27.12.07

Coisas de amigos

Casa de Santa Vitória Reserva, Guru, Passadouro, Pintas e Pintas Vintage. Magnífico ramalhete de vinhos que por si só faria uma noite de longo prazer. Ontem, foram apenas pano de fundo para um jantar de Natal de amigos que iam chegando das proveniências mais diversas, desde o Douro profundo a Londres, desde o seminário até à Comissão Europeia. Este jantar anual é o fio que nos vai juntando por entre as distâncias da vida e o que é espantoso é que, depois de dois minutos de conversa, regressamos sem esforço aos gloriosos tempos de faculdade e esquecemos as marcas do tempo em nome de laços que, ainda que por vezes já pareçam ténues, permanecem com inesperada firmeza.

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Passado o Natal, ficam os sempre agradáveis dias que restam até o ano findar. Acolhedores e diletantes, vividos por entre telefonemas e cafés com amigos. Até há quem trabalhe, mas o ar que se respira é de umas familiares férias de Inverno.

22.12.07

Santo Natal

El Greco - Sagrada Família


Que o espírito da paz domine por sobre esta época e torne o vosso Natal feliz.
(a todos os leitores e visitantes deste blogue)

A caminho

Este blogue segue dentro de momentos “para a terra”.

Coisas da época

Este blogue está-se a comportar como um menino mimado e anda amuado com o seu blogger dada a falta de atenção. Não consegue compreender que o tempo não estica e que é mais importante comprar os presentes em falta, enviar os cartões e escolher os vinhos para o jantar de Natal. Excesso de mimo, o melhor é não ligar e deixá-lo até ao fim do ano em velocidade de cruzeiro.

Coisas das lojas

Alguém será capaz de me explicar o motivo para todas as lojas de Lisboa terem uma temperatura ambiente aproximada a uma sauna finlandesa? Nos centro comerciais ainda se pode compreender, até porque podemos deixar os casacos no carro que fica na garagem, agora expliquem-me qual é a possibilidade de conforto ao andar no Chiado num sucessivo strip-tease? É que torna-se impossível de estar numa loja sem tirar mais de metade da roupa, sob pena de nos sentirmos a cozer em lume mais que brando, mas depois saímos para a rua e lá temos de voltar a vestir tudo outra vez. Um inferno, com a FNAC a liderar no ranking das mais fogosas lojas. Acrescenta ao nosso desconforto o facto de ser impossível aos empregados suportarem um dia de trabalho sem suarem como porcos, o problema é que alguns desconhecem a técnica da recarga de desodorizante e ao meio-dia já levam um odor do mais intolerável que imaginar se possa. Passar nestes fornos comerciais ao fim do dia é uma provação tão desagradável como desnecessária.

18.12.07

Contra a censura

A partir deste post, do “Cachimbo de Magritte”, soube que a música “Fairytale in New York”, dos Pogues, foi censurada pela BBC. Ouçam para perceber porquê.



Esta tirada: "You scumbag, you maggot you cheap lousy faggot, Happy Christmas your arse I pray God It's our last.”, nomeadamente o “faggot”, foi considerada muito forte, demasiado para as consciências politicamente correctas, afinal a liberdade de expressão vai tendo limites cada vez mais estreitos e não podemos permitir canções que ofendam, ainda que muito vagamente, seja quem for. Qualquer dia até podemos ser perseguidos na rua por dizermos a um amigo, “vá lá, não sejas maricas”, ou por comentarmos uma escolha menos feliz de vestuário dizendo “fica-te péssimo, pareces uma bicha”.

Ódio

Parece que Sarkozy anda com a Carla Bruni. Quando começava até a gostar do homem, para mim difícil tendo em conta que é francês, eis que um súbito e emergente ódio toma conta de mim. Sim, é verdade que a inveja é um sentimento muito feio e estamos no advento, mas afinal somos todos pecadores.

17.12.07

Coisas de Natal

Diz-se que o Natal é época de voltar à infância. Mesmo que o não seja, de facto, é bom ao menos recordar esses tempos. Nada mais adequado para tal do que rever o anúncio que marcou todos os anúncios de Natal da minha geração, penso que bastará dizer “…e o gato te de se esconder…”

14.12.07

A Franjinhas


A fantástica Beatriz Costa faria hoje cem anos. Vale a pena recordá-la aqui, na inesquecível "Canção de Lisboa", com o também extraordinário Vasco Santana.

13.12.07

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A minha pequena consolação na cerimónia de assinatura do tratado foi a de os convidados terem sido obrigados a ouvir cantar Dulce Pontes, que a cada dia que passa, e nos seus intermináveis gritos, mais se assemelha à lendária Bianca Castafiore dos livros do Tintin.

Tristeza

Os eurocratas assinam hoje o famoso Tratado de Lisboa. A minha falta de entusiasmo é proporcional à falta de democraticidade de uma instituição a que o meu país pertence, curiosamente a mesma instituição que faz poucos dias se queixava da falta de democracia nos países africanos – não estou a comparar os graus de tirania. A forma indigna como este Tratado vai ser aprovado faz com que nem queira saber bem o que ele representa – a primeira versão foi chumbada em França e na Holanda e esta, em quase tudo igual à primeira, vai ser afastada de referendo, excepto na digna Irlanda, por motivos que ninguém sensato compreende. O argumento de que estes tratados são demasiado complexos para irem a referendo apenas mascara o medo da derrota, e isso é a contra essência do que é uma democracia.

Contra o disparate


Este blog está contra, o que vem sendo um hábito, o dito "Acordo Ortográfico".
(Agradecimentos ao velho e saudoso Indy de onde vem este autocolante aqui reproduzido.)

Coisas de 2007

Memórias de 2007 (1) - O rugby.

Do Francisco José Viegas, no "A Origem das Espécies"

"Um jornal americano chamou-lhes Pavarottis. A imagem percorreu o mundo, não sei se nos encheu de orgulho, mas olhámo-la com comoção – a forma como a rapaziada cantava o hino nacional antes de cada jogo chegava-nos de França como uma espécie de reabilitação da pátria, a velha pátria em chuteiras, medricas e faceira, habituada a ver jogadores de futebol a dar cambalhotas mal lhes tocam no cotovelo ou na armação da marrafa.
Tão cedo não os esqueceremos. Nem os seus nomes nem a pequena glória de terem afrontado os All Blacks daquela forma fatal, íntegra, nobre, olhando-os nos olhos, dançando curto (evidentemente) mas sem alguma vez evitar o confronto ou a ousadia. Um ensaio que fosse valia a pena. Uma fuga que ficasse registada seria inscrita no livro das glórias.
O pequeno país que gosta daquele dicionário de indignidades do futebol, tomou-lhe o gosto. No futebol, habituou-se a ouvir coisas como «falta inteligente», «conseguiu um penalty», «brilhante atitude defensiva». Colocado patrioticamente diante da televisão para ver o melhor rugby do mundo, o adepto lusitano encontrou um grupo de almas diabólicas, ou tomadas pelo diabo, com cara de homens, com físico de homens, capazes de correr e de placar, de fugir e de perseguir, de se arrastarem no chão ou de voarem em busca da bola – como há muito tempo não viam no futebol mariquinhas e de efeito fácil, onde toda a gente finge que se lesiona.
Vimo-los todos, jogo a jogo. Jogo a jogo, a pátria pendurava a chuteiras prateadas e sentava-se para ver o jogo da tribo. Jogo a jogo crescia a admiração por aqueles rapazes, desde o primeiro ensaio português em Mundiais, assinado por Pedro Carvalho. Aliás, se o Criador quisesse dar uma prova da sua existência, depois de ter aberto um sulco nas águas do Mar Vermelho – há muito tempo –, teria escolhido o minuto 44 do jogo contra a Escócia, quando um português deixou para trás os escoceses e rasgou pelo estádio fora na direcção de um ensaio fabuloso. Com isso, provaria a sua existência, indicaria que era fã dos Lobos, e mostrar-se-ia justo. Porque nesse primeiro ensaio em Mundiais estava representado todo o esquadrão de batalhadores que se atreveu a enfrentar equipas profissionais. Mas não só: eles enfrentaram também a ignorância dos snobes modernos, a impreparação do cidadão comum e o desprezo dos mariquinhas do futebol.
Foi um gozo puro. Perderam todos os jogos. Nunca uma equipa tão derrotada foi tão comentada no mundo inteiro, com a imprensa neozelandesa, inglesa, americana e sul-africana falando de uma «great story» da «lovely performance of the newcomers». Laurent Bénézech, no L'Équipe, valorizava a coragem e o coração dos portugueses. O mais difícil dos comentadores da ESPN americana não se cansou de distinguir «the great spirit» do bando de portugueses que se atreveu a discutir, metro a metro, o campo que lhe tinha sido entregue.
Há quem ache que isto era pouco. Paciência. Num país de plástico e de vedetas, os Lobos mostraram-nos como, à sua maneira, desvalorizaram os nossos próprios limites e lutaram contra a nossa condição. Eles ultrapassaram o seu destino. Merecem um lugar de destaque nos nossos aplausos."

12.12.07

Extraordinário país

As últimas notícias sobre a construção de uma barragem na zona do Almourol levaram-me a olhar atentamente o estudo sobre as suas implicações, perante as quais fiquei siderado. Em causa não está a necessidade de construção da barragem ou a sua utilidade, em causa está, infelizmente e como é hábito, a profunda irresponsabilidade dos que nos (des)governam e a falta de valor que dão ao “nosso” dinheiro. No mundo civilizado existe uma coisa chamada “Ordenamento do Território” e outra chamada “Planeamento”, em Portugal ambas são bizarrias defendidas por seres tomados por alienígenas. Na zona a ser inundada, para além de vastas áreas dos mais férteis terrenos da região, estão povoações e diversas zonas que sofreram nos últimos anos intensas obras de requalificação ribeirinha. Quanto ás povoações é inevitável falar de Constância, uma das mais bonitas e preservadas vilas portuguesas, que seria parcialmente submergida ou teria de ser emparedada entre açudes. A respeito das obras de requalificação de áreas ribeirinhas deve-se referir a mesma Constância, mas também, e mais importante, Abrantes.
No ano de 2001 foi dado início ao projecto Aquapolis, que visava reestruturar as margens norte e sul do Tejo na zona junto à cidade de Abrantes. O projecto foi dividido em várias fases, duas das quais já foram concluídas. A primeira constava do projecto de Arquitectura Paisagista para o parque urbano de 36 ha e dos projectos de infraestruturas e arruamentos. A segunda fase, a mais importante do projecto, consistia na construção de um açude insuflável, o maior do país, que permitiria criar um enorme espelho de água, posteriormente chamado de “Mar de Abrantes”. A primeira fase do projecto custou por volta de 5 milhões de Euros e a segunda orçava em 10 milhões de Euros, valores sem as habituais derrapagens orçamentais. O projecto contou com apoio de programa Valtejo e do Ministério do Ambiente e Ordenamento do Território, tendo sido aprovado pelo INAG. A inauguração oficial do projecto, apesar da primeira fase ter sido terminada em 2003, decorreu em Junho deste ano com a presença do primeiro-ministro Pinto de Sousa, o mesmo que enquanto ministro do Ambiente apoiou o projecto e o mesmo que agora o quer submergir baseado num plano do INAG, curiosamente o mesmo INAG que aprovou o projecto Aquapolis. No fundo, esta gente toda achou por bem gastar mais do que 15 milhões de Euros (3 milhões de contos) num projecto que tencionam agora submergir e que não temos certeza se não tencionavam já, na altura da aprovação . Todo este processo apenas demonstra o valor que se dá aos dinheiros públicos, ao nosso dinheiro, por quem nos (des)governa, e que apenas traz proveito para uma área de negócio que tem sido responsável pela destruição do nosso país – a construção civil. Só os construtores lucram com estes esbanjamentos, os mesmos construtores que pagam as campanhas dos partidos, os mesmos construtores que sabemos, sem precisarmos de provas, terem relações mais do que obscuras com o poder político, em especial o municipal. No caso de Abrantes importará referir que o Presidente da Câmara, que se tem manifestado com muito pouca veemência contra a barragem, foi constituído arguido por motivos ainda não conhecidos, devido ao segredo de justiça, após uma fiscalização à Câmara, e que o vereador responsável pelas obras públicas, e grande dinamizador deste projecto, é hoje em dia consultor do grupo empresarial que executou esta obra. Claro que tudo pode não passar de uma coincidência, mas enfim, estamos no extraordinário país delas.

10.12.07

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Este Natal apetece-me dar, mas não me apetece comprar. Dilema para resolver nos próximos dias.

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Os bens recolhidos pela Comunidade Vida e Paz para o jantar de Natal dos Sem Abrigo foram roubados. Ainda entendo que haja cobiça, mas à custa de quem nada tem está para lá da minha compreensão. Caso descubram os culpados sugiro imediato envio para a Somália ou a Etiópia, sem documentos.

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O ar de Lisboa voltou a estar respirável e não corremos riscos de embater em colunas policiais a proteger assassinos.

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Passou o dia de Nossa Senhora da Conceição, padroeira deste país melancólico. Falta espaço para todas as preces que precisamos.

6.12.07

À bomba

Enquanto vai chegando a corja de criminosos para a mui propalada cimeira, tenho tentar a contenção de me amarrar a uma bomba e descer em parapente sobre a reunião. Pouco se perderia, com honrosas excepções lá estará um bando de criminosos, responsáveis pelo persistente arrastar de um continente pela mais profunda miséria e onde o respeito pela vida é um delírio de utópicos. África é em tudo o exemplo do que não deveria ser e uma boa imagem do que é o mundo de hoje, onde os direitos humanos apenas têm significado quando há dólares ao seu lado, e mesmo assim nem sempre.

3.12.07

Yupiiieeee!!!

Y lo han callado. Por fin, e aunque sea por poco tiempo, lo han callado.
Bravos venezuelanos.

Vale mesmo a pena ler

“Se o Portugal do antes do cavaquismo era terceiro-mundista, acendia velas à inveja, à pinderiquice socialistóide e se comprazia em exibir mulheres de buço e o lumpen de mão estendida à caridade do Estado, os dez anos que medeiam entre 1985 e 1995 - mais o cavaquismo piegas de Guterres que se lhe seguiu - diluiram a cultura cívica, dinamitaram a respeitabilidade das forças fáticas, instituíram uma cultura de direitos - direito à riqueza, ao consumo, direito ao canudo - sem exigir trabalho, compeneração, esforço e qualidade. Muito daquilo que hoje se diagnostica teve a sua génese nesses anos de dourada promoção do nada em que Portugal, subitamente bafejado pela cornucópia dos fundos germânicos, preferiu as croissanterias, os jeeps e os aparthotéis à cultura da exigência. O cavaquismo é um velho carnicão. Está lá, ainda, seja em versão socialista, seja em "social-democrática". É um espinho cravado entranhado que nos vai privando, ano a ano, ao direito de sobrevivermos enquanto comunidade.”
Excerto de um post do Combustões que pode ler na totalidade aqui.

Sábado de festa

Apesar dos factos e do tempo insistirem em nos querer fazer pensar outra coisa, o 1º de Dezembro ainda é, e deve ser, dia de festa. Por muitos motivos que nos queiram dar para que queiramos antes alguém que diz “Porque no te callas”, valeu a pena poder manter este país que tem tanto de bom e bonito, como de desprezado e maltratado.

Manifesto masoquismo

A minha insistência em dar uso a uma Gamebox adquirida no início da época futebolística tem provocado insistentes momentos de masoquismo. O jogo de ontem poderia ser cinefilamente catalogado como uma enorme estopada realizada por um qualquer pretensioso realizador português (quase todos, portanto), alternando momentos de irrelevante – porém chatíssima – intriga, com laivos de pretensa comédia “nonsense” – como os falhanços acrobáticos de Purovic – e com um final trágico – porém tão anunciado que só um optimista incorrigível o não esperaria. O argumento é estafado e já visto e os intérpretes conseguem uma cada vez maior credibilidade no seu estilo de under-acting, por certo inspirados no bocejante Russel Crowe. Destoa Moutinho que passeia dignidade perante a restante camarilha, claramente inspirado em James Stewart. O resto parece uma mistura de pseudo actores “Morangos com Açúcar” com o refugo do Teatro Nacional D. Maria. A encenação é esforçada, mas manifestamente sem garra nem brilho. Os filmes que aí vêm não permitem grandes expectativas, será mais do mesmo, no fundo como o cinema português, sempre mais do mesmo e, infelizmente, o mesmo é muito mau.

30.11.07

Coisas de cozinha

A perna de pato de ontem não me correu muito bem. Dias há em que a bancada da cozinha se assemelha a uma página em branco onde não sabemos o que escrever e muito menos como. Cozinhar sem receita é como escrever sem plagiar, necessita treino e inspiração. Às vezes a coisa não corre bem quando hesitamos perante a pimenta e as ervas ou em que o zimbro não parece cair bem com a paprika. O mesmo se passa quando sabemos que queremos escrever, mas olhamos desolados para o branco opressivo e apenas banalidades nos passam pela cabeça. Estava comestível, até nem estava nada mal, mas ficou longe do que poderia, e deveria, ter sido. Foi assim como um post aceitável, até bem escrito, mas que passados dez minutos ninguém se lembra.

Verdade reposta

Retiro o que disse no post anterior, com humildade reconheço que ontem foi uma data histórica: a senhora Pires de Lima foi por um dia (de facto) Ministra da Cultura e arranjou, não me interessa como, dinheiro para comprar o Tiepolo. Deo gratias.

29.11.07

Luto Profundo

A Madredeus acabou. Termina assim o grupo mais importante da música portuguesa, que ao longo de vinte anos manteve uma superior qualidade musical e um espantoso êxito por esse mundo fora. O Madredeus reinventou uma portugalidade que se encontrava dispersa pelo folclore e pelo fado, agarrada a uma estrutura musical muito consolidada. Reinventaram sons e criaram uma sonoridade inconfundível, cuja melhor definição que encontro é que era Portugal. Como Amália, foram um povo numa voz e a voz de um povo.

Agradecimento

Ao “A Origem das Espécies” pelo link para este sítio, muito em especial porque vem de um dos blogs preferidos por estas bandas.

Tiepolo

Vai hoje a leilão em Lisboa. Extraordinário é que está “em vias” de classificação, facto atribuível decerto à enorme abundância de grande pintura que temos neste pobre país. “Em vias” é uma expressão magnífica, daquelas que diz tudo e não diz nada. O Estado, ou melhor, o suposto Ministério da Cultura, não compra, pois parece que terá gasto todo o seu escasso dinheiro na exposição do Hermitage. Ainda assim não o deixa sair de Portugal, caso para dizer: do mal, o menos. Apenas gostava de ter o milhão e meio de euros para o comprar, não para o ceder ou alugar a um museu público, cada vez mais locais pouco frequentáveis, mas para a sala de minha casa, sim, acho que aí estaria muito bem.

26.11.07

Proibido Proibir

Chego, via “A Origem das Espécies”, a este texto de António Barreto no Público.

«Os cozinheiros que faziam no domicílio pratos e “petiscos” a fim de os vender no café ao lado e que resistiram a toneladas de batatas fritas e de gordura reciclada, podem rezar as últimas orações. Todos os que cozinhavam em casa e forneciam diariamente aos cafés e restaurantes de bairro sopas, doces, compotas, rissóis e croquetes, podem sonhar com outros negócios. Os artesãos que comercializavam produtos confeccionados à sua maneira vão ser liquidados.
A solução final vem aí. Com a lei, as políticas, as polícias, os inspectores, os fiscais, a imprensa e a televisão. Ninguém, deste velho mundo, sobrará. Quem não quer funcionar como uma empresa, quem não usa os computadores tão generosamente distribuídos pelo país, que não aceita as receitas harmonizadas, quem recusa fornecer-se de produtos e matérias-primas industriais e quem não quer ser igual a toda a gente está condenado.Esses exércitos de liquidação são poderosíssimos: têm estado-maior em Bruxelas e regulam-se pelas directivas europeias elaboradas pelos mais qualificados cientistas do mundo; organizam-se no governo nacional, sob tutela carismática do ministro da Economia e da Inovação, Manuel Pinho; e agem através do pessoal da ASAE, a organização mais falada e odiada do país, mas certamente a mais amada pelas multinacionais na gordura, pelo cartel da ração e pelos impérios do açúcar.
[...]
Nas esplanadas, a partir de Janeiro, é proibido beber café em chávenas de louça, ou vinho, águas, refrigerantes e cerveja em copos de vidro. Tem de ser em copos de plástico.Vender, nas praias ou nas romarias, bolas-de-berlim ou pastéis de nata que não sejam industriais e embalados? Proibido. Nas feiras e mercados, tanto em Lisboa e Porto como em Vinhais ou Estremoz, os exércitos dos zeladores da nossa saúde e da nossa virtude fazem razias semanais e levam tudo quanto é artesanal: azeitonas, queijos, compotas, pão e enchidos.
Na província, um restaurante artesanal é gerido por uma família que tem, ao lado, a sua horta, donde retira produtos como alfaces, feijão verde, coentros, galinhas e ovos? Proibido.Embrulhar castanhas em papel de jornal? Proibido.
Trazer da terra, na estação, cerejas e morangos? Proibido.
[...]
Vender, no seu restaurante, produtos da sua quinta, azeite e azeitonas, alfaces e tomate, ovos e queijos, acabou. Está proibido.
Comprar um bolo-rei com fava e brinde porque os miúdos acham graça? Acabou. É proibido.
[...]
Servir areias, biscoitos, queijinhos de amêndoa e brigadeiros feitos pela vizinha, uma excelente cozinheira que faz isto há trinta anos? Proibido.
As regras, cujo cumprimento leva a multas pessadas e ao encerramento do estabelecimento, são tantas que centenas de páginas não chegam para as descrever.
[...]
Tudo isto, como é evidente, para nosso bem. Para proteger a nossa saúde. Para modernizar a economia. Para apostar no futuro. Para estarmos na linha da frente. E não tenhamos dúvidas: um dia destes, as brigadas vêm, com estas regras, fiscalizar e ordenar as nossas casas. Para nosso bem, pois claro.»

A tudo isto apenas gostaria de acrescentar: “Puta que os pariu”.

Ontem

Estive de feriado, lembrando a importância do dia 25 de Novembro na vida deste país. Na posição vertical, de comando em punho, vendo comédias românticas apenas interrompidas para a missa dominical. Porque era dia de feriado, apenas porque era dia de feriado.

Parabéns

Ao 31 da Armada pelo ano de existência.

O interior

Gostaria de poder ter escrito o post que segue, mas foi escrito pelo Francisco José Viegas no “A Origem das Espécies”.

“O presidente da República lamenta a desertificação do interior e o presidente da Câmara de Gouveia informa que nos últimos anos perdeu 3000 pessoas. A última grande iniciativa lançada para fixar empresas e pessoas «no interior», lançada pela então ministra Elisa Ferreira, previa uma festa com a redução de 5% no IRC. Mas a realidade é esta: um quarto do território com três quartos de população; três quartos do território com um quarto da população.
De vez em quando, o país inteiro (três quartos da população, um quarto do território) dá-se conta de que existe um país incompleto (um quarto da população, três quartos do território). O “país incompleto” pesa pouco na balança dos créditos e constitui uma ameaça para o orçamento, cada vez mais apertado quando se trata de financiar “regiões improdutivas”. Para uma economia estritamente liberal, seria conveniente arrendar esse território e ceder à exploração de uma entidade privada essa parcela populacional. O Estado lucraria imenso e livrar-se-ia de uma grande parte da taxa de analfabetismo, de agricultores humildes, de funcionários da administração pública, de guarda-rios, de professores deslocados e de médicos que ambicionam viver em Lisboa, Porto ou Coimbra. Três quartos da população (ainda que confinados a apenas um quarto do território) talvez não rejubilassem, porque grande parte deles conserva a sua condição de emigrantes na periferia das três maiores cidades, mas os responsáveis pela administração do Estado sorririam à ideia. De vez em quando há problemas em Miranda do Douro, em Portalegre, em Mogadouro, em Almeida, em Pias, na Covilhã ou na ilha do Corvo. Lamentáveis ocorrências apenas explicadas pela incúria e inoportunidade desse “país incompleto”. Sejamos realistas: metade do país não rende. Quer dizer: não é prestável do luminoso ponto de vista da rendibilidade económica. De resto, só défice. Esse “país incompleto” é bom apenas por poucos motivos: oferece uma boa área para que as estradas que vêm de Espanha e do resto da Europa atinjam o litoral sem problemas de maior, pontuados aqui e ali de bombas de gasolina, de restaurantes e de lojas de artesanato; e é “a terra” de muita gente que vai lá às romarias ou ao jantar de Natal. De resto, tirando o turismo de habitação, o país vinícola no Douro e no Alentejo, o circuito dos hotéis de charme e o esforço triplicado dos que vivem mesmo «no interior», o litoral vê o resto como hortas, pastagens e muita pedra. Não está posta de parte a hipótese de arrendar essa parcela do território. Ficariam com a bandeira portuguesa, sim. E até se mandariam professores. Mas, que diabo, seriam administrados por uma empresa que garantiria que o orçamento de Estado não geraria défices assombrosos com essa terra de ninguém que era bom entregar ao turismo rural e à “literatura fantástica” que se encarregaria de divulgar as suas potencialidades para os fins devidos. Quando há eleições autárquicas, autarcas dinossauros ou estreantes aparecem nas pantalhas. Os comentadores têm em conta a expressiva votação em Almeida ou em Vimioso, como no Alandroal e em Aviz? Não. Eles sabem que se trata de um quarto da população, três quartos do território. Esse país terá cartazes, outdoors, visitas do Tribunal de Contas e da IGAT. Tem estradas e IP, “acessibilidades” e Pólis, mas duvido muito que perceba as incidências do défice. Está em défice há muito tempo. Devíamos pensar nele por um instante.”

22.11.07

O mínimo

Apesar de mais um jogo medíocre em que a qualquer momento esperava um surpreendente golo finlandês, facto agravado pelo hábito destas situações lá para o lado de Alvalade, a selecção nacional lá conseguiu passar à fase final do europeu. Da frase anterior ressalvo o “apesar de” e o “lá conseguiu”, expressões supostamente impensáveis de dizer após o último jogo de qualificação num grupo de qualidade e dificuldade mais do que baixa.

Educações

Scolari insiste numa falta de educação e arrogância que começam a cansar e a dar vontade de lhe dar um tapinha à séria. O melhor seria juntá-lo a Chávez e enviá-los para um bom colégio interno inglês onde lhes ensinassem as mais básicas regras da educação e da convivência. Acho até que se iriam tornar os melhores amigos.

20.11.07

Manif

Hoje apetecia-me criar ou aderir a uma manifestação “a la” extrema-esquerda e ir para o aeroporto ou São Bento com panelas para bater e tomates para atirar ao grande democrata venezuelano. Claro que os jornais de amanhã diriam que perigosos fascistas se manifestaram contra Chávez, numa intolerável violação dos direitos democráticos assente em preconceitos imperialistas. O mundo infelizmente anda assim, com a balança dos valores muito estranhamente desregulada, condicionando-nos as opções e tornando-as de imediato politicamente incorrectas.

Ter em casa

O jornalista espanhol que no “Prós e Contras” de ontem afincadamente defendia comunismo e populismo com igual agrado, tentando por todas as vias agredir o Rei de Espanha, é daquelas criaturas que apetece ter em casa, junto ao sofá, para pontapear a gosto. Conseguiu num espaço de tempo reduzido dizer e, mais grave, insinuar tal quantidade de alarvidades que seria um acto de sanidade pública, que os seus heróis “democráticos” não teriam problemas em concretizar, silenciá-lo, não fora o facto de ainda haver quem entenda o que é democracia e que perceba que em nome dela até temos de tolerar a imbecilidade mesmo que dela não gostemos.

Coisa muitíssimo estranha

Ouvir Ana Gomes um programa inteiro e concordar na quase totalidade da suas opiniões. O mais espantoso é não estava a falar de flores ou de culinária, falava de Chávez e do “Porque no te callas” no “Prós e Contras” de ontem.

19.11.07

Que comemoração?

Neste extraordinário país vão-se comemorar os duzentos anos sobre as Invasões Francesas. Coisa bizarra esta, a de comemorarmos o facto de termos sido invadidos pela força por gentes de terras gaulesas, pelas tropas do “magnífico” Napoleão. A demonstração de fair-play colide com o típico mau comportamento português, bem expresso em vários desportos e em derrotas bem menos importantes. Alguém me poderia explicar – em longo, se bem que provavelmente pouco agradável, jantar – o que é que comemoramos. Assim de repente, talvez seja má vontade minha, não estou a ver os espanhóis a comemorarem Aljubarrota com reconstituições históricas. Ou os ingleses a comemorarem a Revolução Americana. Ou os comunistas a comemorarem a queda do muro de Berlim. Faz parte que comemoremos as vitórias, os momentos dos quais nos possamos orgulhar, mas comemorar uma vergonhosa invasão, ou a tão vergonhosa falta de empenho em terminar com a mesma, ou as traições à pátria de muitos sabujos de Junot, ou a pouco edificante fuga da corte para o Brasil, ou a ajuda mais do que interessada – apesar de ajuda – dos ingleses que saquearam o que restou. No meio de tudo isto ficarei com a eterna dúvida de perceber o que comemorarão eles.

15.11.07

Bravo

Forte aplauso para o Bastonário da Ordem do Médicos. Parece que ainda há quem saiba o que quer dizer ética e que não vacile nos princípios. Segundo o Público, a Ordem recusa alterar o seu Código Deontológico para permitir no mesmo o aborto, apesar do parecer da Procuradoria Geral da República que visava “repor a legalidade na situação”. Isto não implica a impossibilidade de cumprir a lei, pois a mesma sobrepõe-se ao Código, mas permite aos médicos manterem, nas palavras do Bastonário, a sua independência, autonomia e liberdade, e, acrescento eu, não poderem ser obrigados a efectuar algo que vá contra os seus princípios éticos.

Pesos e medidas

Ando com grande curiosidade de ver a reacção dos paladinos da liberdade da esquerda mais radical perante a censura de um dos seus autores de referência, Gabriel Garcia Márquez, num país que é hoje para eles um farol da democracia, o Irão de Ahmadinejad. Entre os dois estarão corações a balançar, resta saber se para algum lado irão cair ou se, subtilmente, esta censura será olvidada e o assunto menosprezado como sempre se passa com censuras provindas de regimes de esquerda, ou, hoje em dia mais importante, anti-americanos.

13.11.07

O Embuste

O sempre efusivo, em especial depois do almoço, Mário Lino continua a passear a sua arrogância de quem já decidiu, mas a quem uns maçadores obrigam a fingir que está a ponderar. Como já por aqui disse, o meu pessimismo com os políticos portugueses é perene e, infelizmente, não melhora com a queda das folhas no Outono. Quando o governo aceitou repensar a Ota muitos manifestaram a sua satisfação, já eu, desconfiado com a coisa, preferi esperar para ver. Depois dos “jamais” Alcochete e da margem sul ser decretada um deserto, é difícil imaginar como é que Mário Lino poderia aprovar outra solução que não a Ota. Como Pinto de Sousa insiste na obstinação de manter todos os seus ministros em funções, não é de esperar que despache Lino para outro tacho qualquer, o que, politicamente, inviabiliza qualquer alternativa à Ota.
O presidente da CIP vem agora queixar-se que o ministro desprezou o estudo em que Alcochete surge como a opção mais favorável e que se prepara para, em manobras de bastidores, destruir esse mesmo estudo. Apenas estranho a admiração, caso a mesma seja genuína. Quem leu, e eu estou a meio em vias de terminar, o livro “O erro da Ota” fica com a absoluta certeza que de facto existem conspirações e de poderes ocultos, e que a escolha da Ota só se pode prender com interesses dado o absoluto disparate desta mesma escolha. Quando as pessoas cegam fazem-no por poder ou por dinheiro, ou mesmo pelos dois, a Ota é o melhor exemplo disso.
Acreditando que o governo não faz a menor intenção de mudar de ideias, acho que há, ainda assim, uma via de o obrigar a isso. Sendo a grande e maior obsessão de Pinto de Sousa as sondagens, ou seja a popularidade, cabe aos jornalistas deste país, que não tenham cartão rosa, desmistificarem até ao infinito o embuste e a vergonha que será a escolha da Ota. No momento em que a população se aperceber, realmente, do que este governo está para fazer, talvez o PS comece a descer nas sondagens e Pinto de Sousa prefira ganhar o país e perder Lino e o sindicato de interesses em redor da Ota. Será preciso coragem, já que estes poderes ocultos têm de facto poder, mas pode ser que por uma vez Pinto de Sousa substitua a obstinação e a teimosia por coragem e firmeza.

A ler

Para melhor perceber a inanidade a que o anti-americanismo leva as pessoas e as estranhas alianças e conivências que se encontram, convido a ler este excelente post da Rua da Judiaria.
Fica aqui um excerto:
«Unidos por ideais comuns de um anti-americanismo e de um antisemitismo primários, o fanatismo religioso e aqueles que sopram as últimas cinzas do materialismo dialéctico vão encontrado terreno comum naquilo que, nos finais do séc. XIX, August Bebel chamou “o socialismo dos tolos”.»

Teste

Também via Rua da Judiaria, vale a pena fazer este teste do The Sunday Times sobre a veracidade do nosso progressismo.

Um questionário do The Sunday Times, de Londres
1 – É permitido aos muçulmanos ser homófobos por causa da sua cultura?
2 – Devem ser punidos por lei os casamentos celebrados contra a vontade das mulheres?
3 – É aceitável exigir que as mulheres usem véus?
4 – É o antisemitismo uma reposta legítima à frustração com as políticas dos Estados Unidos e de Israel?
5 – Deve permitir-se que o regime iraniano de Ahmadinejad adquira a bomba nuclear?
6 – Pode ser-se um defensor do povo mesmo que o povo não possa eleger outra pessoa?
7 – Existem ocasiões em que prisioneiros políticos podem ser justificados?
8 – É a al-Qaeda uma organização legítima de resistência no Iraque?
9 – É Ayaan Hirsi Ali demasiado crítica em relação ao Islão?
10 – Devia o Governo Holandês retirar a sua [a Ayaan Hirsi Ali] segurança no estrangeiro?
11 – Deveria Salman Rushdie ter escrito sobre o Corão da forma que o fez em “Versículos Satânicos”?
12 – São a liberdade de expressão, a liberdade de associação e a liberdade religiosa (ou ateística) direitos humanos universais?
13 – É uma tradição cultural aceitável apelar à morte das pessoas que abandonam uma religião?14 – É aceitável interditar a entrada em lugares sagrados a membros de outras religiões, como acontece em Meca?
15 – Podem os “crimes de honra” ou a mutilação genital de mulheres ser colocados num “contexto cultural”?
16 – É aceitável apelar à morte de cartunistas porque não se acha piada aos seus cartoons?

Respostas – 1)não; 2)sim; 3)não; 4)não; 5)não; 6)não; 7)não; 8)não; 9)não; 10)não; 11)sim; 12)sim; 13)não; 14)não; 15)não; 16)não

Se acertou na maioria das respostas, parabéns! É progressista a sério.
Se falhou a maioria das respostas… então é um progressista da treta e poderia estar com os filhos de Che Guevara em Teerão (ver post acima)

Original: "Are you a phoney liberal?" - Times Online (PDF)

12.11.07

Viva Espanha

Haja quem tenha mandado calar o inenarrável Chávez quando começou com os seus despropositados e intoleráveis insultos. Que tenha vindo de Espanha não surpreende, ainda menos quando vem do seu Rei, mostrando as virtudes de uma monarquia e da sua real independência.

Coisas boas da época

Abafadinho “on-the-rocks” com castanhas assadas numa fria noite de província.

6.11.07

A Fraude

Post longo e atrasado acerca da exposição do Hermitage.

A simpático convite de uma amiga, tive o “enorme privilégio” de assistir à inauguração da tão badalada exposição do Hermitage no Palácio da Ajuda, que dá pelo nome de "Arte e Cultura do Império Russo nas Colecções do Hermitage - De Pedro, o Grande, a Nicolau II". A chegada assustou-me um pouco ao deparar com a multidão que aguardava à entrada, mas tive assim oportunidade para por a conversa em dia enquanto fumava um animado cigarro. Não foi assim muito longa a espera e lá subimos rumo à Galeria D. Luís – pelo menos fomos tentando, porque um aglomerado de gente perfumada que julgava estar, apesar da produção, no metro, ia empurrando e furando a ordem. No topo da escadaria percebemos que numa sala decorria um cocktail, noutra sala estava exposta uma mesa de gala e que uma longa fila apontava para o que parecia ser a exposição. Optámos por deixar o croquete para o fim, no que se revelou uma má opção, e por começar pela sala com uma mesa posta com uma bonita baixela, serviço de porcelana (penso que de Meissen) e faqueiro com cabos de porcelana do mesmo serviço. Bonita, mas faltava qualquer coisa ao arranjo, talvez uma toalha que permitisse destacar mais as peças e que seria acessório lógico numa mesa que quisesse ser de gala.
Antes de entrar na exposição, devo referir que não conseguia ter a expectativa muito alta, uma vez que, conhecendo a Galeria D. Luís, sabia que o seu tamanho era, para uma propagada mega-exposição, no mínimo ridículo, restando a dúvida se as obras tinham arrasado muitas paredes do palácio tornando o espaço amplo, ou se a exposição era micro em vez de mega. Felizmente pouparam as paredes, mas a exposição de mega pouco tinha, estando ainda assim todo o espaço aproveitado por vitrinas ou painéis, o que com a enorme densidade de gente por metro quadrado tornava difícil ler os painéis explicativos e acompanhar as partes para mim desconhecidas da história da Rússia.
A colecção de peças apresentada é bonita, mas banal. A maior componente presente é de pintura, na sua quase maioria retratos da família real efectuados por pintores russos desconhecidos. Académicos e correctos, como centenas de retratos que podemos encontrar em qualquer palácio da Europa. A porcelana exposta, maioritariamente Meissen, Wedgwood e de uma oficina de S. Petersburgo, é interessante, mas para um português que tenha visitado pelo menos dois ou três museus e palácios – M. N. Arte Antiga, Palácio de Vila Viçosa ou Fundação Medeiros de Almeida – vai achar pobrezinho comparado com o que já viu. As famosas peças de Fabergé, apresentadas nas imagens promocionais com uma fotografia que as faz parecer enormes, são afinal três coroas pequeninas colocadas numa bonita meia coluna, o que em joalharia nada quer dizer, mas ajuda a compreender o logro, comprovado ao ver que as peças em nada se assemelham ao estilo dos famosos ovos Fabergé.
Uma grande área foi para mim, por motivos profissionais, muito interessante, mas era constituída por gravuras, bonitas, mas que não são de forma alguma uma manifestação de arte das mais importantes. Ajudavam a contar a história de S. Petersburgo, das suas intervenções urbanas e dos palácios do Peterhof e Tsarskoe Selo. Nesta zona situavam-se também as duas peças mais interessantes da exposição, os dois trenós reais, equivalentes dos nossos coches e, além de originais, muitíssimo bonitos. Consta que foram estas as únicas peças que os portugueses conseguiram escolher, o que até denota bom gosto da parte do Comissário.
O resto são fardas, dois ou três vestidos da Emperatriz, bric-a-brac palaciano e três ou quatro peças de bonito mobiliário. O que veio e está exposto parece provir de uma sub-cave do magnífico Hermitage, as peças hoje de copa, os esquecidos das reservas, o refugo. Parece exagero mas, apesar de nunca ter ido ao Hermitage, não imagino que qualquer destas peças tenha o mínimo de importância para o museu, pelo menos a aferir com o que encontrei em alguns dos grandes museus e palácios da Europa, e até de Portugal. Para quem não saiba, o Hermitage, que é a maior pinacoteca do mundo, aluga, numa atitude inteligente, obras dos fundos de reserva que são, como se deve imaginar, imensos. Ou seja, esta não é uma exposição montada com obras cedidas, é uma mostra alugada e bem alugada, pelo que deveríamos esperar acolher obras de qualidade. A Ministra, fascinada com a possibilidade de trazer o nome Hermitage para Portugal, acedeu a contribuir para a manutenção do museu, o que seria muito meritório, não fosse o facto de os museus portugueses constantemente se queixarem de falta de verba.
Esta é a típica acção em que se vende gato por lebre ao abrigo de um grande nome, mas em que o que se mostra, sendo interessante, não justifica nem um décimo do dinheiro investido na tinta gasta em divulgação. Só mesmo uma mentalidade provinciana pode achar que esta exposição pode ombrear com as exposições cujos ecos nos chegam de Madrid ou Barcelona (neste momento temos Durer e Cranach no Thyssen, Andy Goldsworthy e Paula Rego no Reina Sofia, só paRa dar uns exemplos).
Chegando aos números, podemos referir que a brincadeira custou a módica quantia de 1,5 milhões de Euros, para além das obras necessárias na Galeria D. Luís que orçaram em 900 mil Euros. Para dar um termo de comparação, o orçamento do anual do IPM prevê 10 milhões de Euros para despesa corrente e 3 milhões de Euros para programação. A conclusão é que a feira de vaidades russa custa metade do orçamento de programação dos todos os museus portugueses sob a alçada do Estado, o que atesta bem da sua “enorme importância”. A Ministra decerto pensou, se é que de facto o faz, que já que o dinheiro não é dela, gaste-se, já que houve patrocínios, gastem-se aqui, façam-se obras nesta sala de exposições da Ajuda, já que o CCB está ocupado com Berardo e os outros museus não têm dinheiro para vigilantes ou para a luz.
Não resisto a apontar outro pormenor delirante – que detectei ao olhar distraidamente para o tecto – que se refere ao aproveitamento da exposição para integrar uma instalação de arte contemporânea, pelo menos é esta a única justificação que encontro para que as condutas do ar condicionado e restantes galerias técnicas estejam todas à mostra. Não creio que, com o vasto orçamento da exposição, isto se deva a falta de dinheiro para um tecto falso!
No fim da triste visita, nem restou a consolação do croquete, pois na sala do cocktail apenas estavam os estalinistas esbanjadores (para quem não tenha percebido, aquela que se diz Ministra e o seu Secretário de Estado) e o seu séquito, sem um vislumbre de copos ou tapas, pelo que foi com a rapidez possível, e tentando não deitar ninguém ao chão pelo caminho, que saí da sala por motivos de higiene mental e de prudência, já que a coabitação com a dita senhora pode conduzir a comportamentos sancionados pela lei portuguesa e a presença de polícias dissuadia o insulto ou o merecido calduço.
Como nem tudo é mau, devo referir que a exposição até nem estava mal montada, com iluminação razoável e painéis explicativos aparentemente adequados. Será até uma exposição agradável de ver, mas convém avisar os futuros visitantes para não serem papalvos, não passarem por provincianos, compreenderem o esbanjamento e perceberem, de uma vez, quão Incompetente é a senhora Estalinista que se diz Ministra da Cultura.


P.S. Para desanuviar, aproveitem e vão até ao Museu Nacional de Arte Antiga para ver a exposição sobre o tapete ocidental, que terá custado uma ninharia, em comparação, mas que é de uma enorme qualidade.

30.10.07

Link

Entrada para a coluna do lado do Hotel Mandovi. Para outra oportunidade ficam alguns comentários a propósito. Até lá, vai um Cold-coffee ao fim da tarde no bar do hotel, após passeio errante pelas ruas de Pangim.

Para lembrar um momento de génio



Dos tempos em que Herman era grande, o meu sketch preferido. À atenção de quem, justamente, acha que o Herman de hoje não tem graça, mas que, injustamente, se esquece dos muitos grandes momentos que lhe devemos.

26.10.07

Pudim por Pudim

O senhor Pudim tem andado a transtornar a vida dos pobres lisboetas que, em desespero com a prolificação de sirenes a apitar e de carros a dispararem no meio do trânsito, ameaçam esgotar os stocks de comprimidos para a dor de cabeça. A agravar a situação, o tuga-lisboeta desconhece que deve facilitar a passagem de ambulâncias e carros de polícia com pirilampos acesos, com resultado que, ontem, um energúmeno quase me abalroou quando eu simpática e civilizadamente procurava dar passagem a uma carrinha da polícia com as luzes azuis a piscar freneticamente.
Como tudo isto é uma grande maçada, eu cá mandava o senhor Pudim para a sua terra, onde todos se parecem habituar ao circo que o envolve e, caso não se habituem, podem sempre esperar receber um presentinho do senhor Pudim, talvez um radiante Polónio. Pudim por Pudim ficava antes com o nosso, o “à Abade de Priscos”, que sempre vai sendo mais doce, português e, essencialmente, muito menos maçador.

Europa

“Enquanto os Estados Unidos tentavam assumir a liderança com os resultados conhecidos, a Europa na sua versão jurídica e burocrática discutia em circuito fechado e procedia à sua tarefa preferida, de tudo regulamentar, desde a proibição das colheres de pau até à extinção dos "jaquinzinhos". “

Excerto de “A arte do possível” de Maria José Nogueira Pinto no DN de ontem.

24.10.07

Fiesta

Para comemorar nada melhor que os Pogues e a sua saudável loucura.

Quatro

Descubro, por puro acaso, que me passaram os quatro anos do blog. Esta coisa de as datas serem algo de difícil memorização – acabo de descobrir que o meu primo fez anos ontem e que, portanto, terei de lhe ligar de imediato – leva a isto, até me esqueço dos dias que directamente me dizem respeito. Nada de especial, só lamento a falta de um champagne para brindar com os leitores que persistem em aturar os meus desvarios e as inutilidades que por aqui se escrevem, afinal, nem mesmo eu sei porque persisto nesta teimosa tarefa de manter um blog e durante tanto tempo. Há algo de viciante num blog, que combato como aos cigarros mantendo uma dose cobarde e aceitável e evitando os excessos. Ainda assim não me entendo e não percebo como, sendo tão preguiçoso, consigo manter esta chafarica a funcionar. Prefiro pensar que serve a minha ginástica mental e que ajuda a que este cérebro não hiberne ao ritmo dos tempos cinzentos e desinteressantes que são os de hoje. Também ajuda perceber que alguns lunáticos, não levem a mal a franqueza, leiam o blog e, aparentemente, vão gostando do que lêem. Serão motivos para continuar? Talvez sim, ou talvez não, caso um dos meus famosos e proverbiais ataques de mau feitio me levem a ter um auto-zanga que me leve a deixar de escrever. Até lá, obrigado aos que me vão aturando.

.

Agradecimento ao Vide Bula pela referência a este estabelecimento vinda do outro lado do Atlântico. Entrada para a coluna do lado, assim como o Gattopardo, o novo blog de Pedro Mexia e Pedro Lomba, e o Somos Portugueses , um blog monárquico a sério.

23.10.07

Coisas do tempo

Reclamei que me faltou calor aquando do verão do calendário em que estive de férias. Reclamei com o verão veio fora de época e as férias eram já uma miragem. Hoje dou por mim a reclamar com as nuvens que querem lembrar que não estamos em Maio, apesar da temperatura. Lembro-me também que a hora está para mudar e terei de recorrer a muito chá verde da Gorreana para combater a ansiedade e a uns valentes copos para contrariar a neura de ser noite tão cedo durante o dia.
Gosto de reclamar, em especial porque vivo em Portugal e me posso dar a esse luxo, porque o nosso clima é uma delícia mesmo quando nos troca as voltas e piora um pouco. Mesmo quando é mau, é bom, pelo menos a comparar com o resto do mundo. Por isso reclamamos tanto com ele, somos como crianças mal habituadas e mimadas, prontas a guinchar de birra a qualquer contrariedade. Pelo menos eu sou.

19.10.07

Posta em tom de esquerda

O Barroso e o Sousa regozijaram ontem, acabando a brindar com um espumante cá da terra ao qual só faltou o caviar para acompanhar. O povo que se manifestava cá fora, em número quase igual aos votantes das últimas autárquicas em Lisboa, foi olimpicamente ignorado. Assim como o foi e será o restante povo, massa obscura e ignorante que convém manter no desconhecimento e na distância da festa, e mais ainda dos incompreensíveis motivos da festa. Pouco faltou para se ouvir uma tirada como a que é, e mal, atribuída a Maria Antonieta – se o povo tem fome que coma brioches – adaptada à lusa pátria, que poderia ser qualquer coisa como: se o povo não tem nada que fazer, incluindo trabalho e emprego, que se dedique ao Sudoku, que sempre exercita a mente.

18.10.07

As luzes

Eis que chega a famosa cimeira de Lisboa. Os Eurocratas herdeiros do despotismo iluminado lá se preparam para contornar a, supostamente, legítima vontade do povo, aprovando um Tratado Europeu com conteúdo semelhante ao que foi chumbado em referendo por dois países. Agora, todos chegaram a acordo – sob a liderança do “fugitivo” Durão Barroso, bem habituado às decisões democráticas dos seus tempos maoístas – de nada submeter ao ignorante povo , que não detém a capacidade de perceber as luzes da Europa nem as ideias impolutas e divinas que emanam de Bruxelas. Ouço muita gente que fala com grande ênfase de Democracia e de Liberdade a louvar o tratado com um fervor quase fanático, o que me traz cada vez mais dificuldade em compreender o significado destas duas palavras. Aproveitando o facto, sugiro que, por deliberação da cimeira de Lisboa, se alterem em todos os dicionários da União Europeia as definições de Democracia e Liberdade, é que com estas confusões semânticas as pessoas podem ficar baralhadas e assim já todos saberemos ao que vamos.

16.10.07

Músicas

Santana ocupou o seu tempo, após ter sido despedido, com aulas de piano; Duarte Lima é eminente organista; Mendes Bota já editou um disco como cantor. Música não irá faltar na nova direcção laranja, resta saber se será ao nível da tocada por Lima – erudita, por Santana – Pop, ou por Bota – estilo, enfim, a ter algum estilo é mesmo pimba.

Pesadelo

Ouvir dizer que nomes como Arlindo Carvalho, Mendes Bota ou Couto dos Santos ainda estão politicamente vivos faz-me recuar aos piores pesadelos dos tempos do cavaquismo, o problema é que agora que não temos o velho Indy para por esta gente na ordem.

12.10.07

A Bela Lisboa

Jacarandás
(junto à Sé)
Junho 2007

Censura?

Uma vez mais, um texto de Ferreira Fernandes para o DN: “A Censura que já tarda”.

“O espanhol, homem qualquer, sem dinheiro ou influências que fazem os abusos serem pagos caro, foi abusado pela modernidade. Pela Internet, que trouxe mais liberdades a todos, até aos canalhas. O espanhol tem um filho esquizofrénico, já quarentão, que por vezes faz tristes figuras que provocam risos alarves. Mas a proximidade do bairro e o freio dos homens bons ajudavam a que o insulto se circunscrevesse a alguns irresponsáveis. Agora, não foi assim. Uns energúmenos puseram no YouTube imagens do esquizofrénico a fazer de índio sioux. O pai, que esteve décadas a aguentar risinhos à socapa, desta vez acha que é de mais. O chegar a todo o lado e a irresponsabilidade que o YouTube permite deixam o espanhol impotente. Claro que este caso (e outros e outros que vão repetir-se) irá obrigar a antídotos. Nessa altura vai dizer-se que há censura. E eu digo: que já tarda. Porque me agrada a censura que interdita que me cuspam na rua.”

10.10.07

Delírios de quase Outono

Bárbaras barbaridades barbarizam a nossa já barbarizada existência.
Tornamo-nos selvagens para selvaticamente combater na bárbara selva, ou
aguardamos serenamente apelando à serenidade dos selvagens não serenos.
Serenar a selva bárbara é tarefa à medida de uma epopeia e isso,
isso é coisa de tempos antigos.

9.10.07

Blog de página em preto

Falta motivo, falta assunto, falta vontade. O blog segue preguiçoso e a meio gás. Ainda não chegou o Inverno do frio e das braseiras, justificação para indolências caseiras. O calor que segue não justifica tanto desinteresse, tanta preguiça. O país está chato e eu por arrasto estou chato, e para evitar chatear os outros não escrevo. Poupo-os assim a longas dissertações sobre religião, receitas novas experimentadas, vontade de recuar aos tempos de Nancy Mitford ou análises comparativas entre jardins barrocos e o absolutismo. Poupo-os também a pormenores de casamentos, do último e magnífico “Bourne”, do bem que sabem os Gin Tónicos antes de jantar e da crescente vontade de viajar. Poupo-os às minhas preocupações com os arboricídios e à vontade que tenho de conhecer a nova Catedral de Fátima. Poupo-os, no fundo, a textos comezinhos e provincianos, com origem na provinciana Lisboa onde se consegue provar vinhos no “El Corte Inglés” com um desconhecido e voltar a encontrá-lo no IKEA no dia seguinte. No fundo, poupo-os a ver que estou cada vez mais como o meu país: calmo, chato, ensimesmado e melancólico.

4.10.07

Ai que festa que aí vem!

Diz que amanhã é feriado, um data efusivamente comemorada pelo povo, que acorre em massa às ruas, ano após ano, celebrando em festas ruidosas e intermináveis. Torna-se impossível circular no meio das frenéticas manifestações republicanas, com hordas de jovens de bandeira verde e encarnada em punho, gritando a plenos pulmões a “Portuguesa”, alternada com insultos furiosos a El-Rei D. Carlos. Para lembrar a efeméride, tão grata aos portugueses, deixo um pequeno poema de João Ferreira Rosa, com a promessa de o tentar incluir mais tarde na forma de música.

"Portugal foi-nos roubado"
Portugal foi-nos roubado
há que dize-lo a cantar
para isso nos serve o fado
para isso e para não chorar
.
Cinco de Outubro de treta
o que foi isso afinal?
dona Lisboa de opereta
muito chique e por sinal
.
Sou português e por tal
nunca fui republicano
o que eu quero é Portugal
para desfazer o engano
.
Os heróis republicanos
banqueiros, tropa, doutores
no estado em que ainda estamos
só lhes devemos favores
.
Outubro Maio e Abril
cinco dois oito dois cinco
reina a canalha mais vil
neste branco verde e tinto
.
Sou português e por tal
nunca fui republicano
o que eu quero é Portugal
para desfazer o engano!
.
(João Ferreira Rosa)

2.10.07

Hoje

As brumas sobre o verde lembram um lago irlandês rodeado de tranquilidade e harmonia. A humidade matinal abre o apetite. De dentro da pequena casa de janelas encarnadas sai um fumo que cheira a pinho e a cozinhados. Os pratos chegam com feijão e enchidos, colocados entre chávenas cheias de chá quente. Ouvem-se risos fraternos e a comida vai saindo alegre dos pratos. O calor rivaliza com a humidade ainda fria que entra pelas janelas abertas. Aos pouco vislumbram-se as árvores da pequena ilha do lago. Surge uma imagem turva do campanário lacustre e ouvem-se ao fundo as onze horas.

Supremo gozo

Na posta anterior esqueci-me, imperdoavelmente, de destacar o maior gozo proporcionado na noite de Sábado. Muitos foram os Barões a urrar, mas o mais sonoro agonizar foi da enorme carpideira Paula Teixeira da Cruz. E o que eu gostei de a ouvir magoada, entristecida, revoltada, aviltada, indignada com a maçada que é a democracia e que, pobrezinha, decidiu contra ela. A sua intervenção parecia de um miúdo de doze anos que acaba de perder um jogo de futebol e que nega, veementemente e a pés juntos, o resultado, acusando um amigo de o rasteirar, outro de jogar com a mão e ainda o guarda-redes de tirar a bola de dentro da baliza ocultando um golo.
Teixeira da Cruz representa quase tudo o que me afasta de um político: a suprema arrogância, o desprezo pela opinião contrária, a desonestidade intelectual, a ostensiva falta de educação, a utilização de uma forma tão afirmativa que esconde o conteúdo (logo as ideias). Por isso gostei tanto de a ver perder, o que eu gostei de a ver perder e mostrar que nem isso é capaz de fazer com o mínimo de dignidade, elevação e educação.

1.10.07

Que gozo

A vitória de Menezes encheu a minha noite de Sábado de um enorme gozo e felicidade. Dizia-se que o PSD era um partido dominado por Barões, que tinham de facto o poder de eleger e deitar abaixo líderes. Estes Barões enfatuados davam sempre e em qualquer ocasião a sua opinião, nunca dando o nome para nenhuma eleição que não fosse seguro ganhar. Espalhavam assim a sua magna influência, deixando amiúde líderes a carbonizar em lume brando, até ser a altura certa de avançarem com outro que os substituísse. Tudo, como é evidente, dentro do estrito controlo das suas influências. Mendes tinha esse caminho traçado, aguentar o partido na oposição – fase muito maçadora para os Barões pela falta de poder – até que, com a hipótese da vitória, surgiria um outro “Messias” para colher os louros, o poder, e os importantes lugares na máquina do Estado. As coisas estavam todas encaminhadas pelo “Sistema” e o pobre Mendes, pessoa bem intencionada e de aparente seriedade, preparado para aquecer os motores para o próximo presidente. Eis que surge o persistente Menezes a candidatar-se outra vez, perante o nojo distante dos ditos Barões, olhado com desprezo pela sua falta de linhagem política e inveja pelo excesso de linhagem aristocrática. Os Barões estão em transe e o que poderia ser melhor para o país do que ver os ditos aos saltos como ovos na frigideira, brandindo agora, que elas lhe foram desfavoráveis, contra as directas que ainda tentaram manipular por terras do Paraná.
Menezes será bom, ou mau, o que para o meu gozo actual é indiferente. Mendes podia ser mais credível, mas era inexistente como oposição ao Pinto de Sousa que até já devia andar maçado com a falta de luta. Não imagino Mendes nem Menezes como primeiro-ministro, mas pelo menos imagino Menezes a dar mais trabalho a Pinto de Sousa e a fazer melhor oposição. Agora, o grande gozo mesmo é ver os ditos Barões em fúria. Que delícia! Que delícia!

27.9.07

Da bola

Felicitações o senhor Padre Pereira, pela grande proeza terrena do seu Fátima. Terá por certo invocado S. Jorge na luta contra o Dragão. E que invocação!

Grande Santana

A SIC ficou incomodada com a atitude de Santana Lopes de abandonar o estúdio a meio de uma entrevista. O que a SIC esquece, procurando, em vão, defender-se à luz de critérios jornalísticos e da oportunidade do directo, é que, gostemos ou não, Santana Lopes é ex-Ministro, ex-líder do PSD e ex-Primeiro-ministro. Se isto não é motivo para algum respeito, gostaria de ver a SIC fazer o mesmo a Mário Soares ou a António Guterres. Claro que se o directo fosse de um atentado terrorista, ou de uma queda de um avião, ou da erupção de vulcão, se justificaria qualquer incómoda interrupção, mas a reportagem em directo da chegada de um treinador de futebol a Portugal, despedido já há alguns dias da sua equipa, parece-me, como bem disse Santana, digna de um país de loucos. Nada que não desconfiássemos, mas que ontem bem foi evidenciado por Santana. A sua atitude foi mais do que justificada e bom seria que mais gente no país tivesse esta coragem, talvez assim o jornalismo miserável que por aí grassa melhorasse um pouco.

26.9.07

Deliciosa Demagogia

O Pinto de Sousa anda por aí a apresentar propostas universais contra a pena de morte, o que seria uma muito louvável, ainda que inútil, iniciativa. A perplexidade que me assalta é que parece ser o mesmo Pinto de Sousa que recusou receber o Dalai Lama – pelas suas atitudes contra a China onde, curiosamente, existe pena de morte e foram executadas, em números oficiais, 1010 pessoas em 2006 – e se prepara para receber Mugabe, esse paladino dos direitos humanos.

Descoberta do dia

Parece que o PSD está em eleições e que os candidatos se chamam Mendes e Menezes. Não fora o beliscão que acabei de dar a mim próprio e pensaria estar a acordar de um pesadelo.

24.9.07

Para pensar

Não querendo copiar as postas semanais de João Távora, no Corta-Fitas, com os evangelhos de Domingo, não poderia deixar de postar o evangelho de ontem que, pela sua complexidade de interpretação, proporcionou uma das mais interessantes homilias que foi dado escutar nos últimos tempos. Pena que não tenha sido seguida de uma mesa redonda para poder tirar algumas dúvidas e aprofundar alguns temas.
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“Naquele tempo, disse Jesus aos seus discípulos: «Um homem rico tinha um administrador que foi denunciado por andar a desperdiçar os seus bens. Mandou chamá-lo e disse-lhe: ‘Que é isto que ouço dizer de ti? Presta contas da tua administração, porque já não podes continuar a administrar’. O administrador disse consigo: ‘Que hei-de fazer, agora que o meu senhor me vai tirar a administração? Para cavar não tenho força, de mendigar tenho vergonha. Já sei o que hei-de fazer, para que, ao ser despedido da administração, alguém me receba em sua casa’. Mandou chamar um por um os devedores do seu senhor e disse ao primeiro: ‘Quanto deves ao meu senhor?’. Ele respondeu: ‘Cem talhas de azeite’. O administrador disse-lhe: ‘Toma a tua conta: senta-te depressa e escreve cinquenta’. A seguir disse a outro: ‘E tu quanto deves?’ Ele respondeu: ‘Cem medidas de trigo’. Disse-lhe o administrador: ‘Toma a tua conta e escreve oitenta’. E o senhor elogiou o administrador desonesto, por ter procedido com esperteza. De facto, os filhos deste mundo são mais espertos do que os filhos da luz, no trato com os seus semelhantes. Ora Eu digo-vos: Arranjai amigos com o vil dinheiro, para que, quando este vier a faltar, eles vos recebam nas moradas eternas. Quem é fiel nas coisas pequenas, também é injusto nas grandes. Se não fostes fiéis no que se refere ao vil dinheiro, quem vos confiará o verdadeiro bem? E se não fostes fiéis no bem alheio, quem vos entregará o que é vosso? Nenhum servo pode servir a dois senhores, porque, ou não gosta de um deles e estima o outro, ou se dedicará a um e desprezará o outro. Não podeis servir a Deus e ao dinheiro».”.Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Lucas, 16,1-13».”
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Evangelho segundo São Lucas 8, 4-15

Four ages of life

Edvard Munch, 1902
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O Impensável fugiu, subtilmente , a uma ruidosa festa que comemorasse os seus quatro anos de idade, ainda assim, e apesar de atrasado, gostaria de lhe deixar esta pequena tela. Não sei se gostará de Munch, apesar de estar quase certo que sim, mas daria muito trabalho descobrir um adequado e obscuro pintor nórdico com temáticas inspiradas em Bergman.

21.9.07

A Prova

As declarações de Pinto de Sousa nos E.U.A. são a prova que faltava sobre a injustiça da acusação sobre favorecimento na conclusão da sua licenciatura, nomeadamente no que refere à disciplina de inglês técnico. Caso para dizer que Portugal é mesmo um país de “bad tongue” e de “very invejuous people”.

19.9.07

Esperemos que de alegria!

O meu intenso fim de tarde desportivo, em Alvalade para o Sporting – Manchester United, tentando acompanhar a primeira parte do jogo dos “lobos” contra a Itália no Mundial de Rugby.

Tristeza

Hoje é o dia em que um regicida – Aquilino Ribeiro – entra no Panteão. Depois das condecorações a bombistas – Otelo e Isabel do Carmo –, mais um passo que o país dá em direcção a um abismo de dignidade e respeito pela história.

18.9.07

Sobre a "nossa" hipocrisia

Com algum atraso, aqui fica um artigo de Ricardo Costa no Diário Económico do qual já tinha ouvido falar, mas que só hoje tive oportunidade de ler. Vale a pena.
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Um hino à hipocrisia
"Portugal teve mais orgulho em quinze pessoas que nunca foram apoiadas do que em toda uma indústria subsidiada (e, já agora, falida) que é o futebol.Ricardo CostaDevo ser dos poucos portugueses que não ficou espantado com as imagens dos jogadores da selecção nacional de râguebi a cantar o hino nacional. Conheço o jogo, tenho filhos que praticam este desporto e sei que toda a actividade do râguebi português gira em torno de boa-vontade, empenho, dedicação e sacrifício. Há ainda características próprias do jogo, que o distinguem de muitos outros, e que fazem de cada partida um “tudo ou nada” em que o colectivo pura e simplesmente apaga a mais ténue vontade de individualismo e fica à vista de todos.
Foi a absoluta “verdade” das imagens que espantou o país. Já ninguém canta o hino daquela maneira, muito menos sem ser a fingir. Portugal ficou a saber que por cá se joga râguebi e que uma equipa de médicos, advogados, estudantes, veterinários (etc) aguenta 80 minutos de pressão total contra alguns dos melhores profissionais do mundo. E ficou a saber isso, quando ainda estava a digerir a descoberta de Nelson Évora e a confirmação de Vanessa Fernandes. Descobrimos isto tudo e descobrimos também que os nossos campeões de atletismo treinam em Espanha porque não temos uma única pista coberta e que a selecção de râguebi treina, muitas vezes, às seis da manhã antes de ir para o trabalho!
Tudo isto somado às miseráveis exibições da selecção de futebol (o desporto de que mais gosto e que mais alegrias nos dá, isso é indiscutível) e à agressão de Scolari mostram que não existe em Portugal um mero rascunho de política de Desporto. Já aqui o escrevi e repito: uma verdadeira reforma estrutural seria implodir o estádio do Algarve, juntamente com o de Leiria e o de Aveiro. E quem devia pagar a dinamite da implosão era o actual primeiro-ministro e o José Luís Arnaut. Só a partir daí é que se pode fazer alguma coisa estrutural.
O que o hino de St. Etiénne nos disse, de forma transparente, foi que, em poucos segundos, Portugal teve mais orgulho em quinze pessoas que nunca foram apoiadas do que em toda uma indústria subsidiada (e, já agora, falida) que é o futebol. Para citar Luís Amado (que teve esta semana um ataque súbito de ‘realpolitik’), tudo isto acontece pelas “razões conhecidas”. E as razões conhecidas são uma mistura de vistas curtas e de hipocrisia.
Agora, já vamos construir uma pista coberta e de certeza que a malta do râguebi vai levar medalhas em Belém e louvores em São Bento. Emenda-se a mão onde se pode, mas nada muda. É um pouco como a triste história do Dalai Lama: a China pede, e nós, de gatas, fingimos que ele não anda por cá e que defende uma causa bizarra e duvidosa; mas quando a perigosa Inglaterra levanta dúvidas sobre o senhor Mugabe, nós batemos com a mão no peito e dizemos que quem manda aqui somos nós. Sinceramente não percebo: desde quando é que a China foi mais recomendável (a não ser, eventualmente, na culinária) que a Inglaterra? Nunca. E é extraordinário que aceitemos os caprichos da China e façamos um braço de ferro com o governo inglês…
A pouco e pouco vamos transformando o país num protótipo de hipocrisia. E é por isso que nos arrepiamos a ver certas imagens. São imagens sem um pingo de artificialismo, que não foram (nem podiam ser) encenadas por nenhuma agência de comunicação nem estudadas pelo protocolo do MNE. São imagens verdadeiras e nós já estamos pouco habituados a isso. Sugiro ao primeiro-ministro que passe as imagens do hino de St. Etiénne no próximo Conselho de Ministros e que as distribua em DVD nos Estados Gerais. São mais rápidas que um discurso do Almeida Santos e mostram o país que somos."
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Ricardo Costa, Director da Sic Notícias

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Copyright: Harry Gruyaert/Magnum Photos

"Desde este lugar sem história,
até um lugar na história,
vão apenas dois minutos,
no elevador da Glória"
Rádio Macau – “O Elevador da Glória”

Porque hoje reabre, após o habitual atraso português nas obras, o Elevador da Glória. Volta assim a funcionar um dos mais deliciosos pequenos pedaços de Lisboa, daqueles únicos e irrepetíveis.

13.9.07

De vergonha

Saber de gente que não recebe o líder de uma mais do que respeitável e pacífica religião, representante de um povo oprimido e prémio Nobel da paz, diz muito dessas pessoas. Quando para além disso se preparam para receber o inenarrável Mugabe, diz ainda mais. E se se disser que é gente que se prostra aos pés do comunismo capitalista chinês, então tudo está dito. O grave é quando essa gente representa um país e, mais grave ainda, quando esse país é o meu.
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P.S. Noto ainda a falta de memória de alguns, que há uns anos atrás gritavam pelo povo oprimido de Timor e se insurgiam com a falta de apoio de alguns países. Agora, curiosamente, já estão do lado dos opressores.

De selecção

A selecção nacional de futebol conseguiu hoje mais um deplorável jogo, cuja qualidade me fez lembrar os tempos liceais de mais do que falhado ponta de lança. Felizmente não tinha o hábito – quando as coisas não corriam bem, ou seja, a maior parte das vezes – de esmurrar os adversários, o que até era uma medida inteligente tendo em conta os meus fracos atributos para andar à pancada. A hipótese Scolari de “esmurra e foge que alguém há-de agarrar o outro” também não era muito boa, já que a rapidez nunca foi o meu forte. Enfim, desde cedo que a minha ligação ao futebol se traduziu em bancadas ou sofás, sem presença de chuteiras nas vizinhanças. Talvez por isso goste de me achar no direito de dar opinião, talvez por isso ache que quem merecia ser esmurrado era Scolari.
Sem tirar o mérito do que já fez, e que é muito, a campanha de apuramento tem feito por desafiar o português mais paciente a resistir a impulsos homicidas contra Scolari. E porque será? Talvez por insistir doentiamente em jogadores fora de forma e com tanta vontade de correr como eu tenho de ler livros do Saramago. Talvez por acreditar numa bailarina de cabelo comprido que no meio do esforço e do tempo perdido a ajeitar o penteado se esquece de fazer aquilo que lhe é pedido, ou seja, marcar golos. Talvez por continuar com um suposto mágico que se esqueceu dos truques em casa e se passeia no campo como a placidez de um nova-iorquino ao Sábado em Central Park. Talvez por se esquecer no banco de jogadores que têm o hábito de correr e, imagine-se, em alguns casos, de resolver jogos. Talvez por achar que defender é sempre o melhor caminho, mesmo quando a coisa corre mal em vezes consecutivas. Talvez por comandar uma equipa cujo futebol entusiasma tanto os adeptos como a selecção de Malta do anos oitenta – porque agora até já evoluíram – apesar da mesma ser formada por um conjunto de jogadores cujo ordenado somado daria para sustentar umas mil famílias de classe média portuguesa. Enfim, por estes e muito mais motivos hoje até me apetecia esmurrar Scolari, até porque os meus raros instintos violentos são sempre com pessoas com uma característica que abunda em Scolari: a arrogância.

11.9.07

11 de Setembro 2001

Copyright: Steve McCurry/Magnum Photos
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Não devemos esquecer. Sem "mas".

10.9.07

Man of the Match






Vasco Uva

Capitão da Selecção Portuguesa de Rugby e eleito o melhor em campo no jogo de hoje contra a Escócia.



Os nossos "Lobos" começaram bem a sua presença no Mundial de Rugby, ao perder apenas por 56-10 com a Escócia - uma das melhores selecções do mundo - e ainda conseguindo marcar um histórico ensaio. Mais importante do que o resultado foi ver a forma como cantaram o hino e como estiveram em campo, tão bom seria que o exemplo de desportivismo e nacionalismo são fosse seguido por outros desportos. Segue-se agora a Nova Zelândia e esperemos que os jogadores mantenham a concentração e não corram campo fora em busca de autógrafos dos melhores jogadores do mundo, em vez de jogar com a garra e o amor ao desporto e à camisola que tão bem os caracteriza.

6.9.07

Luciano Pavarotti

12 de Outubro de 1935 - 6 de Setembro de 2007
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Podia não ser o melhor, do hoje ou do sempre, mas era explosivo, excessivo, magnífico, e como todos os, muito poucos, que conseguem ser de facto "Divos", uma figura que a história não se cansará de lembrar ao longo dos tempos.
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Fotografia - Copyright Peter Marlow/Magnum Photos

3.9.07

Resmungo

E vai uma pessoa de férias e leva com vento, e frio, e até chuva. E a água do mar gélida e uma neura por falta de sol, por falta de fotossíntese. Sim, porque somos como as plantas e precisamos de sol para funcionar, para armazenar energias para o Inverno. E assim como é que vamos suportar o Outono? E agora é que vem o calor, agora que é tempo de trabalhar, que é tempo de ficar no escritório a gastar energia no ar condicionado para sobreviver ao bafo que vem lá de fora. Agora, que é Setembro, que era tempo de marés vivas e nortadas e do regresso a casa já “fotossintetizado”, já saturado do sol, e do calor, e de praia, e do mar. E o que fazer agora? Fugir para umas segundas férias e mandar ás malvas o trabalho e tudo o que nos rodeia? Agarrar no carro e fugir para a Figueira, ou para Sagres, ou para o Guincho, e lá ficar, ficar, e esquecer que o mundo existe até me sentir preparado para voltar à realidade e para resistir ao Outono que se avizinha, com as folhas caídas, e o frio e o vento, e a falta de sol? Todo este lamento se deve a ser português e ter criado uma terrível habituação ao nosso clima, que de tão bom que é me torna exigente, e picuinhas, e refinadamente resmungão a cada vez que ele foge da norma, da norma que eu gosto e a que estou habituado.

29.8.07

Corra a ver

Ratatouille é simplesmente delicioso, visualmente deslumbrante e muito, muito, mas mesmo muito divertido. Conselho de amigo, vá à sessão das sete para depois correr para casa cozinhar algo de excêntrico ou, opção igualmente válida, reserve mesa e corra para um óptimo restaurante sonhando que na cozinha estará o pequeno Remy, criando e recriando as melhores das receitas.

28.8.07

Ainda há jornalismo

Mário Crespo caminha para ser o paladino do jornalismo independente e desassombrado, imune a pressões e ao fantasma do politicamente correcto. A sua entrevista de ontem a Gualter Batista, a face visível do movimento ecoterrorista “Verde Eufémia”, foi um perfeito massacre sobre as inconsistências e hipocrisias do activista porta-voz da acção destruidora de milho transgénico no Algarve. Os eufemismos, as incoerências, a arrogância moral, tudo foi questionado com a simplicidade e competência que deviam guiar o jornalismo, em especial quando de entrevistas se trata. Não é necessário ser agressivo ou desagradável para questionar um entrevistado e conseguir dele extrair a informação desejada ou, noutros casos, perceber da ausência de informação ou de consistência da mesma. Após a entrevista de ontem, só muito dificilmente alguém inteligente e não toldado pela força das ideias extremas poderá acolher com a mínima simpatia a acção que este movimento secreto – já que os outros membros insistem no anonimato – efectuou ou as acções que venha a efectuar. Gente que se julga dona da razão e que em nome dela actua cegamente contra a lei e a maioria da população não é novidade, aliás, já teve grande importância na história do mundo ao originar regimes tão livres e democráticos como o fascismo ou o comunismo.

27.8.07

Verão

Este Domingo foi de verão, não do sério, de sol impenitente e escaldante, mas do que permite ter luz, e estar junto ao mar, e até conseguir agradáveis mergulhos. Claro que sucedeu a um belíssimo sábado “Bergmaniano”, de nuvens intensas e escuras, de borrifos de chuva convictos e fim de tarde plúmbeo e adequadamente neurótico. Este verão anda um pouco “cinicozinho”, e irritante também.

Destaque

As crónicas venezuelanas de Ferreira Fernandes, no DN, são um magnífico espelho do Admirável Mundo Novo “chavista”. A ler e a reter, e a emprestar ou enviar por e-mail para o mainstream de esquerda anti-americana que vê em Chavez, como viu em Guevara, o farol guia contra o capitalismo e o modelo de virtudes humanas e governativas a espalhar pelo mundo.

23.8.07

Para hoje ao fim da tarde


Após encher os copos com um bom vinho branco.

"Junto à Costa de Capri"
Copyright: JK/Magnum Photos

Regresso

As chegadas de férias fazem-me desejar que o meu corpo fosse como um relógio de parede, em que para acertar as horas bastasse rodar os ponteiros e dar corda.

21.8.07

Eco III

Perante o acto terrorista deixa de interessar a discussão sobre o milho transgénico. Os selvagens até podem ter razão, mas isso não lhes dá o direito de violar a propriedade privada. Seria o mesmo que, com argumentos de sanidade pública, eu invadisse a casa dos terroristas e os obrigasse a tomar um longo banho, incluindo a lavagem do cabelo. Teria muitas razões para o fazer, mas, em nome de uma sociedade democrática, devo respeitar a sujidade das criaturas.

Eco II

Aos ecopatetas, agora perigosamente convertidos em ecoterroristas, gostaria de lembrar que ecologia não é uma corrente política, é uma ciência. Também convém perceberem que nenhuma ideologia defende melhor os valores ecológicos e ambientais dos que aquela que tanto detestam, a dos conservadores.

Eco I

A recente chegada de férias tinha-me impedido de tomar conhecimento de mais um passo no curto caminho para a decadência deste país. Talvez inspirados nas ocupações retratadas no filme “Torrebela”, agora em reposição, um bando de patetas com ego inflado pela extrema-esquerda resolveu, perante a observação, e quiçá apoio moral, da GNR, destruir uma plantação de milho transgénico. Com a argumentação de uma desobediência civil ecológica, os perigosos idiotas encontraram uma alternativa à praia e organizaram mais uma festinha das que tanto gostam, com muitos jornalistas e a esperança de alguém lhes dar um par de estalos ou murros para se poderem fazer de vítimas da opressão. Que uma polícia venezuelana não interviesse, até compreenderia, agora que a nossa GNR assista impávida e serena e não prenda ninguém, já me parece digno de John Cleese. A dúvida sobre se vivo num país civilizado é cada vez menor, infelizmente pendendo para o lado oposto a Darwin.

20.8.07

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Regressado de umas outonais férias em Agosto, verifico com tristeza que ainda não se organizou nenhuma manifestação, ou abaixo-assinado, contra o impertinente e desprezível comportamento do anti ciclone dos Açores, ao resolver deslocar-se sem aviso prévio com a consequente remoção do verão do nosso país.

9.8.07

Momento intelectual em férias

Um copo de vinho branco fresco em esplanada frente à vetusta Casa Havaneza. Apressado, livro na mão, o vislumbre de Pedro Mexia a atravessar a rua. "Com os copos" de Miguel Esteves Cardoso sobre a mesa. Quem disse que as férias não podiam ter um certo toque intelectual?

7.8.07

Férias

Este blog encontra-se de férias no sítio do costume. As postas serão assim mais raras, perdidas entre a areia e o mar, as pevides e os tremoços, as imperiais e o vinho branco. Hoje, para matar saudades, uma nortada à antiga. Maneiras da praia que me acolhe lembrar a sua personalidade. E que personalidade.

3.8.07

A frase mais proferida no Ministério da Cultura.

“Quem será o senhor(a) que se segue?” (acompanhado por um sorriso aberto e um esfregar de mãos)

A senhora da (in)cultura

A prodigiosa estalinista que nos governa a cultura persiste na coerência de nos poupar à sua presença. Nos últimos tempos, em que já saneou quatro dirigentes de topo sob a sua tutela, apenas me recordo de a ver a montar um camelo e a abraçar-se a Berardo. Não que a sua presença seja agradável ou motivo de regozijo, apenas seria de bom-tom que assumisse publicamente as suas decisões e não empurrasse para a linha da frente os seus peões mais submissos. Talvez seja timidez, ou, tenhamos um pouco de esperança, vergonha pelos seus infames actos.

1.8.07

Época tola

Apesar do esforço para entrar em época tola, o país insiste em não mo permitir, Coisas de ser português e de habitar este local infrequentável de onde não quero sair.

Elogio da mediocridade

Citando Vasco Pulido Valente: “Triste país o nosso”.
O anúncio da demissão da directora do Museu Nacional de Arte Antiga é mais um passo no irreversível caminho para a mediocridade que este país insiste em trilhar. No espaço de pouco tempo o país, o Estado, deu-se ao luxo de dispensar três pessoas que se destacaram nas suas áreas muito para além da simples competência. Paulo Pinnamonti foi afastado compulsivamente do Teatro Nacional de S. Carlos por ter ousado conseguir, supremo ultraje, temporadas de uma qualidade de que não havia memória. Paulo Macedo foi afastado das Finanças por, desprezível insulto, conseguir arrecadar dinheiro impensável dos impostos.
Agora é a vez de Dalila Rodrigues, que estava a conseguir o prodígio de des-mumificar um museu parado no tempo alguns séculos atrás. Ela que resgatou os painéis de S. Vicente de uma sala recôndita e secreta, por certo para exclusivo usofruto dos trabalhadores do museu, para o topo nobre da escadaria. Ela que ousou juntar números inauditos de pessoas em conferências no museu. Ela que sempre estava em busca de novos públicos e quase duplicou o número de visitantes. Ela que estava a ousar conseguir belíssimas exposições periódicas, como a d’ “O Tapete Oriental em Portugal” que ainda ontem inaugurou. Ela que conseguiu importantes mecenatos que só não eram maiores por falta de autonomia administrativa. Ela que finalmente estava a dar a dignidade merecida ao nosso grande museu de arte. Ela que foi compulsivamente, e sem razão aparente, afastada do cargo directora do MNAA pela mão do Ministério da Cultura, esse antro de incompetência, invejas e mediocridade.
Neste país não compensa ser competente, neste país que ainda foi algo porque noutros tempos ousou ousar, hoje ousar é quase crime, justa causa para um despedimento sem contemplações. Assim vamos, num lindo caminho rumo a um poço sem fundo de miséria, de onde vai ser cada vez mais difícil, senão impossível, sair.

30.7.07

Verão

Após um glorioso dia de praia no Guincho, em que o calor só se aplacava com imersões refrescantes, aceito que chegou o verão. Este blog retoma a sua cor estival, o seu tom suave de areia mais adequado à época. Poderá também descambar para postas dignas da estação tola, um pouco por força do cérebro tender a derreter perante o calor.

Tempo

Estamos velhos quando reencontramos amigas que percebemos não ver há catorze anos.

27.7.07

Ainda a “alegada” licenciatura

Chego, via Impensável, a um artigo do The Independent sobre a alegada licenciatura de Pinto de Sousa. O texto será decerto classificado como mais uma peça de jornalismo deplorável, sem rigor e com uma má investigação e confirmação de fontes. Coisas que acontecem em países atrasados e com maus jornais que não têm uma ERC para os pôr na devida ordem.

25.7.07

Justiça

Aquando das presidenciais, muita gente amiga questionou o meu voto, ainda por cima convicto, em Manuel Alegre. Leio hoje um artigo seu em que se insurge contra a falta de liberdade e o amordaçamento da opinião no país. Nada mais certo, nada mais actual, ainda por cima com o vergonhoso arquivamento do processo Charrua e a continuidade impune da directora-geral que ainda por cima promoveu o bufo. Manuel Alegre é, ainda, do partido do poder e podia estar tranquilamente a usufruir das mordomias daí resultantes, no entanto, e uma vez mais, mostrou a coragem de ser contra-poder e escreveu um artigo que fará mais contra Pinto de Sousa do que um ano de Mendes ou Menezes. Tudo isto vem-me lembrar uma coisa, a justeza do meu voto. Quem ouviu, até hoje, palavras, ainda que remotamente parecidas, da boca do nosso Presidente da República? Muitas vezes são as pequenas atitudes que definem os homens.

24.7.07

Por momentos...

Leio no DN: "Pinto de Sousa acusado pelo Ministério Público". Sustenho a respiração e imagino o que o nosso primeiro-ministro possa ter feito para que, no estado em que as coisas estão, o Ministério Público tenha tido o topete de o acusar de algo. Linhas abaixo leio que são acusações de corrupção sobre árbitros e fico um pouco baralhado até perceber que a notícia se refere a um ex-presidente do conselho de arbitragem da Federação Portuguesa de Futebol (FPF). O Pinto de Sousa afinal é outro, mas esta coisa dos jornalistas não escreverem devidamente as notícias leva a confusões manifestamente desnecessárias.

20.7.07

A não perder

Ainda a propósito do meu jantar de ontem, falou-se sobre esta música e corri ao You Tube na esperança de a encontrar. Prova superada e aqui está: "Something Stupid" de Frank e Nancy Sinatra, na versão portuguesa "Tu, Só tu" por Simone e Marco Paulo. Um mimo.

A propósito de uma conversa ontem


A Senhora Europeia


A Grande Americana

Ambas Hepburn e ambas estupidamente Magníficas.

19.7.07

O verão anda hesitante por aí


"Taverna by the sea"
Ática, perto de Sounion, Grécia. 1937.
Copyright: Herbert List / Magnum Photos

Aborrecimentos

O dito Quarteto que resolveu reunir-se em Lisboa baralhou a cidade com os esquemas de segurança. Isto de ter de receber gente com a cabeça a prémio, coisas da Presidência Europeia, é uma imensa maçada, pelo que o melhor mesmo é aproveitar os conselhos do Nóbel e passar tudo para os espanhóis, ao menos passam a aborrecer os madrilenos e deixam-nos por aqui em paz.

18.7.07

Ele há gente!

A Presidente da Distrital do PSD de Lisboa – Paula Teixeira da Cruz – achou por bem demitir-se, após longa e ponderada reflexão depois da noite eleitoral que lhe correu de feição. Até estranho que se o tenha feito, pois a senhora parece ter Super Cola 3 nas mãos no que diz respeito ao poder e, tal como fez com a Presidência da Assembleia Municipal, achei que se ia agarrar à Distrital com o tal produto que até colava cientistas ao tecto. Engano, lá se demitiu, mas, e há sempre um mas, não assumiu ainda assim o magnífico resultado do seu partido, pois parece que a culpa afinal não foi dela e, pasme-se, também não foi de Carmona, foi do Presidente da Câmara de Gaia e dos seus seguidores. Mau perder ou falta de espírito democrático?

17.7.07

Coisas da Vida Boa

As novas colecções da Livros Cotovia – Dona Raposa e Raposa Matreira – que se prevê façam chegar à língua portuguesa alguns mestres da literatura inglesa. Waugh (o Evelyn, finalmente traduzido), Mittford e o mais que delicioso P.G. Wodehouse que me acompanhou no último par de dias arrancando-me estridentes, prolongadas e gostosas gargalhadas.

Antes o futebol

Os eleitores que votaram no novo Presidente da Câmara não chegavam para encher o Estádio da Luz, os de Carmona e Roseta juntos excediam em pouco a lotação de Alvalade e os do PSD cabiam à vontade no Estádio do Restelo.

16.7.07

Vitória

António Costa era número dois de um governo eleito com maioria absoluta. Costa candidatou-se contra um PSD esfrangalhado pela polémica com Carmona. Costa surgiu com o élan dos grandes vencedores, bem medido nos apoios que tinha. Costa pediu durante toda a campanha que lhe dessem a maioria absoluta. António Costa acabou por ganhar as eleições com seis vereadores em dezassete. Que grande vitória!

Número que impressiona

António Costa foi eleito com os votos de 10,06% dos votantes inscritos!

Coerência

Depois do atropelamento de Pinto de Sousa a Manuel Alegre, o PS manteve-se coerente e António Costa atropelou ontem a declaração de Helena Roseta. Como diria o insigne Jorge Coelho: quem se mete com o PS leva. Nem mais!

Massas

A grandeza da vitória mobilizadora de Costa esteve bem expressa nos militantes que para a comemorar vieram de Mafra, Cabeceiras de Basto ou Alguidares da Beira.