testemunho?
Não vou passar, sempre gostei de romper estas cadeias.

Ontem III

Após uma derrota, um empate que sabe bem. Vamos ver se hoje é dia de vitória para os lados de Alvalade.

Ontem II

A malta charro juntou-se para proclamar que é o único partido decente em Portugal. A humildade não passa por lá e a presunção abunda. Enfim, a habitual superioridade moral da extrema-esquerda.

Ontem

Passaram 60 anos da libertação da Europa. Talvez muito, talvez pouco tempo. O suficiente para que a Europa deva olhar para o passado e ser prudente nas Uniões de hoje.

6.5.05

Pergunta

Será que agora em vez dos problemas sérios do país se vai falar de futebol? Ao menos seria mais interessante do que falar obsessivamente sobre o aborto.

Grande Sporting

Pelo menos a final já é nossa. Para variar ontem foi um jogo para matar, duas horas de sofrimento para poder explodir em saltos e gritos no último minuto. Não há necessidade de ser assim. Claro que no dia a seguir até gozamos com as angústias da véspera, mas é muito violento suportar jogos destes. Pelo menos a final já é nossa, o campeonato e a UEFA ainda podem ser. Haja alma, Sporting!

5.5.05

Tarde

Esperar o grande jogo do dia ao som de Camarón de la Isla e de Paco de Lucia (“Castillos de Arena”, 1977). Lá fora o Tejo, sempre o Tejo: azul, entre o ultramarino e o Prússia. Pela janela turistas passam, calções de caqui e camisas verdes, máquinas a tiracolo, olhares de espanto.

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Monsanto, 2004

3.5.05

80


Graças ao Sinédrio, entro em recordações dos idos anos 80. Fico na dúvida se os deva achar cruéis por me fazerem ver o tempo que passou, se me deva divertir numa onda de nostalgia alegre. Na dúvida, lembro os desenhos animados do Marco e a sua trágica música, ainda existente lá em casa, num single de vinil estimado como uma raridade. Para ouvir aqui, a letra segue já abaixo:

É num porto italiano
Mesmo ao pé das montanhas
Que vive o nosso amigo Marco
Numa humilde casinha
Ele acorda muito cedo
Para ajudar a sua querida Mamã

Mas um dia a tristeza
Chega ao seu coração
A Mamã tem que partir
Cruzando o mar pra outro país

Foste embora Mamã
Não me deixes aqui
Adeus Mamã
Pensaremos em ti

E tu vais recordar
Como gosto de ti
Se não voltas eu irei

À procura em toda parte
Não importa se for longe
Hei-de encontrar-te

2.5.05

Cartazes

O filósofo Carrilho entrou em campanha. Os seus cartazes parecem vindos dos anos 80 e só faltava a sua troca com um Cavaco de gravata estreita e colarinhos longos. Mau gosto? Não creio. Acho que Carrilho sabe que para a generalidade da população é um intelectual (palavra assassina em Portugal) pedante e insuportável, somente tolerado por ser casado com quem é. Para a “inteligentzia” é um herói, um dos seus que, por entre a Bica do Sapato e as inaugurações, os pode proteger e a quem eles protegem. Só que isto não dá votos. Os cartazes – que Carrilho abominará com toda a certeza – são inteligentes na tentativa de o aproximar do povo, do que vota e faz ganhar eleições. A “inteligentzia” já está ganha, afinal ainda foram uns anos como Ministro da Cultura.

Pini-gol-gol-gol

Ontem mais uma prova superada. Para o Sporting este fim de época é dramático, nos próximos quatro (ou, esperemos, cinco) jogos tudo pode oscilar entre o bestial e a besta, entre a euforia desmedia e a desilusão absoluta. Na dúvida optaria pelas primeiras, que assim seja.

28.4.05

Artigo

Com algum atraso, uma imprescindível referência ao artigo do Miguel Esteves Cardoso no Diário de Notícias de Domingo. Depois de o ler sinto-me um bicho menos raro, ou talvez raro mas bem acompanhado.

Agradecimentos

Novos links de novos blogs. Obrigado ao Cápsula do Sul, ao It’s Our Pleasure, ao Makejeite, ao Barbara Bela e ao Quietista.

26.4.05

Fim-de-semana

Por terras do Alentejo não vi expropriações, apenas ouvi os malditos morteiros que me acordaram – ainda ressacado – na manhã de ontem. Em momentos como estes tenho de conter a vontade de sair para a rua e gritar a plenos pulmões “Viva Salazar”, apenas para provocar a populaça e ter desculpa para começar a distribuir cacetada pelos energúmenos que me acordaram. Claro que, por debaixo do quentinho dos cobertores, me acobardo e acabo com estas veleidades reaccionárias.

Futebol

Numa Liga em que os jogos estão à venda, hesito entre perder o interesse em ser campeão ou ganhar vontade insana de mandar para a cadeia os delinquentes que mandam no nosso futebol. Fair-play só podia ser uma palavra inglesa, e sem tradução à altura.

CDS

No congresso deste fim-de-semana ganhou Ribeiro e Castro, mas ganhou também a política portuguesa. Telmo Correia foi incensado líder pelo aparelho partidário que o “obrigou”, com o seu óbvio consentimento, a suceder a Paulo Portas. Durante dois meses estendeu um tabu, do qual iria emergir como o Messias do partido em pleno congresso (que mania esta de todos os partidos quererem o seu D. Sebastião). Claro que errou, ao conceber a política de forma tão táctica perdeu, e perdeu bem. Não segui o congresso – afinal era fim-de-semana grande –, mas é bom para Portugal que ganhe um candidato contra a estrutura do partido, contra os “sindicalistas do poder” que cada vez mais dominam os nossos partidos. Não sei se Ribeiro e Castro vai ser bom presidente do partido, não sei se me irá levar a votar ou não. Sei que, pela maneira como ganhou, inspira pelo menos uma palavra cada vez mais rara: seriedade. Talvez as suas ideias não sejam as minhas – aliás desconfio que não são –, mas ser eleito para um partido querendo que o mesmo tenha uma doutrina definida é bom, pelo menos sabemos com o que contamos, no meio do pântano político de um país em que as ideias vão sendo raras.

21.4.05

Semana

Tem sido uma semana de confusão mansa, daquela feita de uma sucessão subtil de situações, de alterações à rotina de não ter rotina. A vida altera-se ao sabor de um tempo forçado pelos acontecimentos ou pelas notícias nem sempre boas.

19.4.05

Celtas

Retomo a ala de música celta da minha prateleira, há uns tempos repousada por pouco uso. Na minha reduzida – sempre assim a acho – discoteca, a sua presença é significativa. Ontem voltei a alguns Chieftains, lembrando os pastos verdes e os “pints” de Guiness. Hoje passo por Mary Black, De Dannan ou Clannad. Volto também à voz magnífica de Sean Keane. Penso em pubs de madeira - perdidos em terras isoladas - com o fumo (foi assim que os conheci) entranhado e famílias em bebidas de fim de tarde. Apetece um tele-transporte para Connemara ou Galway.

Futebol

Na modorra desta primavera indecisa valha-nos o futebol. O Sporting lá segue, finalmente estável, com hipóteses de ganhar duas competições. Ontem mais uma vitória. Haja alegria por algum lado e que assim se mantenha.

15.4.05

Grande Sporting

Não é facil aguentar jogos como de ontem. O estádio, apesar de não estar cheio, estava magnífico de animação. O jogo foi de uma intensidade que tirou anos de vida a quem lá estava. Por estranho que pareça, os adeptos sempre acreditaram na vitória impossível, apesar dos brindes arrepiantes da defesa. Na segunda parte a equipa foi buscar forças não se percebe bem onde. Agora só faltam dois jogos até à final de Alvalade, joguem eles com a mesma garra e tudo parece possível. Haja esperança.

14.4.05

Coisas da Vida Boa

Olhar pecaminosamente para um recém-chegado boião de Dulce de Leche, abrir cuidadosamente e atacar, com volúpia, o seu conteúdo à colherada.

Casa da Música

Com algum atraso – pronto, foram só uns anitos – e depois de um pequena derrapagem orçamental – afinal, o que é exceder um orçamento em seis vezes – parece que hoje é inaugurada a Casa da Música. O edifício é realmente uma boa peça de arquitectura, mas será normal que, com tanto dinheiro gasto, ele não possa ser palco de óperas ou bailados por falta de fosso e de teia? Será justificável que o nosso dinheiro pague este buraco orçamental sem que sejam apuradas responsabilidades sobre tamanho disparate? O que está em causa não é a construção do edifício, o problema foi a interminável sucessão de incompetentes que geriram o processo e que permitiram que este quase se transformasse numa Santa Engrácia do século XXI. Como sempre em Portugal tudo é possível, sejam os dinheiros públicos.

E não se calou

Afinal o Sr. Jorge Sampaio abriu as torneiras das suas opiniões e nem a seca lhe dá a prudência de não abusar. Parece que não lhe chega a campanha para o “sim” à Constituição europeia, agora resolveu opinar sobre quase tudo. Segundo as suas sábias palavras, Portugal falhou o referendo sobre a regionalização. Gostaria de perceber o que é falhar um referendo. Será que é não ir de encontro ás suas luminosas ideias? O referendo chumbou e se algo falha na descentralização é a falta de competência dos políticos para a fazerem sem ter de recorrer a uma fórmula democraticamente vetada. Os conceitos básicos da democracia parecem estar arredados da visita de Estado a França, talvez sejam os ares franceses que fazem mal ao nosso anglófilo Presidente. Marquemos de imediato uma visita a Inglaterra para que Jorge Sampaio volte à sua postura fleumática e prudente.

13.4.05

Artigo

Na continuação do post anterior não resisto a duas frases de um artigo “jornalístico” do DN de ontem, da autoria de Fernando Madaíl.

«O "non" das sondagens gaulesas, que está a assustar a Europa, vai marcar as intervenções da visita de Estado de Jorge Sampaio a França, que não hesitou em sublinhar, mesmo no banquete ontem oferecido por Jacques Chirac no Eliseu, que, "no processo de ratificação da Constituição, joga-se o nosso futuro colectivo".»
A assustar a Europa? Eu sou europeu – logo faço parte da Europa – e não estou assustado, estou antes esperançado. Que critérios jornalísticos seguiu esta criatura para achar que, num assunto que em tantos países nunca foi referendado (Portugal por exemplo), a opinião da maioria da população pode ser de susto!

«Afinal, o "cartel" do "non" não se limita apenas aos comunistas e trotsquistas, à extrema-direita e aos soberanistas, mas divide de tal forma o próprio PS que, ontem, o Libération levantava a hipótese da polémica entre os socialistas franceses que são "pró" e "anti" Constituição estar a fazer nascer o "espectro de uma implosão" daquele partido centenário.»
O cartel? Vale mesmo tudo. Agora quem é contra a Europa pertence a uma estrutura organizada de supostos malfeitores. Que pérola do jornalismo. Percebo que num artigo de opinião se possam ter opiniões extremas (basta lembrar Luís Delgado), mas numa peça jornalística não me parece adequado que quase se insultem pessoas. Aliás, até sobre o PS francês – que, goste-se ou não dele, é um partido democrático – se fala como se de um bando de loucos perigosos se tratasse. Com jornalismo assim…

E que tal se se calasse

O nosso Presidente parece querer, à viva força, que eu perca a estima que apesar de tudo lhe tinha. Depois dos sucessivos episódios decorrentes da fuga de Durão, em que o senhor parecia tentar baralhar toda a gente, eis que aparece agora no seu esplendor. Sobre tudo e nada diz que não deve falar, que não deve dar opinião, que deve permanecer neutro. Falemos de rabanetes ou do aborto, de políticas económicas ou de peixe grelhado, o senhor diz que deve ser o presidente de todos os portugueses, esquivando-se de opiniões que extravasem, ainda que marginalmente, o politicamente correcto. Pois, goste-se ou não até é uma posição coerente…se for coerente.
A propósito do referendo da Europa, o senhor decidiu ir a França (em visita de Estado) dar uma perninha na campanha pelo “sim”, tomando parte activa com as suas convictas opiniões. Reacção em Portugal? Nenhuma. A nação assiste impávida ao nosso neutral presidente a fazer campanha eleitoral à nossa custa – sim, não consta que uma visita de Estado a França seja privada –, num assunto que também irá ser referendado por cá. Será que havia silêncio caso o Presidente fizesse campanha pelo “não”?
A Europa permite tudo e os referendos mais vão parecer eleições do Antigo Regime, só que os “democratas” de outrora estão agora na barricada que tenta, por todos os meios, obrigar a populaça a votar nas suas ideias. A Europa é hoje mais do que uma religião, é uma imposição em que vale tudo, e que se vale de tudo. Os políticos perderam toda a vergonha e usam métodos que há uns anos valeriam a qualquer um ser acusado na praça pública de fascista, a ter as paredes de casa pintadas com impropérios capazes de fazer corar senhoras de má vida. Os “democratas” de ontem são os sub-reptícios ditadores de hoje, e o senhor Sampaio melhor faria em estar calado e ficar a passear nos bonitos jardins de Belém, em vez de se passear em campanha por França. Belém não é Versailles, mas haja decência.

11.4.05

PSD

A oposição já tem um novo líder. A avaliar pelo enorme entusiasmo do congresso parece que não vamos precisar de calmantes para adormecer facilmente em Portugal.

Campeonato

Que belo fim-de-semana de futebol, temos campeonato! Ontem em Alvalade o jogo foi miserável, mas ganhar jogando mal até pode ser um bom sinal, numa época em que foram vários os jogos mal perdidos. O que importa é que Sporting já só depende de si, para ser campeão “basta” ganhar todos os jogos que faltam. Haja esperança.

7.4.05

Coisas da Vida Boa

O telefone não toca. Pela janela entra uma brisa com cheiros de primavera. O som de Rodrigo Leão faz esquecer o tempo. Assim, até o trabalho se torna produtivo.

Diálogos Imaginários

(Ao telefone)
– Charles, estou atrasado e vou chegar em cima da hora do jogo. Como vou levar uns amigos, por favor organize os sofás em volta do plasma e prepare uns patês e uns queijos. Confirme também como estamos de vinho branco e de cerveja.
– Não se preocupe menino, vou já tratar disso.

5.4.05

A Noiva

Uma noiva anda pela noite, com um ar vagamente alucinado, ao longo de uma linha de caminho de ferro, o vestido branco é longo e arrasta no chão. Outras personagens, outras cenas. A noiva prossegue o seu caminho, agora vislumbra-se a 24 de Julho em plano de fundo e ela continua no seu passo irregular e cambaleante. Outras personagens, outras cenas. A noiva chega a um edifício – que se percebe ser a estação do Cais do Sodré – e tenta forçar a porta que está fechada, não o conseguindo adormece encostada a um canto. Outras personagens, outras cenas. A madrugada surge e alguém, provavelmente o primeiro passageiro, deixa uma moeda sobre o vestido branco; a noiva acorda e com a moeda paga o bilhete para o cacilheiro; já lá dentro olha o Tejo com olhos vazios.
Podia ser um filme independente, assente na metáfora bíblica do casamento, na fuga ás convenções e aos compromissos. Era apenas um episódio da nova telenovela da TVI. A qualidade está à vista.
Tenho a mania de passar a vista pelos primeiros episódios das telenovelas, fico a par da história e posso assim, em dias de alienação televisiva, ver alguns bocados. O mesmo se passou com esta – “Ninguém como tu” – da qual já sei o que é necessário: há uma família rica que ficou pobre devido a um desfalque na empresa; há a irmã pobre que convenceu a sobrinha a não casar por dinheiro; a irmã rica é má e rancorosa – apesar de bonita, pois é a Alexandra Lencastre; há ainda uma outra irmã. O resto vai andar à volta disto, ou seja, o costume. Não tenciono seguir, mas espero ter o gosto de apanhar mais cenas como a desta noiva, fugida de fresco de um casamento de conveniência, à deriva pelas ruas de Lisboa. Há realmente coisas que vale a pena ver de tão más que são.

Viagem

Ontem estive em Londres. Entrei no Expresso do Oriente rumo a Veneza, mas tive de fazer o troço italiano de autocarro por causa da greve. Apanhei um “ferry” até Atenas, passando pelo canal de Corinto, e depois até Alexandria. Não enlouqueci, apenas comecei a ver a “Volta ao Mundo em 80 Dias” – programa da sempre irrepreensível BBC, com o sempre divertido Michael Palin – que a revista “Volta ao Mundo “, em boa hora, resolveu oferecer (por uns 5 Euros) aos seus leitores.
A nova mania de os jornais e revistas servirem de pretexto para vender DVD’s, enciclopédias e dicionários, coleccionáveis de todo o tipo e até, imagine-se, faqueiros e serviços de pratos, é estranha. Confesso que me irrita um pouco chegar à tabacaria e ficar a hesitar se compro ou não mais um DVD e se começo ou não uma certa colecção, perante as meninas que já me vão conhecendo e tentam impingir tudo o que vai saindo. Hoje é uma praga e, se fizermos contas e comprarmos tudo o que até nos apetece, uma renda ao fim do mês a acrescentar à habitualmente dispendida em jornais e revistas per si. É o novo marketing de imprensa, em que o jornal é o que começa a contar menos. Claro que é chato, mas também é bom conseguir edições difíceis de encontrar e por um preço mais simpático. Ontem foi Londres, daqui a umas semanas será um Houaiss completo e pronto a consultar.

4.4.05

Pergunta estúpida?

Porque será que o Sporting não joga sempre como no Sábado?

Parabéns

A Bomba Inteligente já existe há mais de dois anos. Os parabéns vão daqui com um poema de Borges que, soubera eu como o fazer, deveria ir acompanhado da música de Piazzolla.

Jacinto chiclana(1965)

Me acuerdo. Fue en Balvanera,
en una noche lejana
que alguien dejo caer el nombre
de un tal Jacinto Chiclana.

Algo se dijo también
de una esquina y un cuchillo;
los años no dejan ver
el entrevero y el brillo

Quién sabe por qué razón
me anda buscando ese nombre;
me gustaría saber
cómo habrá sido aquél hombre.

Alto lo veo y cabal,
con el alma comedida,
capaz de no alzar la voz
y de jugarse la vida.

Nadie con paso mas firme
habrá pisado la tierra;
nadie habrá habido como el
en el amor y en la guerra.

Sobre la huerta y el patio
las torres de Balvanera
y aquella muerte casual
en una esquina cualquiera.

Sólo Dios puede saber
la laya fiel de aquel hombre;
señores, yo estoy cantando
lo que se cifra en el nombre.

Siempre el coraje es mejor,
la esperanza nunca es vana;
vaya pues esta milonga
para Jacinto Chiclana.

Luto

Por um Grande Homem.

Caravaggio, Descida da cruz

1.4.05

Coisas da vida boa

Esplanada da Cerca Moura. Lisboa aos pés e o Tejo com vários azuis a brilhar. A Igreja de Santo Estêvão branca e dominante. Um café tranquilo, esquecendo o tempo e os carros que passam.

Coisas da vida boa

Lisboa, ontem. Sol de Primavera. Adamastor ao fim de tarde no meio do caos freak e do cheiro a charros. Assumir o fim do dia tranquilamente, esperando que os sobressaltos das filas de trânsito se diluam. Uma cerveja preta, conversa e o pôr-do-sol.

31.3.05

Iogurtes

Ontem foi dia de passagem no supermercado. No decorrer do abastecimento corrente resolvo comprar uns iogurtes, algo que durante anos deixei de consumir mas que agora voltei esporadicamente a comprar. Olho em volta e um suave terror me invade, a variedade é tanta que bloqueio. Há uns anos, quando os iogurtes eram banais lá em casa, a escolha quase se resumia aos Yoplait, variando entre morango ou pêssego, os naturais (que sempre achei desenxabidos) ou os exóticos de coco. A mãe, de vez em quando, lá dava uso à iogurteira e tentava que a produção caseira desse vazão para o gasto. Até que eram comestíveis, se lhes juntássemos mel ou algo para dar graça. A chegada do “Pecado dos Anjos” foi acontecimento, e de pronto se tornaram imprescindíveis. Lembro também os Adágio, com compota no fundo do boião e que se misturava à colher. Foi aí que deixei os iogurtes. Ontem, como em outros dias recentes, a escolha ia dos “light” aos com “bifidus activo” (que mais irão inventar), dos líquidos com chá verde e ginseng aos energéticos com guaraná. Parecia um laboratório em que o difícil é encontrar algo normal. Depois de um bloqueio, lá passei calmamente os olhos pelas prateleiras até encontrar uns frascos de iogurte líquido, normal, de morango. No meio do caos lá veio a simplicidade. O mundo de hoje não facilita a tarefa de quem procura coisas simples, tentem comprar iogurtes e logo verão.

30.3.05

Referendos II

Segundo as sondagens, o referendo sobre a Constituição Europeia corre o risco de não passar em França. Para além de uma custosa identificação com o povo francês fica uma dúvida: o que irão os burocrato-ditadores de Bruxelas fazer para “obrigar” à aprovação da Constituição? Referendos consecutivos como na Dinamarca há uns anos atrás? Para Bruxelas a ideia de Europa é algo de inquestionável, e os referendos meros pró-formas para iludir a populaça. Esperarei para ver, agora com alguma esperança num povo que poucos motivos de agrado me costuma dar.

Referendos I

Portugal prepara-se para dar prioridade ao referendo do aborto sobre o referendo à Constituição Europeia. Há medidas que dizem bem do país em que vivemos.

Diálogos Imaginários

– Charles, hoje gostava de lanchar na varanda. Pode trazer chá na mesma, mas queria também água fresca.
– Com certeza menino.

28.3.05

Parabéns

O Fora do Mundo faz um ano. Parabéns a três dos mais interessantes bloggers portugueses.